No auge do verão do hemisfério norte, uma sombra veloz promete mexer com rotas, bolsos e calendários de viagem.
Em 2 de agosto de 2027, um eclipse total do Sol cruzará áreas habitadas da África e do Oriente Médio, com longa janela de observação e clima historicamente favorável. O fenômeno já mobiliza astrônomos, guias e viajantes, que disputam os melhores pontos na faixa de totalidade.
O que vai acontecer no dia 2 de agosto de 2027
Um eclipse total ocorre quando a Lua encobre por completo o disco solar e projeta uma sombra estreita sobre a superfície terrestre. Dentro dessa faixa, o dia escurece e a coroa solar se revela por alguns minutos. Fora dela, o evento aparece apenas como eclipse parcial.
Duração e pico da sombra
O evento de 2027 terá a maior duração sobre terra firme deste século. O ápice ocorrerá nas cercanias de Luxor, no Egito, com totalidade prevista de 6 minutos e 23 segundos. Esse intervalo longo resulta de um alinhamento favorável: a Lua estará próxima do perigeu e o Sol, ainda próximo do afélio anual, o que aumenta o diâmetro aparente lunar e favorece a cobertura total por mais tempo.
Data-chave: 2 de agosto de 2027. Duração máxima em terra: 6 min 23 s, perto de Luxor (Egito). Largura da faixa de totalidade: cerca de 250 km.
Trajetória: por onde a faixa de totalidade vai passar
A sombra principal nascerá no Atlântico, cruzará o Estreito de Gibraltar e seguirá pelo Norte da África e Península Arábica até se dissipar no Índico. Dentro da faixa, a noite cai brevemente; nos arredores, ocorre o parcial, com uma “mordida” visível no disco solar.
Países com totalidade no solo
- Espanha (extremo sul)
- Marrocos
- Argélia
- Tunísia
- Líbia
- Egito
- Sudão
- Arábia Saudita
- Iêmen
- Somália
Modelos de nebulosidade de longo prazo favorecem o Norte da África, com agosto oferecendo muitos dias de céu límpido no deserto. O vale do Nilo, em especial a região de Luxor, costuma registrar visibilidade ampla durante a manhã e o meio-dia.
Se você busca a maior chance de céu aberto, priorize trechos desérticos do Norte da África e áreas próximas ao vale do Nilo.
Horários previstos e o que esperar do céu
O parcial deve começar por volta de 08:00 UTC, dependendo da longitude de cada local. A totalidade começa após 09:00 UTC e dura de alguns minutos até o pico de 6 min 23 s perto de Luxor. O fenômeno completo, do primeiro contato ao último, se prolonga por mais de três horas.
| Fase | Janela aproximada (UTC) | O que você verá |
|---|---|---|
| Parcial começa | ~ 08:00 | Uma “mordida” no Sol; use filtros aprovados |
| Totalidade | ~ 09:00 a 10:00 | Céu escurecido, coroa solar visível, temperatura cai 5–10 °C |
| Parcial termina | ~ 11:00 a 12:00 | O disco solar volta a ficar inteiro |
E o Brasil, vê alguma coisa?
Não. A totalidade e o parcial ocorrerão no hemisfério oriental, fora do alcance visual do território brasileiro. Para acompanhar ao vivo, você terá duas opções: viajar até a faixa de totalidade ou assistir a transmissões de observatórios e agências espaciais.
Brasileiros que quiserem “virar a noite ao meio-dia” precisarão viajar para a faixa de totalidade na África ou no Oriente Médio.
Como escolher o melhor ponto de observação
Clima, acesso e plano B
- Priorize clima seco e histórico de poucas nuvens em agosto, como Marrocos interiorano, deserto do Saara e vale do Nilo.
- Evite vales muito estreitos e encostas que possam projetar sombras indesejadas perto do horizonte do Sol.
- Monte um plano B: uma segunda cidade próxima, conectada por rodovias, para fugir de nuvens no dia.
- Chegue cedo. Engarrafamentos e zonas restritas perto de sítios arqueológicos costumam acontecer.
Segurança: veja sem arriscar a visão
Olhar para o Sol sem proteção causa danos permanentes à retina. Proteja-se em todas as fases parciais e nos momentos antes e depois da totalidade completa.
- Use óculos de eclipse com certificação ISO 12312-2, sem arranhões ou rasgos.
- Nunca use óculos escuros comuns, filmes velados, CDs ou vidros escurecidos improvisados.
- Para binóculos, lunetas e câmeras, instale filtro solar próprio na frente da objetiva.
- Durante a totalidade completa, a observação a olho nu é segura; na volta do primeiro raio, recolocar o filtro imediatamente.
- Prefira métodos de projeção (câmera pinhole, binóculo projetando num papel) para grupos e crianças.
O que a ciência vai medir nessa janela rara
Eclipses longos permitem estudar a coroa solar com maior detalhe, rastrear jatos e plumas coronal, avaliar a cromosfera e registrar flutuações de temperatura e vento na alta atmosfera. Instrumentos no solo e em aeronaves coletam dados que complementam observações espaciais, abrindo espaço para análises de ionosfera, radiofrequência e dinâmica de partículas solares.
Planejamento para viajantes brasileiros
Reserve hospedagem com antecedência nas cidades-alvo da faixa de totalidade. Pesquise exigências sanitárias e de entrada de cada país, além de seguro viagem. Agosto traz calor intenso no Saara e no Egito; hidrate-se, use roupas leves, chapéu e protetor solar. Leve baterias extras, tripé compacto e filtros certificados. Quem pretende fotografar deve testar configurações antes, simulando a mudança brusca de luminosidade.
Glossário rápido para acompanhar a cobertura
- Totalidade: período em que o Sol fica 100% coberto para quem está dentro da faixa estreita da sombra.
- Faixa de totalidade: corredor de cerca de 100–250 km por onde a sombra central avança.
- Coroa solar: camada externa e difusa da atmosfera do Sol, visível apenas na totalidade.
- Perigeu: ponto de maior proximidade da Lua à Terra; aumenta o diâmetro aparente lunar.
- Afélio: período do ano em que a Terra fica um pouco mais distante do Sol; o disco solar aparenta menor tamanho.
Atividades e ideias para quem vai acompanhar à distância
Monte um projetor de orifício com papelão e folha branca para demonstrar como a luz se comporta. Simule a geometria do eclipse com uma lanterna, uma bola pequena e uma bola maior, para visualizar penumbra e umbra. Aplicativos e softwares de simulação ajudam a antecipar horários, altura do Sol e direção da sombra, úteis para planejamento fotográfico e para atividades escolares.
Riscos, vantagens e um roteiro possível
O maior risco está na proteção ocular inadequada e no trânsito em áreas turísticas. A vantagem de 2027 está na combinação de longa totalidade, acesso por aeroportos movimentados e probabilidade elevada de céu limpo. Um roteiro prático para maximizar chances: base em Luxor, com plano alternativo por estrada para cidades vizinhas no vale; ou interior do Marrocos, aproveitando altitudes moderadas e clima seco. Quem busca céu escuro mais profundo pode optar por regiões desérticas afastadas, sempre com água, GPS e veículo em boas condições.


