USP revela: seu café perde força antioxidante com leite? 8 preparos testados mostram o que escolher

USP revela: seu café perde força antioxidante com leite? 8 preparos testados mostram o que escolher

Seu ritual matinal pode estar enganando seu paladar e seu corpo, dependendo de escolhas simples ao preparar o café.

Uma pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP, apresentada em conferência da FAO em Roma, investigou como ingredientes comuns e o método de preparo alteram a ação antioxidante do café filtrado. Os testes compararam versões com e sem cafeína e a adição de leite e açúcar, revelando diferenças que mudam o que chega ao seu organismo.

O que a pesquisa da USP avaliou

As pesquisadoras analisaram oito preparos de café filtrado, variando cafeína, leite e açúcar. O foco recaiu sobre compostos fenólicos e outras moléculas com potencial de neutralizar radicais livres. A equipe usou filtro de papel, hábito majoritário nas casas brasileiras, e avaliou como cada combinação afeta a disponibilidade desses compostos no líquido final.

O estudo ganhou holofotes ao ser apresentado na 14ª Conferência Internacional de Dados Alimentares da FAO. O trabalho reforçou o papel do café brasileiro na ciência e no prato do dia a dia: por aqui, a bebida lidera como fonte alimentar de antioxidantes.

Resultado central: café puro com cafeína concentrou mais antioxidantes; leite reduziu mais que açúcar, que mostrou queda discreta.

Como o preparo mexe com os antioxidantes

O café reúne polifenóis — com destaque para os ácidos clorogênicos — e melanoidinas formadas na torra. Esses compostos agem em diferentes frentes contra o estresse oxidativo. Quando você muda o preparo, muda também como eles se comportam no corpo.

O leite entra na xícara com proteínas que se ligam aos fenólicos. Essa interação pode limitar a absorção e reduzir a atividade antioxidante medida nas amostras. Já o açúcar, quando aquecido no processo, forma compostos que também exibem atividade antioxidante, o que ameniza parte da perda observada ao adoçar.

A cafeína, além de estimular, contribui para o perfil antioxidante. Nas comparações, as versões com cafeína renderam maior concentração total desses agentes do que as descafeinadas, ainda que o descafeinado mantenha boa parte dos polifenóis.

Se a prioridade é potencial antioxidante, a ordem de escolha favorece o café puro com cafeína, sem adições.

O papel do filtro de papel

O filtro de papel segura frações do café, inclusive uma parcela de compostos antioxidantes. Em contrapartida, retém diterpenos como cafestol e kahweol, associados ao aumento do LDL. Para quem tem alteração de colesterol, essa retenção vira vantagem. O equilíbrio entre perfil lipídico e antioxidantes depende de contexto clínico e objetivos pessoais.

Oito preparos na prática: o que muda na xícara

Preparo Tendência antioxidante Observações
Puro com cafeína (filtrado) Maior Combina polifenóis, melanoidinas e cafeína.
Puro descafeinado (filtrado) Alto Mantém polifenóis; perde contribuição direta da cafeína.
Com açúcar e cafeína Intermediário-alto Queda discreta frente ao puro; açúcar aquecido gera compostos com ação antioxidante.
Com leite e cafeína Intermediário Proteínas do leite se ligam a fenólicos e reduzem a disponibilidade.
Com leite e açúcar (cafeína) Intermediário-baixo O açúcar suaviza parte da redução causada pelo leite, mas o total ainda cai.
Descafeinado com açúcar Intermediário Perfil semelhante ao com cafeína, porém sem o reforço da cafeína.
Descafeinado com leite Menor Dupla ação: menos cafeína e ligação de proteínas aos fenólicos.
Descafeinado com leite e açúcar Menor O efeito do açúcar não compensa a queda causada pelo leite.

Como ajustar seu ritual sem perder prazer

  • Prefira o café puro quando buscar maior ação antioxidante no dia a dia.
  • Se adoçar, adicione pequenas quantidades. Adoçar na água quente muda o perfil final mais do que adoçar na xícara fria.
  • Use filtro de papel se você precisa cuidar do colesterol. Se esse não for seu caso, métodos como coador de pano, prensa francesa ou metal fornecem outro perfil sensorial e químico.
  • Mantenha água entre 92 °C e 96 °C e moagens adequadas para extrair compostos de forma consistente.
  • Ajuste a proporção café/água entre 1:15 e 1:17 para equilibrar sabor e extração.
  • Teste beber primeiro uma xícara pura; se sentir falta de doçura, adoce depois. A percepção muda com o hábito.
  • Se usar bebida vegetal, saiba que a interação com fenólicos varia conforme a proteína (soja, aveia, amêndoa). O efeito não é igual ao do leite bovino.

Quanto de cafeína cabe no seu dia

Adultos saudáveis costumam tolerar até 400 mg de cafeína por dia. Em média, uma xícara de 150 ml de café filtrado oferece de 80 mg a 120 mg, dependendo do grão e do preparo. Gestantes e pessoas sensíveis costumam limitar a 200 mg diários. Distribuir as xícaras ao longo do dia reduz picos de estímulo e melhora o sono.

Regra simples: 2 a 4 xícaras de 150 ml de café filtrado atendem a maioria dos adultos, sem ultrapassar limites comuns.

Fatores que também pesam na sua xícara

O tipo de grão, a altitude e o solo influenciam o teor de ácidos clorogênicos. Torras claras preservam mais desses ácidos; torras escuras formam mais melanoidinas, que também atuam como antioxidantes. O balanço final não é trivial: escolha o perfil que combina com seu paladar e metas pessoais.

Moagens muito finas elevam a extração e podem intensificar compostos amargos; moagens muito grossas subextraem e empobrecem a xícara. A constância na moagem ajuda a manter resultados comparáveis ao longo da semana.

Leite, açúcar e o momento de adicionar

Adicionar leite direto ao café quente favorece interações entre proteínas e polifenóis. Quem gosta de cremosidade pode reduzir a quantidade de leite e priorizar cafés mais frescos, moídos na hora, que preservam o aroma e pedem menos adição. Adoçar durante o aquecimento da água com açúcar cria compostos diferentes do que adoçar na xícara; o efeito antioxidante pode variar com o ponto de calor.

Para quem busca benefícios sem abrir mão do prazer

Se você tem foco em saúde cardiometabólica, o filtro de papel ajuda a reduzir diterpenos ligados ao LDL. Se o objetivo passa por sensorial e corpo mais denso, métodos sem papel entregam óleos e sólidos em maior proporção. Combine isso com um consumo moderado e horários que não atrapalhem o sono.

Quem precisa cortar cafeína encontra bom caminho no descafeinado. Ele mantém boa parcela de polifenóis, funciona melhor puro ou com mínima adição de açúcar, e pode compor a rotina noturna. Para o lanche, frutas e oleaginosas acompanham bem e somam antioxidantes sem interferir tanto na absorção quanto o leite.

Dicas adicionais para o seu dia a dia

Rotatividade de grãos ao longo do mês amplia o espectro de compostos bioativos na dieta. Alternar entre arábicas de regiões diferentes e lotes com torra variada fornece experiências sensoriais e perfis químicos distintos. Se você costuma tomar café junto com refeições ricas em lácteos, teste separar a xícara por 30 a 60 minutos para minimizar interações entre proteínas e fenólicos.

Para quem adoça, especiarias como canela e cardamomo trazem percepção de doçura com menos açúcar total. Já cremes prontos e “whiteners” ultraprocessados podem adicionar gorduras e aditivos que não interessam a quem busca qualidade nutricional — ler o rótulo evita surpresas. Ajuste pequeno, ganho concreto: a xícara certa para você começa na escolha do preparo e termina no que você decide colocar, ou não, dentro dela.

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