Minas Gerais parou diante de uma despedida cercada por memórias, risos antigos e canções que nunca saem do ouvido coletivo.
No foyer do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, o silêncio do público dividiu espaço com abraços longos e olhos marejados. Entre rostos conhecidos e anônimos, uma presença chamou a atenção de quem acompanhava a despedida: Gabriel Guedes, músico e filho de Beto Guedes, levou suas próprias lembranças para homenagear Lô Borges.
O adeus em Belo Horizonte
O velório de Lô Borges aconteceu nesta terça-feira (4/11) e transformou o Palácio das Artes em um ponto de encontro de gerações. Amigos, familiares e artistas de várias cidades do país permaneceram lado a lado, em fila respeitosa, para um último aceno a um dos nomes mais influentes da música mineira.
O ambiente tinha clima de cerimônia e afeto. Gente de todas as idades, histórias cruzadas por canções que atravessaram décadas, e um sentimento comum: gratidão. Não faltaram relatos sobre shows que marcaram juventudes, discos que embalaram amores e letras que viraram referências pessoais.
O Palácio das Artes virou território de memória afetiva, onde cada rosto parecia carregar uma trilha sonora própria.
Gabriel Guedes, entre a memória e o palco
Gabriel Guedes falou a partir de um lugar íntimo. Ele descreveu Lô Borges como alguém que o acolheu com carinho de família. Contou que aprendeu muito nos bastidores, nas conversas longas, nos detalhes de arranjos e na convivência com um artista que unia sensibilidade e humor afiado.
Segundo ele, Lô ajudou a moldar seu olhar para a música e para a vida. O convívio rendeu histórias de camarim, risadas espontâneas e lições que ficam: disciplina no estúdio, liberdade nas harmonias, coragem para experimentar sem perder a ternura.
Para Gabriel, Lô não foi só um mestre de composição: foi referência afetiva, um norte artístico e humano.
Legado que moldou Minas e o Brasil
Nas palavras de quem prestou homenagem, a obra de Lô Borges inscreveu uma página decisiva na história de Minas Gerais. A combinação de lirismo, guitarras com sotaque mineiro e harmonias ousadas desenhou um caminho que muitos seguiram. O impacto atravessou fronteiras e alimentou a MPB, o rock, o pop e a canção autoral contemporânea.
O encontro de vozes, arranjos e paisagens que projetou a música mineira se revelou, mais uma vez, no ritual da despedida. O público lembrou parcerias antológicas, repertórios cheios de camadas e um jeito único de compor que casava simplicidade melódica com sofisticação harmônica.
- Amigos, familiares e artistas de todo o país circularam pelo foyer do Palácio das Artes.
- Mensagens de carinho foram deixadas em cartas, flores e conversas baixas de corredor.
- Relatos sobre turnês e encontros com Lô foram compartilhados, sem alarde, entre conhecidos.
- A homenagem de Gabriel Guedes trouxe à tona memórias que atravessam pai, filho e palco.
“História viva” foi a expressão que se repetiu entre quem passou pela despedida e reconheceu o tamanho da obra.
A turnê Esquina e canções e o elo vivo das parcerias
Até recentemente, Beto Guedes e Lô Borges percorriam o país com a turnê Esquina e canções. Os shows reuniam capítulos emblemáticos do repertório mineiro, revisitados com maturidade e frescor. No palco, surgia um diálogo que costurava tempos diferentes, aproximando quem descobriu aquelas canções nos anos 1970 e quem as conheceu no streaming.
Esse encontro de gerações ajuda a entender a comoção. As músicas ecoaram como ponto de contato entre pais e filhos, professores e alunos, colecionadores de vinil e ouvintes de playlists. O público saiu dos shows com a sensação de ter participado de uma conversa musical que ainda rende novas leituras.
| Quando | Onde | Quem esteve | Destaque |
|---|---|---|---|
| Terça-feira (4/11) | Foyer do Palácio das Artes, Belo Horizonte | Amigos, familiares e artistas de várias partes do país | Homenagem emocionada de Gabriel Guedes |
Por que essa despedida toca você
Porque essas canções circulam na vida cotidiana. Estão em festas de família, em viagens de estrada, em serenatas improvisadas. Mesmo quem nunca viu Lô no palco conhece melodias que atravessaram gerações e viraram memória coletiva. O adeus em Belo Horizonte ativou esse arquivo afetivo, somando histórias pessoais a um patrimônio musical que já faz parte do Brasil.
A música mineira guardou um jeito de dizer o indizível: aquilo que não cabe na fala encontra lugar na canção.
Como revisitar a obra hoje, sem perder a delicadeza
Para quem deseja retomar a discografia e entender a conversa que uniu Lô Borges, Beto Guedes e parceiros, vale um percurso que privilegie a escuta atenta. Prefira versões com boa qualidade de áudio, leia as letras enquanto ouve e compare arranjos ao vivo com gravações de estúdio. Essas escolhas ajudam a notar timbres, suíngues discretos e mudanças de tom que fazem diferença.
Trilhas para se orientar na escuta
- Comece por álbuns clássicos associados ao movimento que nasceu em Minas, em especial os registros que aproximam vozes e guitarras líricas.
- Ouça gravações ao vivo para perceber respirações, rubatos e diálogos entre instrumentos que os estúdios nem sempre revelam.
- Monte uma playlist temática alternando faixas mais conhecidas com lados B. O contraste mostra o alcance do repertório.
- Compare diferentes épocas: versões mais recentes costumam trazer sutilezas rítmicas e novas intenções interpretativas.
Para quem toca ou compõe
Se você tem violão, teclado ou guitarra, vale estudar as progressões harmônicas preferidas do cancioneiro mineiro. Teste variações com sétimas e nonas, brinque com modulações curtas entre tonalidades vizinhas e observe como as melodias pousam em notas de tensão antes de resolver. Esse vocabulário cria a sensação de estrada aberta que tantas músicas deixaram como assinatura.
Outra prática útil: rearmonize um trecho simples mantendo o desenho melódico. Grave duas versões e compare climas, dinâmica e balanço. O exercício revela como pequenas mudanças de acorde transformam a narrativa sem descaracterizar a canção.
Memória compartilhada que segue adiante
O gesto de Gabriel Guedes no Palácio das Artes reforça o que muitos sentiram naquele espaço: a música não se encerra no adeus. Ela muda de lugar, passa de mão em mão e volta em novas vozes. O público sai com lembranças, sim, mas também com tarefas: cuidar do repertório, apresentar as canções a quem ainda não as conhece e manter acesa a conversa que tantos artistas iniciaram em Minas.


