Você está seguro: 10 toneladas de drogas e até 70 fuzis por mês saem da Penha e do Alemão hoje

Você está seguro: 10 toneladas de drogas e até 70 fuzis por mês saem da Penha e do Alemão hoje

Uma megaoperação parou a Zona Norte. O silêncio nas ruas deu lugar ao barulho de helicópteros. Comerciantes fecharam. Deslocamentos foram cortados.

Enquanto a rotina virava de cabeça para baixo, a Polícia Civil descreveu um centro nervoso do crime com alcance nacional. As investigações apontam os complexos da Penha e do Alemão como polos de distribuição de armas e entorpecentes, com impacto direto na vida de quem mora no Rio e em outros estados.

O que as investigações apontam

Segundo o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, a facção Comando Vermelho transformou a Penha e o Alemão em uma base estratégica ao longo dos últimos 15 anos. O crescimento começou após a ocupação de 2010, quando as áreas deixaram de abrigar apenas o comando regional e passaram a influenciar células pelo país.

Penha e Alemão funcionam como centro de distribuição de drogas e fuzis para favelas do Rio e para outros estados.

As informações de inteligência ligam o fluxo de drogas e armas a outras comunidades do estado, como Salgueiro, Jacarezinho, Maré, Manguinhos e Mandela. A rede abastece mercados locais, fortalece as células e expande o alcance da facção em regiões estratégicas.

Números que chamam atenção

Os dados apresentados por Curi são duros e mensuráveis.

Chegam cerca de 10 toneladas de drogas por mês, além da circulação de 50 a 70 fuzis para grupos aliados.

Esses volumes sustentam o comércio em diversas áreas do Rio e alimentam operações criminosas em outros estados. A logística envolve rotas variadas dentro da capital, com reservas em áreas de difícil acesso e distribuição por grupos especializados.

Uma engrenagem nacional

A avaliação da cúpula da segurança aponta que a região virou o “centro decisório” do Comando Vermelho. De lá, partem ordens, diretrizes e cobranças que moldam o cotidiano de pontos de venda e de grupos armados em quase todos os estados onde a facção atua.

As direções para ações, cobranças financeiras e expansão territorial saem da Penha e do Alemão e chegam a capitais e interiores.

Centro de treinamento e recrutamento

Relatos da investigação falam em treinamentos de tiro, táticas de guerrilha, manuseio de armamento e instruções de tecnologia para comunicação e gestão criminosa. Integrantes de fora do Rio chegam, passam por “formação” e retornam aos estados de origem já alinhados ao método do grupo. A presença de suspeitos de Bahia, Amazonas, Pará, Goiás e Ceará reforça essa interpretação.

Operação teve 121 mortos e prisões em massa

A megaoperação mobilizou 2.500 agentes das polícias Civil e Militar para cumprir cerca de 100 mandados de prisão e 150 de busca e apreensão. O resultado expõe o nível de confrontos e a capilaridade da facção.

  • 121 mortos no total: 117 suspeitos e 4 policiais
  • 113 presos, incluindo detidos de estados como AM, BA, CE, PA, GO e PE
  • 10 menores apreendidos
  • 91 fuzis, 26 pistolas e 1 revólver apreendidos
  • 1 tonelada de drogas retirada de circulação

Até a noite de sexta (31), as forças de segurança haviam identificado 109 dos 117 suspeitos mortos. Desse grupo, 78 tinham histórico criminal e 42 estavam com mandados abertos. Relatos de moradores descrevem cenas de terror, corpos na rua e famílias presas em casa, sem poder sair para trabalhar ou buscar atendimento.

De onde vieram os mortos

O perfil dos mortos mostra que a engrenagem transborda os limites do Rio. Veja a distribuição informada de suspeitos de outros estados identificados:

Estado Mortos identificados
Pará 15
Amazonas 9
Bahia 11
Ceará 4
Goiás 7
Espírito Santo 4
Mato Grosso 1
São Paulo 1
Paraíba 2

A polícia também cita líderes do crime entre os mortos: apelidos ligados à Bahia, Pará, Manaus, Espírito Santo e Goiás, o que reforça a tese de que a base carioca sustenta a cadeia de comando nacional.

Principal alvo escapou do cerco

Edgar Alves de Andrade, o Doca, era o principal alvo e conseguiu fugir. Ele é apontado como o maior líder do Comando Vermelho em liberdade, abaixo apenas de nomes históricos que estão em presídios federais. A cúpula da Segurança Pública afirma que Doca usou grupos armados como barreira para romper o bloqueio policial. O Disque Denúncia oferece R$ 100 mil por informações que levem ao paradeiro dele. Registros oficiais indicam que ele nasceu em 1970 e acumula antecedentes por tráfico e porte de arma; uma prisão em flagrante ocorreu em 2007.

Como essa rede muda a vida de quem mora perto

Quando um território vira QG, o entorno sente imediatamente. As ordens de “fechar” comércio, o trânsito interrompido e os toques de recolher criam um efeito cascata. Escolas suspendem aulas. Unidades de saúde reduzem atendimento. Serviços de transporte sofrem desvios e atrasos. A cada operação, famílias refazem rotas e cancelam compromissos.

  • Rotina instável: imprevisibilidade no transporte, no trabalho e na escola
  • Mais risco: confrontos e bloqueios repentinos em vias de grande circulação
  • Economia local: queda nas vendas e perda de estoque perecível
  • Saúde mental: medo constante, principalmente entre crianças e idosos

Termos e bastidores para entender o cenário

O que significa “QG” na prática

QG, ou quartel-general, é o ponto de comando que concentra decisões estratégicas, comunicação e finanças. Na prática, quem controla o QG define compra, estoque, transporte e “franquias” dos pontos de venda, além de mediar conflitos e punir desvios. Isso explica por que a Penha e o Alemão conseguem influenciar áreas distantes e padronizar métodos.

Como funciona a logística de 10 toneladas por mês

Um fluxo dessa magnitude exige armazéns, rotas de entrada e equipes para fracionar e repassar produtos. O esquema costuma pulverizar cargas para reduzir perdas em apreensões. As armas seguem lógica parecida: chegam em lotes, passam por checagem e seguem para frentes de atuação conforme a demanda. A presença de 50 a 70 fuzis por mês indica investimento permanente em poder de fogo.

O que autoridades prometem e o que vem pela frente

O governo estadual afirma que as operações vão continuar, com promessa de “devolver o direito de ir e vir” à população. A cúpula da Segurança fala em inteligência, integração e uso de tecnologia. Para quem mora perto, a curto prazo, a tendência é de dias de instabilidade, com novas ações pontuais e reforço de patrulhamento. A saída de líderes pode reduzir a coordenação por um tempo, mas a reposição costuma ser rápida.

Para compreender os riscos no cotidiano, vale um exercício: considere o caminho casa–trabalho, identifique pontos de bloqueio recorrentes e defina alternativas por vias com maior policiamento. Combine sinais simples com a família para confirmar segurança em horários críticos. Manter documentos digitais e contatos de emergência atualizados ajuda em momentos de interrupção repentina de serviços.

Leave a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *