Contas pressionadas, inspeções em alta e um risco silencioso nos postes. A região convive com perdas, medo e um impacto real.
Na área de Presidente Prudente, fraudes em medidores e ligações clandestinas voltaram ao radar. A Energisa elevou as inspeções, confirmou irregularidades e mapeou desvios que afetam diretamente quem paga a fatura em dia. O problema deixa rastro no sistema elétrico e no orçamento das famílias.
O tamanho do desvio e quem paga por ele
Entre janeiro e outubro, a concessionária confirmou 1.124.646 kWh desviados nos 24 municípios do Oeste Paulista. O volume alimentaria mais de 6 mil famílias por um mês. A cifra em reais passa de R$ 985 mil, valor que não some: ele reaparece diluído na tarifa de todos os consumidores regulares.
1.124.646 kWh desviados em 10 meses e prejuízo acima de R$ 985 mil recaem sobre quem paga em dia.
Esse repasse acontece porque a regulação do setor elétrico permite socializar as chamadas perdas não técnicas. Em outras palavras, o furto e as fraudes viram custo e entram no cálculo tarifário. Você, consumidor adimplente, sente o efeito no fim do mês.
Comparativo recente
O ritmo de fiscalização cresceu e os números ajudam a entender a tendência.
| Ano | Inspeções | Irregularidades confirmadas | Energia desviada (kWh) |
|---|---|---|---|
| 2024 | 1.900 | 278 | 1.070.121 |
| 2025 (até outubro) | 3.000+ | 284 | 1.124.646 |
A oscilação no número de ocorrências não elimina a dimensão do problema. A quantidade total de energia desviada avançou e se mantém suficiente para sustentar milhares de lares por um mês.
Como o “gato” acontece e por que isso afeta você
Os casos mais comuns envolvem intervenção direta na rede, com puxadas clandestinas, e adulteração de medidores. O objetivo é simple: registrar menos do que se consome. O efeito vai além do furto. A carga cresce sem planejamento, provoca aquecimento de cabos e pode derrubar a qualidade do fornecimento do bairro inteiro.
Fraude sobrecarrega a rede, aumenta a chance de interrupções e cria risco de incêndio na vizinhança.
Quem paga corretamente também perde. A legislação distribui as perdas na conta de todos. Isso significa que mesmo consumidores eficientes, que adotam lâmpadas de LED e controlam o ar-condicionado, carregam parte do custo das fraudes alheias.
Risco à vida e ao patrimônio
Ligações improvisadas expõem moradores, pedestres e eletricistas a choque elétrico. Em contato com estruturas metálicas ou árvores, podem originar curto-circuito e provocar incêndios. Em áreas rurais, fios clandestinos cruzando cercas e galpões aumentam o perigo para animais e trabalhadores.
O que a Energisa tem feito
A concessionária intensificou vistorias e aponta três frentes principais: inspeção em campo, análise de dados para identificar padrões anômalos e substituição de medidores suspeitos.
- Inspeções direcionadas por análise de consumo e perdas em trechos específicos da rede;
- Identificação e retirada de puxadas clandestinas com apoio de equipes de manutenção;
- Regularização de unidades consumidoras e cobrança do uso não faturado quando comprovado;
- Ações educativas em bairros com reincidência e orientação sobre riscos e penalidades.
Os dados mais recentes mostram efeito dessas ações: mais inspeções, irregularidades confirmadas e recuperação de energia desviada. O cerco técnico aumenta, mas a fiscalização não alcança tudo sem apoio da vizinhança.
Como reconhecer sinais e denunciar com segurança
Alguns indícios podem apontar para fraude nas proximidades. O recomendado é observar, registrar e acionar os canais corretos. Nunca toque na rede.
- Fios extras conectados antes do medidor ou em postes próximos;
- Medidor com lacre rompido, visores opacos ou fiação exposta;
- Oscilações frequentes de tensão no quarteirão sem causas aparentes;
- Equipamentos potentes funcionando de forma contínua com consumo declarado muito baixo;
- Cheiro de queimado próximo à entrada de energia ou aquecimento incomum de cabos.
Denuncie de forma anônima: 0800-7010-326. Não se aproxime da fiação e não tente retirar ligações.
A denúncia anônima ajuda a direcionar equipes e a reduzir o risco para a comunidade. Fraude de energia configura crime e pode gerar cobrança retroativa, multa, processo penal e corte de fornecimento após a regularização técnica.
Quanto vale 1,124 milhão de kWh no seu cotidiano
O número impressiona porque concentra consumo que normalmente se espalha por milhares de lares. Em termos práticos, esse volume cobre o uso mensal de mais de 6 mil famílias, considerando um perfil residencial típico. Casas com geladeira, chuveiro elétrico, iluminação e um ar-condicionado podem responder por boa parte dessa conta.
Se a sua fatura disparou recentemente, verifique padrão de consumo, idade de equipamentos e possíveis vazamentos elétricos, como resistência de chuveiro queimada. Evite soluções milagrosas e aparelhos que prometem “redução imediata” de consumo. A maior parte desses dispositivos não tem comprovação técnica e pode danificar a instalação.
Estratégias legais para reduzir sua conta
- Substitua lâmpadas fluorescentes por LED e ajuste a temperatura do ar-condicionado para 23 °C a 24 °C;
- Programe o uso de máquinas de lavar para horários menos quentes e com carga completa;
- Avalie a tarifa branca se você consegue deslocar consumo para fora dos picos;
- Considere geração própria com fotovoltaica em telhado ou consórcios de energia, quando viável.
O que esperar nos próximos meses
Com a sequência de inspeções, a tendência é reduzir perdas e recuperar parte do prejuízo. A adoção de medidores inteligentes e o cruzamento de dados de consumo por trecho da rede devem acelerar a identificação de ligações irregulares. Drones e câmeras térmicas ajudam a detectar aquecimentos anormais em cabos, geralmente associados a sobrecarga e “gatos”.
Para quem mora nas 24 cidades da região, a participação da vizinhança faz diferença. Ao sinal de risco, evite a intervenção direta. Fotos à distância e endereço preciso agilizam a resposta. O objetivo é simples: diminuir interrupções, reduzir acidentes e evitar que sua conta carregue custos que não pertencem ao seu consumo.
Perguntas que você pode tirar com a sua distribuidora
- Solicitar histórico detalhado de consumo para identificar mudanças atípicas;
- Pedir vistoria no padrão de entrada quando houver aquecimento ou ruídos;
- Entender como perdas não técnicas afetam a sua tarifa local;
- Informar quedas ou oscilações recorrentes que podem indicar sobrecarga por fraudes na área.
Mais fiscalização, tecnologia e denúncia anônima formam o tripé para reduzir o “gato” e proteger sua conta.


