Noites de TV aberta vão ganhar outra cara, com mais nostalgia e menos improviso. Mudanças silenciosas mexem com hábitos.
A Globo prepara uma virada na faixa da madrugada e encerra um ciclo de entrevistas que marcou uma geração. O Conversa com Bial sai de cena no fim do ano, após nove temporadas, e abre espaço para uma janela contínua de reprises: novelas das 6, 7 e 9, além de humorísticos, devem preencher o período entre o Jornal da Globo e o Hora Um. O plano atende a uma necessidade de reduzir custos e padronizar a grade quando a audiência cai e o mercado publicitário aperta.
Por que o Conversa com Bial chega ao fim
O talk show de Pedro Bial herdou a missão de suceder o Programa do Jô em 2017 e resistiu por nove anos. A equação, no entanto, ficou mais difícil. A produção enfrenta escassez de convidados inéditos com apelo, o que provoca repetição de pautas e queda de frescor. E o horário, quase sempre depois da 1h — em dias de grade esticada, próximo das 2h — limita entregas comerciais e acordos de patrocínio.
O Conversa com Bial se despede em dezembro; a madrugada será redesenhada com reprises de novelas e humor.
Com a plateia mais reduzida nesse período da noite, o custo por ponto de audiência se torna sensível. A estratégia de reprises, mais barata e de alto reconhecimento popular, promete alongar a vida útil de tramas recentes e segmentar o consumo para quem chega em casa tarde ou trabalha em turnos noturnos.
Madrugadas com novelas e humor
O plano é transformar o pós-Jornal da Globo em uma sequência de reprises. A ideia inclui reapresentar a novela das 7 e estender o conceito para as tramas das 6 e das 9. Humorísticos, como Vai Que Cola, entram no mesmo pacote. Com isso, a emissora ocupa o período até o Hora Um com conteúdos testados e de custo controlado.
Economia pauta a grade: séries e filmes licenciados encareceram; repetir novelas próprias sai mais barato e mantém a marca no ar.
Dentro desse desenho, o tradicional Corujão não deve voltar. Pacotes de filmes, principalmente blockbusters, ficaram mais caros, e a concorrência com streaming encurtou janelas. Reapresentar obras próprias reduz direitos, facilita a negociação de mídia e preserva a memória de títulos queridos.
| Faixa aproximada | Conteúdo previsto |
|---|---|
| Após o Jornal da Globo | Reprise da novela das 7 |
| Sequência | Reprise da novela das 6 |
| Na sequência | Reprise da novela das 9 |
| Perto do Hora Um | Humorísticos (ex.: Vai Que Cola) |
O que muda para quem assiste de madrugada
- Mais previsibilidade: a grade fica estável e fácil de entender para quem liga a TV tarde.
- Memória afetiva: reprises recentes reativam conversas nas redes e facilitam maratonas.
- Menos variedade: programas inéditos e entrevistas saem do cardápio noturno.
- Publicidade ajustada: pacotes de mídia podem focar continuidade e frequência, com menor custo unitário.
O futuro de Pedro Bial na Globo
O fim do talk show não significa a saída de Pedro Bial da emissora. Pesquisas internas mapeiam um novo formato para o apresentador, com veiculação semanal na linha de shows, faixa entre a novela das nove e o Jornal da Globo. A possibilidade de retomar o Na Moral, programa que Bial comandou antes do Conversa, está sobre a mesa.
Projetos em andamento e novas cartas na manga
Bial segue à frente do Som Brasil e do núcleo de documentários do Globoplay. Recentemente testou uma releitura do Linha Direta, e tenta viabilizar o retorno do projeto para 2026. Esse conjunto posiciona o jornalista como curador de conteúdos de memória, música e factual, com potencial para formatos mais autorais e menos dependentes de agenda de convidados.
Bial deve migrar para um programa semanal na linha de shows; o Na Moral volta a ser cogitado.
Por que a Globo aposta nas reprises agora
As madrugadas têm audiência fiel, mas menor, e exigem rentabilidade. Reapresentar novelas cumpre três objetivos: reduz custo, preenche longas janelas e reforça a propriedade intelectual do canal. Quando a mesma obra circula no linear e no streaming, a emissora faz sinergia, ativa buscas e empurra novas assinaturas para maratonas completas.
Também pesa o calendário. Com o Conversa com Bial encerrando em dezembro, o primeiro trimestre tende a ser de ajustes de grade. Reprises dão elasticidade: se uma novela da faixa nobre termina mais tarde, a madrugada absorve sem quebrar contratos. A engenharia comercial agradece.
Riscos e oportunidades do novo desenho
- Risco de desgaste: excesso de repetição pode cansar quem busca inédito.
- Ganho de branding: novelas fortalecem a imagem da emissora como casa da dramaturgia.
- Foco em custos: a conta fecha melhor com conteúdo próprio do que com filmes licenciados.
- Conversas sociais: cenas icônicas reacendem tópicos e facilitam cortes para redes.
Como acompanhar e tirar proveito da nova grade
Se você trabalha à noite, as reprises permitem acompanhar uma novela sem depender do horário nobre. Vale definir uma “faixa de compromisso”, por exemplo, sempre após o Jornal da Globo, para não perder a sequência. Quem prefere ver tudo de uma vez pode registrar capítulos-chave e migrar para o streaming quando quiser avançar.
Para anunciantes, a janela oferece frequência com menor dispersão. Produtos de tíquete médio, serviços financeiros e varejo online costumam performar bem em faixas noturnas, quando o público navega com o celular em mãos. O desafio está em criar mensagens curtas, ancoradas em cenas que vão ao ar, para capturar atenção no break imediato.
Informações que ajudam a dimensionar a mudança
“Linha de shows” é a faixa que ocupa o espaço entre a novela das 9 e o Jornal da Globo. Ali cabem realities, musicais, documentários e entrevistas. Migrar Bial para esse horário reduz a dependência de agenda de convidados diários, ajusta custos por episódio e facilita patrocínios temáticos.
Já a troca do Corujão por reprises responde a outro fenômeno: a competição por filmes cresceu e encareceu direitos. Quando a emissora usa novelas próprias, controla licenças e alonga o ciclo de vida de uma obra que já tem público. Para quem assiste, a vantagem está na familiaridade; para a Globo, no equilíbrio financeiro em uma faixa de baixa monetização.


