Piracicaba quer multar quem doa marmitas: você pagaria R$ 3 mil sem cadastro, tenda e mesas?

Piracicaba quer multar quem doa marmitas: você pagaria R$ 3 mil sem cadastro, tenda e mesas?

Uma proposta mexeu com quem se mobiliza para alimentar pessoas nas ruas de Piracicaba e levantou dúvidas entre cidadãos e ONGs.

O debate ganhou força após avançar na Câmara Municipal e impor novas rotinas para ações solidárias. O texto descreve etapas, papéis dos órgãos públicos e punições para quem descumprir as regras.

Projeto avança e divide a cidade

Um projeto de lei da Prefeitura de Piracicaba foi aprovado em primeira votação e retorna ao plenário para decisão final. A proposta organiza a entrega de alimentos a pessoas em situação de vulnerabilidade, condicionando a atividade a autorizações, limpeza de área, cadastro prévio e estrutura mínima.

Multa inicial prevista: R$ 3 mil por descumprimento. Reincidência dobra o valor e impede o doador por três anos.

O texto atinge pessoas físicas e entidades. A prefeitura defende que quer dar segurança, padronizar processos e coibir riscos sanitários. Entidades de direitos humanos e conselhos de segurança alimentar afirmam que o projeto burocratiza a solidariedade e pode reduzir o alcance das ações.

Quem votou e como o placar ficou

Primeira discussão na câmara

Vereadores a favor Vereadores contra Ausentes
Gustavo Pompeo, Renan Leandro Paes, Alessandra Bellucci, Fábio Henrique Silva, Josef Borges, Zezinho Pereira, Paraná, Pedro Kawai, Thiago Ribeiro, André Bandeira, Wagner Oliveira, Ary Pedroso Júnior, Paulo Henrique Gesiel Alves Maria, Silvia Maria Morales, Raimunda Ferreira de Almeida Felipe Gema, Edson Bertaia, Laércio Trevisan Júnior, Rerlison Rezende, Marco Bicheiro

Para virar lei, o projeto precisa de nova aprovação e, depois, sanção do prefeito.

O que muda para quem ajuda nas ruas

O texto vincula a entrega de alimentos à rede municipal de assistência. Beneficiários devem constar em cadastro da Secretaria de Assistência, Desenvolvimento Social e Família. Doadores, pessoas físicas ou entidades, precisam protocolar pedidos e cumprir etapas específicas.

Principais exigências para entidades

  • Registro formal e documentação atualizada, com identificação de dirigentes e comprovações.
  • Autorização prévia de Obras e de Assistência Social, com integração aos programas existentes.
  • Cadastro de voluntários junto à assistência social e identificação com crachá nas ações.
  • Estrutura de apoio na entrega: tenda, mesas, cadeiras, talheres, guardanapos e limpeza antes e depois.
  • Plano de distribuição com locais, datas, horários, quantidade de alimentos e equipe envolvida.
  • Cumprimento de regras sanitárias e autenticação documental em cartório ou atestado técnico.

Principais exigências para pessoas físicas

  • Autorização de Obras e de Assistência Social antes de cada frente de entrega.
  • Plano simples com local, data e participantes cadastrados na assistência social.
  • Estrutura mínima e limpeza completa do espaço utilizado.
  • Respeito às normas sanitárias durante preparo, transporte e distribuição.

As autorizações têm validade anual e precisam de renovação após o prazo.

Sem autorização e plano aprovado, a entrega de marmitas pode gerar multa de R$ 3 mil já na primeira abordagem.

Críticas de entidades de direitos e de segurança alimentar

A Comissão de Direitos Humanos da OAB local classificou a iniciativa como um retrocesso no cuidado com quem passa fome. O conselho municipal de segurança alimentar relatou falta de diálogo com o poder público e sugeriu um protocolo de boas práticas em vez de lei punitiva.

A ajuda direta a quem tem fome foi apontada como expressão de solidariedade e cidadania ativa, a ser incentivada e não inibida.

As entidades alertam para risco de retração das redes de apoio, que complementam políticas públicas e respondem com velocidade a demandas emergenciais.

O que diz a prefeitura

O Executivo afirma que pretende qualificar as ações, impedir distribuição de alimentos impróprios e preservar a higiene nos pontos de entrega. O discurso oficial reforça que a proposta não proíbe doações, mas busca organizar fluxos, evitar sobreposição de atividades e aproximar voluntários dos serviços de reinserção social.

Segundo a justificativa, a medida pretende fortalecer o combate à vulnerabilidade e ampliar segurança e transparência nas doações.

Quanto custa descumprir

  • Primeira autuação: R$ 3 mil.
  • Reincidência: multa em dobro.
  • Descredenciamento: três anos sem autorização para atuar.

Os valores e sanções valem para pessoas físicas e entidades. O município promete fiscalização em campo e checagem documental.

Onde essa proposta se encaixa no arcabouço legal

O Brasil tem norma federal que estimula a doação de alimentos, com responsabilidade compartilhada entre doadores e receptores, inclusive para excedentes próprios para consumo. A lei nacional dá diretrizes de segurança, mas cada cidade pode editar regras complementares sobre uso de espaço público, ordenamento urbano e vigilância sanitária.

O desafio é calibrar o controle sem estrangular iniciativas locais. Excesso de barreiras pode reduzir a capilaridade da assistência civil, que cumpre papel expressivo em realizar entregas onde o Estado demora a chegar.

O que muda no dia a dia de quem doa

Passo a passo para evitar multas

  • Defina o ponto de entrega e solicite autorização à Secretaria de Obras para o uso do espaço.
  • Protocole pedido na assistência social com datas, horários, estimativa de público e plano de distribuição.
  • Liste e cadastre voluntários; leve identificação na ação.
  • Monte estrutura mínima e leve kit de limpeza para a zeladoria do local.
  • Registre preparo e transporte dos alimentos conforme boas práticas sanitárias.
  • Guarde cópias das autorizações no celular e impressas para apresentar à fiscalização.

Planejamento prévio, registro dos voluntários e adequação sanitária reduzem riscos de autuação durante a distribuição.

Perguntas que o leitor deveria fazer antes de doar

  • O grupo ou pessoa responsável tem autorização vigente e plano aprovado?
  • Os beneficiários estão conectados à rede de assistência para acesso a outros serviços?
  • O ponto escolhido evita conflito com eventos ou operações públicas na região?
  • Existe canal para queixas e ajustes rápidos caso surja problema sanitário ou de segurança?

Informações úteis para ampliar o impacto

Quem pretende continuar ajudando pode combinar doações com ações de saúde e encaminhamento para serviços sociais, como emissão de documentos, abrigamento e programas de qualificação. Pequenos ajustes logísticos geram ganho real: cardápios com alimentos estáveis, embalagens adequadas para transporte, caixas térmicas limpas e etiquetas com data e ingredientes para atender pessoas com restrições alimentares.

Vale também mapear rotas com menor exposição ao sol, manter estoque de água potável e montar escala curta de preparo para reduzir risco de contaminação. Parcerias com restaurantes, feiras e padarias ampliam o volume de refeições e reduzem custos, desde que todo excedente apto ao consumo passe por triagem e acondicionamento correto.

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