A operação nos complexos da Penha e do Alemão reacendeu debates sobre medo, confiança nas instituições e o peso da segurança no voto.
A pesquisa Genial/Quaest, feita presencialmente com 1.500 fluminenses de 16 anos ou mais, entre 30 e 31 de outubro, captou um quadro contraditório. A sensação de insegurança cresceu, enquanto a avaliação do governador Cláudio Castro avançou com força.
O que mudou após a megaoperação
O levantamento indica que a aprovação de Cláudio Castro subiu de 43% em agosto para 53% após a operação. A desaprovação recuou de 41% para 40%, e os que não sabiam avaliar caíram de 16% para 7%. No recorte específico de “segurança pública”, a avaliação positiva do governo estadual saltou de 22% para 39%, enquanto a negativa caiu de 45% para 34% e a regular passou de 33% para 27%.
A aprovação de Cláudio Castro avançou 10 pontos, apesar de mais da metade dos entrevistados relatar sentir menos segurança nas ruas.
| Indicador | Agosto | Após operação | Variação |
|---|---|---|---|
| Aprovação de Cláudio Castro | 43% | 53% | +10 |
| Desaprovação de Cláudio Castro | 41% | 40% | -1 |
| Não sabe/Não respondeu (governo Castro) | 16% | 7% | -9 |
| Governo Castro na segurança: positivo | 22% | 39% | +17 |
| Governo Castro na segurança: negativo | 45% | 34% | -11 |
| Governo Castro na segurança: regular | 33% | 27% | -6 |
| Aprovação de Lula no RJ | 37% | 34% | -3 |
| Desaprovação de Lula no RJ | 62% | 64% | +2 |
Sensação de segurança vai na direção oposta
Quando questionados sobre o efeito da operação no dia a dia, 52% disseram que o Rio ficou menos seguro. Outros 35% perceberam mais segurança. Um grupo de 13% não soube responder. O dado revela o paradoxo do momento: aprovação política em alta convivendo com medo persistente nas ruas.
- 52% dizem que o Rio está menos seguro; 35% afirmam mais seguro; 13% não sabem.
- 53% avaliam que o governo federal não tem ajudado os estados no combate às facções; 24% veem ajuda pequena; 14% veem ajuda grande.
- Na segurança pública, 60% avaliam a atuação federal como negativa; 22% a classificam como regular; 18% como positiva.
Levantamento Genial/Quaest: 1.500 entrevistas presenciais, entre 30 e 31 de outubro, com moradores do RJ de 16 anos ou mais.
O que o eleitor percebeu como motivação da ação
A maioria dos entrevistados atribuiu a operação ao objetivo de combater o crime organizado, e não a uma tentativa de ganho de popularidade. Essa leitura ajuda a explicar por que a imagem do governo estadual melhorou, mesmo sem uma percepção imediata de ruas mais seguras.
Para a maioria, a operação mirou o crime organizado, não marketing político.
O governo federal na berlinda
O humor do eleitor fluminense em relação a Brasília segue crítico. A desaprovação ao governo Lula no estado subiu de 62% para 64%, e a aprovação caiu de 37% para 34%. Na avaliação específica da segurança pública, 60% classificaram a atuação federal como negativa.
A sensação de abandono na cooperação com os estados aparece com nitidez: 53% afirmam que o governo federal não ajuda no combate às facções, 24% veem ajuda pequena e 14% dizem que a colaboração é grande.
Por que a segurança impulsionou a imagem de Castro
Operações de grande visibilidade tendem a comunicar ação e controle. Quando o público interpreta a motivação como legítima, o governante colhe ganhos políticos, ainda que os efeitos práticos levem tempo para aparecer. No caso do Rio, o eleitor sinalizou confiança no enfrentamento ao crime, mas manteve a cautela quanto ao impacto imediato na sua rotina.
Esse cenário sugere duas camadas de opinião. Em uma, predomina a aprovação da postura do governo estadual. Em outra, resiste a percepção de risco no território, o que pode recuar ou avançar conforme os indicadores criminais e a continuidade das ações.
O que acompanhar daqui para frente
Para entender se o movimento nas pesquisas se consolidará, vale observar dados objetivos e o sentimento local nos bairros mais afetados.
- Taxas de homicídios, roubos de rua e de veículos.
- Letalidade policial e feridos em operações.
- Apreensões de armas, prisões de lideranças e desarticulação de rotas.
- Retorno de serviços públicos e circulação de transporte em áreas sensíveis.
- Sensação de segurança medida por pesquisas de vitimização.
Metodologia e limites de interpretação
O estudo foi feito cara a cara, com questionários estruturados, entre 30 e 31 de outubro, e divulgado em 2 de novembro. Pesquisas com cerca de 1.500 entrevistas costumam registrar margem de erro próxima de três pontos percentuais em amostras estaduais e nível de confiança de 95%. Resultados próximos à margem pedem cautela na leitura de tendências.
O campo ocorreu logo após a megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão. Esse timing capta o efeito imediato do evento. Opiniões podem mudar com novas operações, variações nos indicadores criminais e a narrativa dos governos.
Cenários práticos para o leitor
Se você mora em áreas impactadas, monitore a oferta de serviços e a rotina de circulação. Mudanças consistentes na mobilidade e nos horários de comércio tendem a sinalizar melhora do ambiente. Ao mesmo tempo, ganhos políticos podem retroceder se a criminalidade migrar, se a violência aumentar ou se falhar a coordenação entre estado e União.
Para quem acompanha política, a combinação de aprovação em alta com sensação de insegurança sugere uma disputa de narrativas. A administração estadual pode consolidar o impulso se entregar resultados mensuráveis. O governo federal precisa reduzir o déficit de percepção na segurança com ações coordenadas, recursos e metas claras.


