Uma frente de obras muda a rotina às margens do Velho Chico e reacende expectativas antigas no Norte de Minas.
O canteiro instalado entre São Francisco e Pintópolis entrou em nova fase e amplia o movimento de máquinas, balsas e equipes. O ritmo indica que uma demanda aguardada por gerações começa a ganhar forma no leito do Rio São Francisco.
Obra ganha tração no Rio São Francisco
As primeiras estacas do trecho central já foram concretadas diretamente no leito do rio. Imagens recentes mostram uma grande balsa posicionada para dar apoio às perfurações, com equipes operando uma perfuratriz que abre os furos, recebe a camisa metálica e, em seguida, executa a concretagem submersa das estacas.
Na margem de São Francisco, a galeria de acesso segue em fase final. Na cabeceira, pilares e estacas surgem em sequência e preparam a aproximação ao tabuleiro. A leitura do canteiro indica caminho aberto para a montagem dos blocos e a elevação dos primeiros vãos quando a fundação estiver completa.
Primeiras estacas concretadas no eixo do rio e frentes ativas nos acessos confirmam avanço consistente do cronograma.
Como a engenharia avança sobre a água
Estacas escavadas com camisa metálica reduzem a interferência do fluxo e permitem trabalhar em cotas submersas com segurança. A balsa estabiliza os equipamentos, enquanto a perfuratriz executa a escavação e a limpeza do fuste. A concretagem, feita com tubo tremonha, garante a integridade do elemento estrutural sob a lâmina d’água.
Ao lado disso, a sinalização náutica ordena o tráfego de embarcações e delimita áreas de segurança, recurso que preserva pescadores e barqueiros durante as operações.
Metodologia com balsa, perfuratriz e concretagem submersa diminui riscos e acelera a fundação no canal principal.
Dimensões, contrato e a longa espera
A ponte projetada soma 1.120 metros de extensão e 13,8 metros de largura, com aproximadamente 3 quilômetros de acessos viários. O traçado conecta a MG-402 e remove a dependência das balsas, solução sujeita a cheias, vazante e limitações de capacidade.
A obra tem caráter histórico. Moradores pedem essa ligação desde os anos 1950. A ordem de serviço saiu em fevereiro de 2022, mas o contrato inicial foi rompido após abandono da execução. No ano passado, um novo certame definiu o Consórcio PRSF, reunindo S. A. Paulista, Azevedo e Travassos Infraestrutura e a argentina Benito Roggio e Hijos, com proposta de R$ 158,5 milhões.
Documentos oficiais mencionam investimento de cerca de R$ 113 milhões, amparado no Termo de Reparação relativo ao desastre de Brumadinho.
O financiamento decorre do acordo de reparação firmado em 2021, que destina recursos para infraestrutura em Minas. A contratação mais recente aponta valores superiores, compatíveis com o cenário de custos atual e ajustes de escopo.
| Aspecto | Dados principais |
|---|---|
| Extensão do vão | 1.120 m |
| Largura | 13,8 m |
| Acessos | ≈ 3 km de ligação à MG-402 |
| Método de fundação | Estacas escavadas com camisa e concretagem submersa |
| Consórcio executor | PRSF (S. A. Paulista, Azevedo e Travassos, Benito Roggio e Hijos) |
| Recursos | Termo de Reparação pós-Brumadinho |
Impacto para quem vive e trabalha na região
A travessia hoje depende de balsa, solução que para em dias de vento forte, vazante crítica ou cheia. A ponte dá previsibilidade para o ir e vir diário e cria um corredor direto entre Norte e Noroeste de Minas, Goiás e Mato Grosso rumo ao Nordeste.
- Produtores rurais reduzem filas e perdas com perecíveis em períodos de safra e entressafra.
- Estudantes e servidores ganham tempo em deslocamentos, com horários menos sujeitos a interrupções.
- Pacientes de consultas e exames evitam remarcações por conta de paralisações na balsa.
- Pequenos negócios ampliam a clientela com fluxo estável entre São Francisco e Pintópolis.
- Transporte de cargas passa a contar com janela logística regular, inclusive à noite, sem restrições fluviais.
Corredores que se reconfiguram
A ligação facilita o escoamento agropecuário rumo ao Nordeste e amplia o acesso ao Distrito Federal, reduzindo a dependência do trajeto mais longo via Pirapora, João Pinheiro, Paracatu e Unaí. O projeto também conversa com a pavimentação de 73 quilômetros entre Pintópolis e Urucuia, avaliada em R$ 65,5 milhões, que fecha um ciclo de conectividade regional.
Com a ponte, o Norte de Minas ganha uma travessia que encurta rotas e dá regularidade à logística agrícola e de serviços.
Frentes paralelas ao longo do Velho Chico
O São Francisco recebe outras intervenções importantes. Em Manga e Matias Cardoso, próximos à divisa com a Bahia, já ocorrem serviços preliminares para uma nova ponte. Entre Sergipe e Alagoas, o Dnit conduz outra obra sobre o rio, reforçando a malha interligada do Nordeste ao Sudeste.
Transição entre obra e operação: o que esperar
Nos próximos meses, a tendência é ampliar o número de frentes de fundação, executar blocos de coroamento, erguer pilares e lançar vigas. Com os acessos adiantados, a montagem do tabuleiro acelera a etapa estrutural. Depois chegam drenagem, pavimentação, defensas e sinalização.
A janela hidrológica pesa nas decisões. Equipes costumam intensificar atividades no leito em períodos de menor vazão, o que reduz riscos para operários e para a navegação. A fiscalização ambiental monitora sedimentos e ruído subaquático para proteger fauna e garantir a qualidade da água.
Como funcionam as estacas no rio
A estaca escavada recebe uma camisa metálica que estabiliza o furo. A lama bentonítica pode ser usada para manter as paredes íntegras. A armação desce por guindaste e a concretagem ocorre de baixo para cima, expulsando água e lama pelo topo. Essa técnica aumenta a vida útil da fundação e a capacidade de carga do pilar.
Dicas práticas para o dia a dia
Quem usa a balsa deve observar avisos de interdição temporária durante lançamentos de viga e deslocamentos de barcaças. Pescadores precisam respeitar boias e luzes de balizamento, que indicam áreas de manobra e circulação de equipamentos. Motoristas devem considerar caminhões de grande porte nos acessos, com redução de velocidade e períodos de pare e siga.
No comércio local, vale ajustar horários de entrega para momentos de menor fluxo no canteiro. Setores de hospedagem e alimentação podem se preparar para picos de demanda ligados à presença de equipes deslocadas e técnicos de fiscalização, oportunidade para gerar renda enquanto a obra avança.
A construção traz transtornos temporários, mas abre uma janela de crescimento para cidades ribeirinhas e para a malha produtiva regional.
Perguntas que ajudam você a se planejar
- Meu trajeto diário cruza áreas de obra? Se sim, reserve minutos extras para eventuais paradas técnicas.
- Preciso da balsa em horários críticos? Consulte os comunicados de operação antes de sair de casa.
- Transporto cargas sensíveis? Considere rotas alternativas enquanto houver içamento de vigas e grandes concretagens.
- Faço pesca artesanal? Mantenha distância das áreas boiadas e informe sua rota a familiares.
Quando a ponte abrir, a travessia se torna contínua e independente do nível do rio. A regularidade reduz custos indiretos, como combustíveis gastos em espera, diárias de motoristas e perdas de qualidade de produtos frescos. Para gestores públicos, a nova ligação permite planejar serviços de saúde e educação com menos cancelamentos por causa do rio.
A população acompanha a chegada das vigas com atenção. Cada elemento lançado sobre o Velho Chico simboliza um trecho de distância encurtada. Com estacas, pilares e acessos tomando forma, a travessia entre São Francisco e Pintópolis deixa de ser promessa e se transforma, passo a passo, em infraestrutura concreta.


