Você ainda acha que o domingo perfeito é rolar o feed até o polegar doer? Um número crescente de mulheres está desligando as notificações e voltando ao analógico, nem que seja por um dia. O curioso é que esse “retrocesso” está abrindo espaço para avanços bem reais.
O relógio marca 9h07 e a casa está quieta. No sofá, uma mulher dobra o celular num pano de prato e empurra para o fundo da gaveta, como quem esconde chocolate para não cair em tentação. Ela acende uma vela, abre um caderno de capa dura e, com caneta azul, anota três coisas que gostaria de sentir até o fim do dia. *Eu desliguei e, pela primeira vez, ouvi o barulho do meu próprio domingo.* Ela respira, deixa a janela aberta, o vento mexe as folhas. Algo estranho acontece.
Domingos sem feed: o retorno do palpável
Nas últimas semanas, passei a acompanhar grupos de amigas que decidiram instituir o “domingo analógico”. Nada de reels, nada de alerta vermelho piscando. Só sol, panela no fogo, livros emprestados, cartas sem pressa. O que parecia nostalgia virou prática: **voltar ao analógico** virou uma espécie de descanso social, quase um refúgio onde a vida volta a caber nas mãos.
Em São Paulo, encontrei a Janaína, 34, com uma câmera analógica pendurada no pescoço e um bloquinho no bolso. Ela e mais quatro amigas rodam feirinhas, fotografam fachadas antigas, trocam receitas e depois revelam o filme na segunda-feira. “É a nossa rave silenciosa”, ela brinca. Relatórios como os do DataReportal mostram o Brasil entre os países que mais passam horas nas redes. Num cenário assim, reservar um dia off vira ato de cuidado.
O motivo é menos tecnológico e mais humano. O cérebro gosta de começo, meio e fim, só que o feed não termina nunca. Quando a mulher troca a rolagem infinita por um caderno ou uma receita de pão, ela devolve limite para a mente e cria um ritmo que dá segurança. **Descanso mental** não é só dormir. É viver algo que cabe no corpo, que se encerra, que se guarda.
Como fazer seu domingo analógico acontecer
Comece na noite de sábado. Coloque o celular em modo avião e deixe um recado simples no status: “Domingo off. Volto amanhã.” Separe três objetos que pedem duas mãos: um livro emprestado, uma câmera (pode ser descartável), um caderno com páginas em branco. Acorde sem alarme. Café passado devagar. E um micro-ritual: escrever a primeira linha do dia à mão. **Domingo offline** não é regra, é um convite.
Sejamos honestas: ninguém faz isso todo dia. Você vai ter domingos em que a mensagem do trabalho chega, ou uma saudade aperta e o dedo corre para abrir o app. Respira. Volta. Troque metas rígidas por sinais gentis: “uma hora sem tela”, “uma caminhada sem fone”, “duas páginas à mão”. Todo mundo já viveu aquele momento em que parece que o mundo inteiro está te chamando. No domingo analógico, você escolhe quem atende.
Pequenas alianças ajudam. Combine com uma amiga um encontro sem celular à mesa do café ou uma troca de cartas no fim do mês. Crie um espaço na casa onde o digital não entra, nem que seja uma cadeira perto da janela.
“Quando eu guardo o telefone, eu escuto a minha própria voz. Aí entendo o que é saudade de mim”, disse a Iza, 29.
- Ideias simples: fazer pão, reler um diário, visitar um sebo, plantar num vaso, organizar fotos impressas.
 - Gestos de cuidado: desligar notificações, usar despertador analógico, deixar o celular em outra peça da casa.
 - Paradas ativas: escrever uma carta, caminhar sem objetivo, brincar com criança sem fotografar.
 
E se o analógico virar hábito de domingo?
Algo muda na segunda. O corpo leva um pouco da calma, como quem volta de mar e ainda ouve o barulho das ondas no ouvido. A produtividade melhora não pela pressão, mas porque a mente ganhou folga. O que começa com um caderno e uma câmera velha vira uma nova régua para medir o tempo: menos urgência, mais presença. Não é romantização. É prática repetida, cheia de pequenos tropeços.
| Ponto Chave | Detalhe | Interesse do leitor | 
|---|---|---|
| Ritual de sábado à noite | Modo avião + recado simples no status | Começar o domingo já protegido de interrupções | 
| Objetos de duas mãos | Livro, câmera, caderno | Concretizar o “off” com ações táteis | 
| Alianças humanas | Amiga parceira, encontro sem celular, cartas | Facilitar a consistência com apoio real | 
FAQ :
- Domingo analógico significa zero celular?Não. Significa usar com intenção: modo avião por blocos de tempo e nada de rolagem sem fim.
 - O que fazer se o trabalho exige resposta?Defina uma janela curta para checar e responda só o essencial. Volte ao off logo em seguida.
 - Não gosto de escrever à mão. E agora?Tudo bem. Cozinhe, plante, desenhe, faça colagem, organize fotos. O ponto é o gesto físico.
 - Quanto tempo precisa para sentir efeito?Uma hora contínua já muda o humor. Com três horas, muita gente relata leveza e foco na segunda.
 - Vale fazer isso com crianças?Sim. Transforme em jogo: “missão sem tela”. Inventem um caderno de aventuras do domingo.
 


