STJ manda volta de vereador primo do prefeito em São Bernardo: adega, R$ 14 mi e seu voto em risco?

STJ manda volta de vereador primo do prefeito em São Bernardo: adega, R$ 14 mi e seu voto em risco?

Movimentos no STJ mexem com a política do ABC e reordenam forças locais, com impacto direto na Câmara e na Prefeitura.

O Superior Tribunal de Justiça revogou o afastamento do vereador Danilo Lima de Ramos, primo do prefeito Marcelo Lima, e determinou o retorno dele ao mandato em São Bernardo do Campo. A medida parte de um pedido de extensão de habeas corpus já concedido a outro alvo da mesma investigação e reacende a disputa pelo comando político na cidade.

Decisão do STJ e retorno de Danilo Lima

O ministro Reynaldo Soares da Fonseca, do STJ, atendeu ao pedido da defesa e aplicou ao vereador Danilo o mesmo entendimento concedido a Ary José de Oliveira (PRTB), também investigado. Para o magistrado, as situações são análogas e não há prova concreta de que o exercício do mandato tenha servido como instrumento para os supostos crimes atribuídos pela Polícia Federal.

Com isso, o presidente da Câmara reassume o cargo, de onde havia sido afastado por decisão judicial no contexto da Operação Estafeta. A corte já havia revisado medidas contra o prefeito Marcelo Lima, o que pesou como precedente.

STJ reconheceu analogia entre os casos, afastou o risco atual à investigação e liberou o retorno ao mandato.

Na prática, a volta de Danilo recoloca o Legislativo municipal no centro das articulações e altera a aritmética de votações sensíveis, como comissões e agendas de fiscalização de contratos.

O que muda na Câmara de São Bernardo

  • Recomposição imediata da Mesa Diretora com o presidente de volta ao comando.
  • Redefinição de comissões permanentes e especiais que estavam sob interinidade.
  • Ritmo diferente na análise de auditorias e requerimentos ligados a contratos municipais.
  • Reorganização de blocos partidários e negociações para pautas orçamentárias.

Quem é Danilo Lima

Danilo Lima (Podemos) está no segundo mandato e foi o vereador mais votado na última eleição municipal, com 9.853 votos. Ele presidiu a Câmara entre 2021 e 2024 e voltou a ser eleito para comandar a Casa neste ano. Formado em Processos Gerenciais pela FGV, atuou em 2017 na Secretaria de Serviços Urbanos, como diretor do Departamento de Veículos e Equipamentos, durante a gestão Orlando Morando.

O elo familiar e político com o prefeito Marcelo Lima, primo do vereador, sempre pautou leituras sobre a correlação de forças locais. A decisão do STJ testa esse vínculo mais uma vez no plano institucional.

Como a operação estafeta chegou aos políticos

As apurações da PF avançaram após a apreensão de valores em espécie com um servidor ligado à Alesp, Paulo Iran. Segundo a investigação, os agentes encontraram R$ 583.300 no carro dele e, em uma sala no mesmo prédio, R$ 12.278.920 e US$ 156.964. As mensagens analisadas indicaram proximidade com agentes políticos do ABC e pagamentos de despesas associadas a autoridades e familiares.

Trocas de mensagens atribuídas a investigados fazem referência à entrega de R$ 60 mil em dinheiro em uma adega da cidade, em julho de 2024. Os diálogos também citam repasses em espécie dentro do prédio da Câmara.

R$ 14 milhões em espécie e conversas sobre valores em uma adega acenderam o alerta da PF para rotas de dinheiro vivo.

A ação policial cumpriu 20 mandados de busca e apreensão e quebras de sigilos bancário e fiscal em São Paulo, São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá e Diadema. O servidor apontado como operador do esquema segue com mandado de prisão expedido.

Personagem Cargo Situação atual Ponto-chave
Danilo Lima Presidente da Câmara (Podemos) Retorna ao mandato por decisão do STJ Extensão de HC; ausência de prova do uso do cargo para crime
Marcelo Lima Prefeito (Podemos) Afastamento revisto; restrições flexibilizadas Desproporcionalidade do afastamento e esgotamento de diligências
Ary José de Oliveira Suplente/vereador (PRTB) Beneficiado por HC anterior Base jurídica para extensão a Danilo
Paulo Iran Servidor da Alesp Investigado; foragido Apreensão de R$ 14 milhões e US$ 156,9 mil

E o caso de Marcelo Lima

Em decisão anterior, o ministro Reynaldo Soares da Fonseca considerou desproporcional manter o prefeito afastado por longo período sem condenação. O STJ liberou o retorno ao cargo e flexibilizou medidas como recolhimento noturno e restrição de deslocamento, mantendo a proibição de contato com investigados. O Tribunal de Justiça de São Paulo foi orientado a reavaliar as cautelares locais.

“Cassação judicial temporária do mandato” sem base legal — expressão usada pelo STJ ao criticar um ano de afastamento do prefeito.

A auditoria de contratos conduzida pela vice-prefeita Jessica Cormick segue em fase final, e deve alimentar futuras deliberações na Câmara, agora com Danilo de volta ao comando.

Próximos passos na investigação

  • Consolidação de laudos periciais e relatórios de auditoria sobre contratos públicos.
  • Eventual denúncia do Ministério Público com base nos elementos colhidos.
  • Defesas buscarão novas revisões de medidas cautelares e delimitação do escopo probatório.
  • Calendário legislativo pode absorver CPIs ou comissões temáticas para dar transparência.

Entenda o que é a extensão de habeas corpus

Quando o tribunal concede habeas corpus a um investigado, pode estender os efeitos a outros na mesma situação fática e jurídica. A defesa precisa comprovar que os fundamentos coincidem. No caso de São Bernardo, o STJ entendeu que as decisões de afastamento tinham motivação genérica, sem demonstrar como o mandato teria viabilizado crimes, e aplicou a mesma proteção a Danilo.

Esse mecanismo traz previsibilidade para processos complexos: evita decisões contraditórias e corrige excessos cautelares. Não arquiva a investigação nem impede a produção de prova, mas limita medidas consideradas desnecessárias ou desproporcionais.

O que observar como eleitor de São Bernardo

O retorno do presidente da Câmara e a reabilitação do prefeito rearranjam o jogo político às vésperas de votações orçamentárias. Acompanhar reuniões, presença em plenário e posicionamentos em auditorias ajuda a medir o compromisso com integridade e eficiência.

Uma prática útil é comparar relatórios de auditoria com a agenda legislativa. Se contratos sob suspeita forem renovados sem justificativa técnica, cresce o risco fiscal. Por outro lado, reforço de controles internos, transparência nas licitações e metas verificáveis podem reduzir custos e pressionar fornecedores a entregar mais por menos.

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