São Paulo vira a chave climática com mobilidade limpa, plantio de árvores e metas apertadas rumo à COP30.
Em cerimônia no Hub Green Sampa, a capital recebeu da ONU o reconhecimento como cidade modelo em sustentabilidade urbana. O selo chegou durante o workshop “Rumo à COP30: Conectando Cidades e Natureza”, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. A decisão mira resultados tangíveis já em curso: ônibus elétricos integrados à rede, caminhões de lixo movidos a biometano e plantio expressivo de árvores.
Selo da ONU e o que muda para você
O documento destaca um trio de frentes que já mexe com o cotidiano: a expansão da frota elétrica na SPTrans, a coleta de resíduos com combustíveis menos poluentes e o aumento da cobertura vegetal. Segundo a gestão municipal, há 981 ônibus elétricos registrados hoje, com a marca de 1.000 veículos nas ruas prestes a ser atingida, 200 caminhões operando com biometano e 120 mil novas árvores plantadas. A prefeitura também fala em 54% do território com vegetação, indicador que reforça a leitura de cidade-esponja frente a eventos extremos.
Certificação da ONU reconhece resultados práticos: 981 ônibus elétricos, 200 caminhões a biometano e 120 mil árvores plantadas.
No radar de investimentos, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente contabiliza R$ 40 bilhões em ações somadas, com quase R$ 7 bilhões em financiamentos direcionados à eletrificação do transporte coletivo.
Metas, gargalos e a lei que aperta
O selo chega junto de uma cobrança real. A cidade não entregou a meta de 2,6 mil ônibus elétricos até dezembro de 2024, prevista no Plano de Metas 2021–2024. Em novembro de 2025, a frota em operação se aproxima de 1.000 unidades, o que representa cerca de 8,5% do total de mais de 12 mil ônibus. A legislação local determina ainda que, em 2038, nenhum ônibus municipal emita CO₂ fóssil. O relógio corre.
O principal entrave é infraestrutura. Garagens ainda carecem de adequações elétricas, e a rede de distribuição precisa de upgrades de tensão para suportar recargas simultâneas em escala. A proibição de compra de ônibus a diesel desde 17 de outubro de 2022 pressionou a renovação; como a eletrificação não acompanhou o ritmo, a idade máxima da frota foi estendida de 10 para 13 anos.
| Indicador | Meta/lei | Situação em 2025 | Observação |
|---|---|---|---|
| Ônibus elétricos | 2.600 até dez/2024 | ~1.000 em nov/2025 | 38,5% da meta; 8,5% da frota |
| Emissões de CO₂ | Zerar até 2038 | Diesel ainda predominante | Risco de descumprimento legal |
| Compra de diesel | Proibida desde 17/10/2022 | Idade máxima subiu a 13 anos | Renovação mais lenta |
| Rede de trólebus | 150 km ativos | VLT previsto no centro | Debate sobre manter e integrar |
Corredores verdes saem do papel
A estratégia mais promissora para acelerar ganhos ambientais está nos corredores de alta demanda. O eixo Nove de Julho–Santo Amaro vai inaugurar o projeto de “corredor verde” com ônibus 100% elétricos de grande capacidade, paradas com energia solar, drenagem de água de chuva e ampliação de jardins ao longo do traçado. Esse corredor atende cerca de 700 mil passageiros por dia, área onde a redução de poluentes tende a ser mais perceptível por concentrar fluxo e emissões.
A cidade já encomendou superarticulados de 22 a 23 metros, projetados para quase 200 passageiros, com câmeras no lugar de espelhos e gestão energética aprimorada. O primeiro lote anunciado tem 60 veículos, com produção local de carroceria e fornecimento de chassis elétricos. Há novos contratos em fase de entrega e planejamento para 2026, ampliando a oferta para outros eixos.
Corredores verdes atacam onde a poluição mais pesa no seu dia a dia e entregam impacto rápido com menos veículos.
Armazenamento de energia para recarga
Para contornar a limitação da rede, duas viações vão instalar sistemas BESS (Battery Energy Storage System). Os módulos armazenam energia ao longo do dia e liberam carga rápida na madrugada, como um “no-break gigante”. Seis unidades, com 4,5 MWh cada, podem abastecer 120 ônibus por ciclo. A solução reduz a dependência de upgrades imediatos de tensão e protege a recarga em caso de apagões. A implantação foi pactuada sem custos diretos ao caixa municipal, com fornecimento tecnológico internacional e parceria com um operador de energia.
Trólebus, VLT e o caminho do meio
A discussão mais sensível envolve o futuro da rede de trólebus, com 150 km de fiação que interligam várias regiões. O plano de implantar um VLT de 16 km no centro reacendeu o debate: especialistas propõem coexistência e integração, inclusive com veículos híbridos de captação em movimento, conhecidos como E-Trol ou In Motion Charging. Esse arranjo combina operação com catenária em trechos e baterias em outros, economizando peso e espaço interno.
Por que a tecnologia híbrida ganha força
- Operação flexível entre rede aérea e bateria.
- Custo até 30% menor que modelos apenas a bateria.
- Menos baterias, menor peso, mais eficiência e área útil para passageiros.
- Aproveitamento da infraestrutura já instalada nas ruas.
- Recarga em movimento, com baixa necessidade de eletropostos nas garagens.
- Demanda menor por reforços de alta tensão na rede de distribuição.
Biometano como ponte para descarbonização
Os 200 caminhões de lixo a biometano representam um ganho concreto na coleta de resíduos. A prefeitura avalia incluir ônibus a biometano na nova fase de metas, rebatizada para “menos poluentes” entre 2025 e 2028. Esse combustível tem origem renovável e reduz material particulado e óxidos de nitrogênio quando comparado ao diesel. Ainda assim, há emissões. A legislação que exige transporte livre de CO₂ até 2038 coloca o biometano como solução transitória, útil para metas intermediárias e para rotas onde a rede elétrica ainda não comporta a troca total.
Onde a cidade avançou
- Certificação internacional da ONU com foco em resultados verificáveis.
- 981 ônibus elétricos cadastrados e marca de 1.000 veículos em vias urbanas prestes a ser atingida.
- 200 caminhões de coleta movidos a biometano em operação.
- 120 mil novas árvores e ampliação de áreas verdes em eixos de transporte.
- Investimentos ambientais somados de R$ 40 bilhões, com quase R$ 7 bilhões para eletrificação dos ônibus.
- Corredor verde Nove de Julho–Santo Amaro com frota de grande capacidade e infraestrutura sustentável.
- Instalação de BESS para acelerar recarga sem sobrecarregar a rede.
O que falta para chegar lá
O próximo passo pede cronograma público de reforços na rede, por bairro e por garagem, pactuado com a distribuidora. Padronização de conectores, interoperabilidade entre marcas e metas de disponibilidade ajudam a acelerar a adoção. Linhas troncais devem seguir priorizadas, com ônibus de maior capacidade em eixos de maior demanda. Biometano cumpre papel de transição onde a eletricidade não chega no curto prazo. Novas linhas de crédito, garantias e securitização de receitas operacionais podem reduzir custo de capital para operadores.
Vale acompanhar indicadores mensais de emissão por corredor, pontualidade de recarga e idade da frota. O leitor pode observar mudanças perceptíveis: menos ruído, diminuição de fumaça em pontos-chave e melhoria do conforto térmico em paradas com sombreamento e painéis solares. Projetos-piloto com E-Trol em corredores já eletrificados testam uma solução de custo menor e implantação rápida.


