Da lancheira à mesa do jantar, a latinha que muitos de nós guardamos na despensa voltou ao centro das atenções.
Um painel de especialistas provou, às cegas, oito marcas de sardinha em óleo vendidas no Brasil e reacendeu uma pauta cara ao nosso dia a dia: o que define uma boa latinha, qual entrega mais sabor e qual rende mais pelo que você paga. A seguir, critérios, resultados e dicas práticas para você decidir sem arrependimentos.
O teste: como e por que
As amostras foram compradas como qualquer consumidor faria, em grandes redes e empórios da capital paulista, sem aviso às marcas. O júri avaliou aparência, textura, aroma, sal e sabor, sempre com as latas sem rótulo. Os preços se referem à segunda quinzena de outubro de 2025.
Integridade do peixe, pele presente e ponto de cozimento correto pesaram tanto quanto sal e aroma.
Critérios que pesam no garfo
- Textura: firme, úmida, sem esfarelar.
- Aspecto: filés íntegros, brilho equilibrado, pouca quebra no óleo.
- Sabor: sal ajustado, sem amargor final nem gosto metálico.
- Aroma: neutro ou suave, sem cheiro forte de peixe.
- Pele e espinha: pele ajuda na textura e sabor; a espinha pode ser consumida, especialmente em preparos amassados.
Quando o óleo mostra muitos resíduos, a sardinha geralmente passou do ponto antes de ser enlatada.
Quem foi melhor no garfo
Top 3 na prova cega
A campeã foi a portuguesa Ramirez, que agradou pelo equilíbrio geral e pela carne íntegra. Entre as nacionais, Coqueiro e Pescador ficaram coladas, com bom sabor e visual bem cuidado. Veja o retrato resumido do desempenho e do bolso:
| Marca | Preço (R$) | Peso drenado (g) | Custo por 100 g drenados (R$) | Impressão do júri |
|---|---|---|---|---|
| Ramirez | 14,70 | 88 | 16,70 | Textura precisa, sal equilibrado, aroma discreto, filés brilhantes e inteiros. |
| Coqueiro | 5,99 | 75 | 7,99 | Firme, aspecto íntegro, sabor redondo e aroma neutro. |
| Pescador | 5,79 | 75 | 7,72 | Boa medida de sal, visual limpo e sem escama solta. |
| Bon Apetit | 16,40 | 84 | 19,52 | Careceu de sabor; presença de escamas incomodou. |
| Gomes da Costa | 5,89 | 75 | 7,85 | Aspecto mediano; resíduos de salmoura atrapalharam, mas sal bem ajustado. |
| Nautique | 3,49 | 84 | 4,16 | Textura esponjosa e visual opaco; leve amargor no final. |
| 88 | 5,49 | 75 | 7,32 | Textura ok, mas faltou personalidade no sabor. |
| Robinson Crusoé | 5,99 | 84 | 7,13 | Visual brilhante, sal correto; retrogosto levemente amargo. |
Óleo, azeite ou manteiga: o que muda
A maioria no supermercado vem em óleo, o que reduz o preço e garante oferta ampla. Versões em azeite tendem a destacar o sabor do peixe, enquanto algumas marcas apostam em manteiga para um perfil mais untuoso. Se o objetivo é usar as sardinhas em saladas frias, o azeite conversa melhor. Para refogar com molho de tomate ou para macarrão, as enlatadas em óleo funcionam muito bem.
Como escolher bem na prateleira
- Agite levemente a lata: muito resíduo no óleo indica peixe quebradiço.
- Prefira latas com informação de peso drenado clara; é isso que chega ao prato.
- Sal: verifique a tabela nutricional se você controla sódio.
- Procure sardinhas com pele; elas tendem a ficar mais firmes e saborosas.
- Validade e lote: quanto mais próximo da safra de inverno no Atlântico sul, maior chance de peixe gordo.
Ideias práticas para o seu dia
Receitas rápidas que funcionam
- Salada de macarrão: maionese leve, tomate, azeitona e cebola roxa com sardinha desfiada.
- Tomate + batata: junte alcaparras, salsa e um fio do próprio óleo da lata.
- Torrada de fermentação natural: tomate amassado, sardinha em lascas e pimenta-do-reino.
- Guacamole à portuguesa: abacate, cebola, coentro e sardinha picada para dar corpo.
- Cuscuz paulista e torta de liquidificador: a latinha entra como protagonista.
Sardinha já vem cozida e pasteurizada. Isso ajuda na praticidade e favorece preparos frios e quentes.
Nutrição, segurança e uso consciente
A sardinha é fonte relevante de ômega-3, cálcio (especialmente quando você amassa e consome as espinhas) e proteínas de alto valor biológico. Se você monitora sódio, drene o líquido e, se preferir, passe rapidamente os filés em água corrente antes de usar. Essa prática reduz sal, mas também leva parte dos lipídios aromáticos; ajuste o tempero na receita.
Ao escolher entre óleo e azeite, considere o preparo. Para refogar, o óleo da lata pode ir direto à panela e carregar sabor. Para pratos frios, use o conteúdo drenado e finalize com azeite novo e ácido (limão ou vinagre) para equilibrar a gordura natural do peixe.
E o bolso? o que rende mais
Preço por lata nem sempre conta a história inteira. O peso drenado mostra quanto produto sólido você recebe. Pelos números coletados, a Nautique aparece como a opção mais barata por 100 g drenados, enquanto a Ramirez lidera no conjunto da obra, mas custa mais que o dobro por 100 g em relação às nacionais Coqueiro e Pescador. Se você busca melhor relação custo-sabor, Coqueiro e Pescador entregam consistência e preço competitivo. Para uma experiência mais refinada, a portuguesa Ramirez vale como escolha ocasional.
Detalhes que elevam o resultado
- Acidez: um toque de limão ou vinagre corta gordura e realça doçura natural do peixe.
- Temperos: pimenta-calabresa, páprica defumada e ervas frescas (salsa, coentro) sobem o nível sem esforço.
- Textura: misture a sardinha só no final para evitar que desmanche.
- Armazenamento: após abrir, transfira para pote fechado, cubra com azeite e mantenha refrigerado por até dois dias.
Para ir além da latinha
Quer variar? Faça um escabeche rápido com cebola, louro e vinagre e use a sardinha enlatada como base, repousando por 30 minutos antes de servir. Outra ideia é assar batatas em rodelas, cobrir com sardinha, tomate e azeitona, levar ao forno alto por 10 minutos e finalizar com salsinha. Você ganha praticidade sem abrir mão de sabor.
Se o objetivo é nutricional, monte um prato com folhas escuras, grãos (feijão-fradinho ou grão-de-bico) e sardinha drenada. Essa combinação equilibra proteína, fibra e gordura boa e sustenta o almoço de quem vive na correria.


