Um redemoinho de vitrines, cheiros de café e conversas de calçada ainda reúne vizinhos, curiosos e famílias inteiras num mesmo endereço.
No Boqueirão, o Super Centro Boqueirão atravessa gerações e segue atraindo quem gosta de garimpar, comparar preços e reencontrar conhecidos. O espaço nasceu antes dos shoppings da região e preserva um traço raro: corredores ao ar livre que formam um percurso labiríntico, com muitas histórias em cada esquina.
O labirinto que virou rotina
São 16 entradas espalhadas pelas ruas Oswaldo Cruz, Lobo Viana e Álvares de Azevedo. O desenho induz a caminhada sem pressa. O visitante vira uma esquina, encontra um novo corredor e, de repente, se vê diante de outra porta para a cidade. Muita gente usa o local como atalho entre quadras do bairro.
O conjunto ocupa 5.500 m², com 140 estabelecimentos e 205 boxes. Lojas de tecidos convivem com conserto de chave, costura, eletrônicos, presentes e cafés. Bancos ao sol convidam à pausa. O Wi‑Fi gratuito fideliza quem trabalha pelo celular e precisa resolver tarefas em poucos minutos.
Mais de 5.500 m², 140 lojas e 16 entradas compõem o quebra-cabeça urbano mais tradicional de Santos.
| Fundação | 15 de setembro de 1965 |
| Área | 5.500 m² |
| Lojas e serviços | 140 estabelecimentos |
| Boxes | 205 |
| Entradas | 16 |
| Ruas de acesso | Oswaldo Cruz, Lobo Viana e Álvares de Azevedo |
| Projeto | Arquiteto Sérgio Bernardes |
| Fundadores | Jorge Mathias, Ruy de Moraes Barros, José Maria Soares Novaes e Paulo de Oliveira |
A ideia que antecedeu os shoppings
O empreendimento foi idealizado por quatro amigos com um objetivo claro: consolidar o comércio do Boqueirão. O arquiteto Sérgio Bernardes propôs um térreo aberto, com passagens integradas ao bairro, para aproximar lojistas e consumidores. O resultado lembra um mercado de rua permanente, com sombra, ventilação e pontos de encontro.
Criado em 1965, o Super Centro Boqueirão é apontado como o centro de compras mais antigo da América Latina.
Primeiros anos e a guinada
Os primeiros tempos pediram fôlego. Para atrair público, lojistas criaram em 1967 o bloco carnavalesco Unidos do Super Centro Boqueirão. As apresentações fecharam ruas, chamaram atenção da imprensa e deram visibilidade ao endereço. Outro empurrão veio com o rumor de extinção das feiras livres. Muitos feirantes migraram e compraram boxes, ampliando a oferta de alimentos e utilidades.
Relatos da época lembram que, antes da obra, o terreno abrigou a garagem do Expresso Brasileiro. A construção começou em 1963. No dia da inauguração, cordões de luzes ornamentaram as ruas vizinhas. A festa consolidou o espaço como referência para quem morava por perto.
Do bloco Unidos do Super Centro ao papagaio Fred: memórias que fazem parte da identidade do bairro.
Marcas que resistem e criam laços
Algumas casas atravessaram décadas sem perder a conexão com a vizinhança. Bazar Lina se destaca entre os mais antigos. Encanto Magazine mantém atendimento familiar e acompanha mudanças de estilo entre mães, filhas e netas. Essas lojas ajudam a transmitir hábitos de compra e serviço que passam de geração para geração.
Gente da cidade costuma ir “só pegar um botão” e sai com material de costura, pilhas e uma conversa que atualiza a vida do bairro. O comércio não vive apenas de preço. Vive de vínculo. Quem cresceu por ali lembra do papagaio Fred, das tartarugas e dos peixes nas fontes dos jardins. Nas redes do passado, a comunidade “Eu me perco no Super Centro do Boqueirão!” virou declaração de carinho.
- Proximidade: resolve pequenas compras sem deslocamentos longos.
- Variedade: mistura de serviços rápidos e produtos de nicho.
- Convivência: bancos, cafés e sombra para uma pausa curta.
- Conectividade: Wi‑Fi gratuito para quem estuda ou trabalha.
- Tradição: atendimento que reconhece rostos e hábitos do bairro.
Concorrência e reinvenção
A partir de 1977, o Shopping Parque Balneário inaugurou uma nova etapa no varejo de Santos. Na sequência vieram Miramar e Praiamar. O Super Centro, porém, conservou uma identidade própria. O conjunto funciona como rua coberta, com circulação de ar, luz natural e entradas em múltiplas faces. Essa formulação urbana mantém a área viva durante o dia e reduz a sensação de enclausuramento típica de corredores fechados.
Ao invés de correr atrás de modismos, muitos lojistas apostaram no essencial do cotidiano: ajuste de roupas, chaveiro, presentes, papelaria, utilidades domésticas e pequenas guloseimas. A combinação cria fluxo constante, ainda que discreto, e sustenta empregos locais.
Memórias que viraram folclore
Perder o rumo faz parte da experiência. Muita gente assume que usa as vitrines como bússola. Outros escolhem um café como ponto de encontro para não “sumir” no vaivém. Essa cartografia afetiva, construída a partir de referências simples, molda a forma como o espaço é vivido.
Como aproveitar a visita sem se perder
Defina um objetivo por etapa. Mapear as entradas ajuda na volta para casa. Combine um ponto fixo com quem estiver junto. Calçado confortável faz diferença em corredores com idas e vindas. Leve dinheiro e cartão, pois alguns boxes trabalham com alternativas de pagamento. Use o Wi‑Fi para salvar fotos de itens e comparar depois com calma.
- Melhores horários: manhã de dias úteis para compras rápidas; sábado para passear com a família.
- Referências de navegação: escolha uma entrada principal e marque um café como base.
- Compras planejadas: faça uma lista por categorias e evite percorrer o mesmo corredor duas vezes.
- Acessibilidade: priorize entradas com menor desnível e corredores mais largos.
- Segurança cotidiana: circule em áreas movimentadas e mantenha itens pessoais próximos ao corpo.
Roteiro rápido para diferentes perfis
Famílias com crianças: comece por um lanche, siga por lojas de papelaria e finalize em presentes. Defina encontros em intervalos de 20 minutos.
Quem trabalha pelo celular: sente nos bancos, use o Wi‑Fi para enviar arquivos, pegue um café e siga para serviços de impressões.
Garimpo de preço: percorra duas rotas paralelas do mesmo setor e compare etiquetas antes de decidir. Fotografe códigos para checar estoque depois.
Por que o desenho labiríntico funciona
Arquitetos chamam esse tipo de proposta de arquitetura de fluxo. O traçado multiplica encontros, reduz trajetos retilíneos e gera descobertas por acaso. Para o pequeno varejo, isso aumenta a chance de visita espontânea. Para o público, oferece variedade em percurso curto.
Há riscos. O passeio estende o tempo de exposição a vitrines e pode estimular compras por impulso. Uma tática simples resolve: estabelecer um teto de gasto e anotar cada item adquirido. O benefício maior aparece no final do mês, quando a conta fecha sem susto.
Dado histórico que ainda move a vizinhança
O Super Centro nasceu numa época de crescimento urbano e virou um símbolo de pertencimento. Lojas abertas ao térreo conectam quem passa a pé, de bicicleta ou de ônibus. A experiência diária mantém o comércio de bairro vivo e segura renda dentro da própria comunidade. A cada geração, novas rotas se formam, mas a lógica permanece: caminhar, conversar, comprar o necessário e, vez ou outra, se perder de propósito.


