Moradores de Santo André: rocha rara a 52 m na futura Linha 20-Rosa vai mudar seu trajeto?

Moradores de Santo André: rocha rara a 52 m na futura Linha 20-Rosa vai mudar seu trajeto?

Uma perfuração recente em Santo André trouxe à tona um detalhe inesperado no subsolo. Técnicos correm contra perguntas do público.

As sondagens para a futura Estação Portugal, em Santo André, identificaram uma formação rochosa incomum para os padrões da capital. O Metrô assegura que o achado não altera o cronograma da Linha 20-Rosa. Profissionais de engenharia, porém, avaliam a possibilidade de ajustes de custo e planejamento conforme os estudos avançam.

O que foi achado sob a avenida Portugal

Os levantamentos geológicos detectaram rochas metamórficas — micaxistos, gnaisses e milonitos — a cerca de 46 a 52 metros de profundidade no eixo previsto da estação. Esse pacote litológico difere do subsolo mais típico encontrado na cidade de São Paulo e surpreendeu até especialistas habituados à análise de solo no ABC.

Metamórficas são rochas que passaram por altas pressões e temperaturas. Elas podem alternar camadas duras e mais frágeis, formar planos de foliação e apresentar trechos muito abrasivos. Essa combinação exige soluções construtivas calibradas, mas integra o repertório de obras subterrâneas modernas.

Formações metamórficas entre 46 e 52 metros exigem método adequado, mas não significam pausa no cronograma.

O que muda para você, passageiro

Para quem depende do transporte diário, o recado oficial é de continuidade. Mesmo assim, o subsolo diferente pode influenciar etapas preparatórias e o dia a dia do entorno.

  • Sondagens adicionais e instrumentação no bairro para mapear com precisão o comportamento do terreno.
  • Definição do tipo de tuneladora e de ferramentas de corte, o que pode intensificar testes antes do início efetivo da escavação.
  • Planos de controle de vibração e ruído nos períodos de obra, com comunicação prévia aos moradores.
  • Logística de remoção do material escavado e organização de canteiros com maior cuidado operacional.
  • Monitoramento de edificações vizinhas e redes enterradas, com protocolos de segurança reforçados.

Por que o Metrô diz que não haverá atraso

O Metrô afirma que o achado entra no fluxo normal de um projeto dessa escala. Primeiro vêm os estudos geológicos e geotécnicos; depois, o Projeto Básico incorpora os dados e aponta técnicas, equipamentos e soluções de engenharia. Esse processo alimenta a licitação com informações suficientes para reduzir incertezas e padronizar exigências do edital.

Segundo a companhia, o mapeamento se estende por toda a linha para orientar métodos de escavação, dimensionar revestimentos de túneis e definir parâmetros de segurança. A profundidade das rochas e sua natureza metamórfica, embora atípicas para o padrão paulistano, não configuram obstáculo técnico fora do comum para tuneladoras modernas.

Dados de campo viram diretrizes no Projeto Básico: método certo, ferramenta certa, risco sob controle.

Como as tuneladoras lidam com rochas duras

As máquinas de escavação — os “tatuzões” — permitem configurações específicas para diferentes solos, trocando discos de corte, ajustando pressão e velocidade e variando o tipo de escudo.

Desafio observado Resposta técnica prevista
Abrasividade elevada Discos de corte reforçados e planos de manutenção com trocas programadas
Heterogeneidade do maciço Controle fino de pressão no frente de escavação e variação de torque
Fraturas e possível infiltração Injeções de calda cimentícia e selagem preventiva
Vibração no entorno Velocidades reduzidas em trechos críticos e monitoramento em tempo real
Remoção do material escavado Esteiras e logística dedicada para não travar o avanço da tuneladora

O que falta para as obras começarem

A Linha 20-Rosa ainda está na fase que antecede a contratação das obras. Falta cumprir um roteiro conhecido pelos grandes projetos.

  • Concluir sondagens, ensaios e modelagens geotécnicas.
  • Fechar o Projeto Básico com métodos de escavação, traçado executivo e custos estimados.
  • Obter licenças ambientais e aprovações setoriais.
  • Lançar a licitação e escolher o consórcio construtor.
  • Implantar canteiros, mobilizar equipamentos e iniciar frentes de serviço.

Impacto regional e números da Linha 20-Rosa

A futura linha prevê 24 estações ligando Santo André à Lapa e capacidade estimada para cerca de 1,4 milhão de passageiros por dia. Trata-se da primeira expansão do Metrô além dos limites da capital, com potencial de reorganizar fluxos entre ABC e zonas oeste e central.

O traçado tende a redistribuir demanda de ônibus e aliviar eixos viários congestionados, encurtando deslocamentos casa–trabalho. O comércio de bairros atendidos costuma ganhar vitalidade no período pós-obra, enquanto o poder público precisa mitigar transtornos temporários de circulação durante a construção.

Com 24 estações e demanda projetada de 1,4 milhão/dia, a Linha 20-Rosa redesenha a mobilidade entre ABC e São Paulo.

Perguntas que ainda precisam de resposta

  • Quando o edital trará cronograma detalhado de cada trecho?
  • Qual será a estratégia de desapropriação, onde necessária, e de reassentamento?
  • Como serão medidos ruído e vibração em escolas, hospitais e prédios históricos?
  • Que metas de desempenho e penalidades constarão do contrato para garantir prazos?
  • Quais mecanismos de transparência e atualização pública de custos e marcos de obra?

Guia rápido para entender o jargão

  • Micaxisto: rocha metamórfica com alto teor de mica, foliada, corta-se em lâminas.
  • Gnaisse: rocha metamórfica bandada, alterna minerais claros e escuros, muito resistente.
  • Milonito: rocha triturada por deformação intensa, comum em zonas de falha.
  • Sondagem: perfuração de pequeno diâmetro para coletar amostras e medir propriedades do solo.
  • Projeto Básico: documento que define método construtivo, materiais e estimativas de custo.
  • Tuneladora (TBM): máquina que escava túneis com escudo, discos de corte e sistemas de remoção.

Para além da geologia: como a vizinhança pode participar

Moradores e comerciantes podem solicitar reuniões com as equipes de engenharia para entender fases de obra no quarteirão. Canais oficiais informam datas de intervenções viárias, horários de serviços e medidas de mitigação. Registrar eventuais danos e vibrações, com fotos e datas, ajuda em processos de vistoria.

Quem vive próximo do eixo do túnel pode acompanhar laudos de monitoramento disponibilizados pelo poder público. Relatórios mensais com índices de ruído e vibração permitem comparar parâmetros e cobrar ajustes quando necessários. Participar de audiências públicas ajuda a refinar rotas de caminhões e horários de operação.

Risco, custo e benefício: o que esperar

Trechos com rochas metamórficas pedem discos mais robustos e manutenção planejada, o que tende a encarecer etapas específicas de escavação. Em contrapartida, a estabilidade do túnel em maciços competentes costuma ser superior, com menor necessidade de reforços extensivos. O balanço final depende da extensão do trecho rochoso e da eficiência da logística de obra.

Para o usuário, o benefício esperado está no ganho de tempo e previsibilidade. Uma linha que conecta o ABC à zona oeste reduz baldeações e pressiona menos o sistema de ônibus. Com método certo e planejamento transparente, a surpresa geológica vira apenas mais uma variável controlada de um projeto metropolitano que precisa entregar mobilidade com segurança e constância.

Leave a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *