Vaga de R$ 1.800 das 14h às 22h em doceria de ex-MasterChef: você aceitaria esse trabalho em SP?

Vaga de R$ 1.800 das 14h às 22h em doceria de ex-MasterChef: você aceitaria esse trabalho em SP?

Uma polêmica nas redes reacende discussões sobre salários na cozinha profissional, custos de São Paulo e transparência em vagas.

Uma confeitaria ligada à vencedora do MasterChef Brasil 2021 virou alvo de críticas após a divulgação de uma vaga de auxiliar de cozinha. O anúncio menciona salário de R$ 1.800, jornada das 14h às 22h, na Barra Funda, e não detalha benefícios. A reação do público chegou ao perfil da marca, com questionamentos sobre remuneração e condições.

O que motivou a reação

Publicações no Instagram apontam a Scherbi’s, doceria de Isa Scherer, como origem do anúncio. Internautas consideram a proposta abaixo do esperado para o custo de vida da capital paulista, sobretudo pela ausência de informações sobre benefícios. Também houve críticas ao suposto apagamento de comentários negativos.

R$ 1.800, das 14h às 22h, Barra Funda, sem benefícios divulgados. A falta de clareza virou o centro da controvérsia.

Cargo Auxiliar de cozinha
Local Barra Funda, zona oeste de São Paulo
Horário 14h às 22h
Salário R$ 1.800
Benefícios Não informados no anúncio

Até o momento, Isa Scherer e a marca não se manifestaram publicamente. Em situações semelhantes, empresas costumam revisar a comunicação da vaga, esclarecer se há pacote de benefícios e, em alguns casos, ajustar valores.

O que a lei garante ao trabalhador

A CLT estabelece base para contratação, mas muitos itens dependem da convenção coletiva do setor e do sindicato local. Vale-transporte é obrigatório quando o empregado precisa se deslocar, com desconto máximo de 6% no salário. Vale-refeição ou vale-alimentação não são obrigatórios por lei, salvo se a convenção coletiva exigir ou se a empresa aderir por política interna.

Jornada, intervalos e adicionais

  • Jornada: 44 horas semanais costumam ser a referência. O horário de 14h às 22h soma 8 horas por dia, e pede intervalo de no mínimo 1 hora quando a jornada ultrapassa 6 horas.
  • Adicional noturno: começa às 22h em áreas urbanas. Como a jornada termina nesse horário, só haveria adicional se houvesse extensão para além das 22h.
  • Horas extras: devem ser pagas com adicional de ao menos 50% em dias úteis e 100% em domingos e feriados, quando aplicável.
  • Insalubridade: pode existir em cozinhas, mas depende de laudo técnico e das condições reais do posto (calor, produtos químicos, ventilação).
  • FGTS, férias e 13º: fazem parte do regime CLT e precisam constar no contrato.

As convenções de bares, restaurantes e similares em São Paulo trazem pisos por função e regras sobre gorjetas, caixas de equipe e escalas. Esses documentos variam, por isso candidatos e empregadores precisam verificar a convenção vigente do sindicato da base territorial.

Quanto paga o mercado para auxiliar de cozinha

Levantamentos em plataformas de emprego na capital paulista mostram ofertas frequentes entre R$ 1.700 e R$ 2.400 para auxiliar de cozinha, a depender do porte do negócio, do turno e dos benefícios embutidos. Quando a empresa oferece vale-transporte, alimentação e participação em gorjetas, a remuneração total costuma ficar mais competitiva do que o salário-base sugere. Sem benefícios, a conta pesa no fim do mês.

Faixa comum nas vagas públicas da cidade: algo entre R$ 1,7 mil e R$ 2,4 mil, com forte impacto dos benefícios.

Outro fator que influencia é a localização. Regiões com deslocamento longo encarecem o dia a dia. Turnos vespertinos e noturnos, quando incluem domingos e feriados, tendem a pagar mais pelo regime de escala e adicionais.

O peso da transparência para marcas e influenciadores

Quando um anúncio omite pontos sensíveis, o debate migra para as redes e toma a conversa. Em negócios assinados por figuras públicas, a cobrança por coerência cresce. O público espera alinhamento entre a imagem da marca e a prática de gestão de pessoas.

Como evitar crise em anúncio de vaga

  • Informar salário, benefícios e regime (CLT, intermitente ou estágio).
  • Descrever jornada, escala, intervalo e política de horas extras.
  • Explicar se há alimentação no local, vale-refeição, vale-transporte e uniforme.
  • Apontar a convenção coletiva aplicável e o piso da função.
  • Estabelecer canal de dúvidas e prazo para resposta.
  • Treinar equipe de mídias para responder críticas sem apagar comentários legítimos.

Como você pode avaliar a proposta

Uma maneira prática é transformar salário-base em renda líquida estimada e descontar custos de transporte e alimentação, principalmente quando não há benefícios declarados. Veja um exemplo hipotético para 22 dias trabalhados no mês.

Simulação simples de bolso

  • Salário-base: R$ 1.800.
  • INSS (alíquota de entrada): cerca de 7,5% sobre a faixa inicial.
  • Vale-transporte: desconto máximo de 6% se a empresa fornecer o benefício.
  • Gastos diários sem benefícios: se o transporte custar R$ 12 e a refeição R$ 25, o total diário vai a R$ 37.
  • Custo mensal estimado com 22 dias: R$ 814.

Com esses números aproximados, a sobra diminui rápido. Se houver refeição no local, a conta melhora. Se existir gorjeta mensal recorrente, o cenário muda. Pergunte tudo antes da entrevista final.

Perguntas objetivas para levar à entrevista

  • Há vale-transporte e como funciona o desconto?
  • Existe alimentação no local ou vale-refeição? Qual o valor por dia?
  • A função recebe gorjetas, caixinha ou bonificação por metas?
  • Qual a escala semanal e como são pagas as horas extras?
  • Há adicional por insalubridade? Existe laudo técnico?
  • Qual a convenção coletiva aplicada e o piso do cargo?
  • Quais são os equipamentos de proteção, quem fornece e como é feita a manutenção?

O que pode acontecer a partir de agora

Sem posicionamento oficial, o caso permanece aberto. A marca pode atualizar a descrição da vaga, esclarecer benefícios e rever a política salarial à luz da convenção coletiva. Um ajuste de comunicação tende a reduzir tensões, especialmente quando inclui respostas públicas e dados verificáveis.

Para pequenos negócios da gastronomia

Organizar o custo de mão de obra ajuda a evitar ruídos: simule a folha com todos os encargos, mapeie o piso da categoria e planeje benefícios que reduzam a rotatividade. Pagar de forma previsível e explicar a composição da remuneração melhora o recrutamento, reduz ausências e evita retrabalho na cozinha.

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