Sem PIX nos ônibus de Guarulhos: veto de Lucas Sanches cita taxas de 1% a 3% e R$ 4 mi; quem paga?

Sem PIX nos ônibus de Guarulhos: veto de Lucas Sanches cita taxas de 1% a 3% e R$ 4 mi; quem paga?

Em Guarulhos, a disputa por como pagar a passagem saiu dos bastidores e entrou na rotina de quem depende do ônibus. Entre justificativas técnicas e pressa do dia a dia, o passageiro virou peça central de um impasse caro.

O debate ganhou força após a prefeitura barrar a possibilidade de pagar a tarifa com cartões por aproximação e PIX. A decisão contraria uma tendência já consolidada em grandes capitais e reacende a discussão sobre custo, eficiência e quem arca com a conta.

O que mudou e por quê

A Câmara Municipal aprovou um projeto que autorizava o pagamento da passagem municipal com cartões de débito e crédito por aproximação (NFC) e com PIX. O prefeito Lucas Sanches vetou o texto e publicou a decisão no Diário Oficial. A justificativa aponta aumento de despesas para o sistema, não previsto nos contratos com as empresas.

A prefeitura alega taxas bancárias de 1% a 3% por transação e investimento de até R$ 4 milhões em validadores como motivos do veto.

Na prática, a cidade mantém o modelo tradicional de bilhetagem. Enquanto isso, outras praças avançam com o contactless, inclusive com carteiras no celular e relógios, sem necessidade de recarga prévia.

Os números que sustentam o veto

  • Taxas bancárias e das bandeiras: entre 1% e 3% do valor de cada passagem.
  • Adequação dos validadores: troca ou adaptação estimada entre R$ 2 mil e R$ 5 mil por equipamento.
  • Investimento total: de R$ 1,5 milhão a R$ 4 milhões considerando a frota municipal.

No início do ano, a prefeitura mandou pintar a frota nas cores do PL, ao custo próximo de R$ 3 milhões; a medida está sob contestação judicial.

O contraste entre gastos estimados para modernizar a cobrança e despesas recentes com padronização visual alimenta críticas. A gestão argumenta que a bilhetagem envolve contratos, metas de receita e equilíbrio econômico do sistema, o que exigiria fontes claras para cobrir as novas tarifas financeiras.

Quem sente no bolso e no relógio

O veto adia a conveniência que muitos usuários já experimentam em outras cidades. Sem o NFC e o PIX, o embarque continua preso à recarga ou ao dinheiro vivo. Isso custa tempo na fila e reduz alternativas no fim do dia, quando os pontos de recarga fecham.

  • Trabalhadores que fazem jornadas extensas perdem a opção de pagar com o cartão do banco na catraca.
  • Turistas e visitantes têm mais dificuldade sem o pagamento por aproximação.
  • Quem esquece o cartão do transporte fica refém do dinheiro físico e do troco.
  • Usuários de celular com carteiras digitais deixam de usar o aparelho para pagar o ônibus.

Os operadores defendem previsibilidade de receita e menor risco de estornos. Passageiros cobram fluidez e diversidade de meios de pagamento. Sem acordo, a cidade fica no meio do caminho, com tecnologia disponível, mas fora do ônibus.

Como outras cidades resolveram

O pagamento por aproximação já virou realidade em várias regiões do país, com diferentes modelos de operação e divisão de custos. Exemplos recentes mostram caminhos possíveis.

  • São Paulo: ônibus aceitam cartões por aproximação e dispositivos móveis; a modalidade não integra com outros modais.
  • Rio de Janeiro: parte das linhas de ônibus, trens e metrô liberou o contactless.
  • Curitiba: toda a rede de ônibus opera com NFC, incluindo Visa, Mastercard e Elo, além do celular.
  • Goiânia: frota com débito e crédito por aproximação habilitados.
  • Belo Horizonte: pagamento com cartões bancários nas linhas municipais.
  • Recife e Jundiaí: adesão em expansão e ajustes por etapas.

Em geral, as cidades negociam taxas com adquirentes e bandeiras, criam tetos por transação e, em alguns casos, adotam tarifas específicas para essa modalidade. A gestão pública decide se internaliza o custo, se repassa parte ao usuário ou se compensa com receitas acessórias, como publicidade e concessões.

Modelos de financiamento possíveis

Cenário Impacto no passageiro Quem paga
Taxa absorvida pelo sistema Tarifa inalterada; maior comodidade Operador, com eventual reequilíbrio contratual
Tarifa de conveniência Pequeno acréscimo por transação com cartão/PIX Usuário que optar pela facilidade
Parceria com bancos/bandeiras Descontos promocionais e migração rápida Instituições financeiras subsidiam parte
Fase piloto por linhas Teste controlado em corredores-chave Custo diluído e métricas de desempenho

O que a Câmara ainda pode fazer

O veto não encerra a discussão. Os vereadores podem pautar a apreciação e derrubar a decisão com maioria qualificada, conforme o regimento local. Se a Câmara rejeitar o veto, o projeto volta para promulgação. Caso contrário, arquiva-se a proposta e os autores podem reapresentar novo texto com ajustes.

Parlamentares costumam exigir estudos de impacto, fontes de financiamento e prazos realistas de implementação. Esse material ajuda a calibrar tarifa, contratos e metas de qualidade. Sem isso, a disputa fica no campo político e o passageiro continua sem alternativa na catraca.

O que você pode fazer agora

  • Planeje a recarga com antecedência, especialmente aos fins de semana.
  • Verifique pontos físicos de recarga e aplicativos do sistema municipal de bilhetagem.
  • Mantenha um valor de emergência no cartão de transporte para evitar filas e falta de troco.
  • Guarde comprovantes de recarga; eles ajudam em contestação de débito e falhas de validação.

NFC, PIX e o ônibus: o que esperar

A tecnologia NFC permite pagamento instantâneo por aproximação, com cartão, celular ou relógio. Na bilhetagem, o validador reconhece o token do seu cartão e autoriza a viagem. O PIX, por sua vez, pode funcionar via QR dinâmico no validador ou por aproximação, se a rede habilitar. Os dois caminhos facilitam a vida de quem não quer recarregar o cartão de transporte.

Operadores costumam citar risco de estorno, conectividade embarcada e custo por transação. Esses pontos têm solução técnica: regras antifraude, autorização offline limitada e negociação de MDR em volumes de alto tráfego. Cidades que adotaram a tecnologia relatam embarque mais ágil e redução de atrito no pagamento.

Com taxa negociada, piloto por etapas e metas de qualidade, o sistema pode ganhar velocidade sem repassar custo indevido ao usuário.

Para avançar, Guarulhos precisa decidir como dividir a conta. Uma simulação simples ajuda a visualizar: com taxa média de 2% e tarifa hipotética de R$ 5, cada pagamento custaria R$ 0,10 ao sistema. Em troca, o operador captura passageiros ocasionais que hoje desistem por falta de recarga e reduz fricção no embarque. A equação envolve volume, eficiência e política tarifária.

Enquanto o impasse segue, quem usa o ônibus enfrenta mais uma incerteza no trajeto. O debate sobre tecnologia de pagamento não trata apenas de máquinas e taxas; trata de tempo, previsibilidade e acesso. E disso, o passageiro precisa todos os dias.

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