Quando casamento e negócios se misturam, cada decisão vira disputa pública e mexe com fãs, contratos e cifras bilionárias.
O embate entre Virgínia Fonseca e Zé Felipe já transbordou a vida íntima e alcançou a Justiça. O processo pela divisão de patrimônio agora envolve uma marca de cosméticos que virou fenômeno de vendas e músicas que dominaram redes sociais e plataformas digitais.
O que está em disputa
Segundo reportagem do colunista Leo Dias, Zé Felipe acionou a Justiça para pedir participação nos lucros da WePink, empresa de cosméticos criada por Virgínia. Ele alega ocultação de bens e uso de dinheiro do ex-casal sem consentimento, citando viagens à Europa para visitar o atual namorado, Vini Jr. O cantor também aponta que a WePink surgiu durante o casamento, o que abriria espaço para partilha de resultados.
WePink virou caso de faturamento bilionário: mais de R$ 1,2 bilhão nos três primeiros anos e projeção de R$ 1,4 bilhão em 2025.
O ponto jurídico central recai sobre o regime de comunhão parcial de bens, mais comum nos casamentos no Brasil. Nessa modalidade, bens e rendimentos adquiridos onerosamente durante o casamento integram o patrimônio comum, mesmo que registrados em nome de apenas um cônjuge. A discussão, então, sai do “quem é sócio” e entra no “o que o casal produziu como riqueza no período”.
Como a comunhão parcial entra na conta
Especialistas costumam avaliar três frentes: quando o bem foi criado, de onde vieram os recursos e qual contribuição cada cônjuge deu para o resultado. Essa contribuição pode ser financeira, operacional, estratégica ou de imagem. O juiz considera documentos, contratos e perícias para mensurar valores e períodos.
- Se a empresa nasceu durante o casamento, lucros gerados no período tendem a entrar no cálculo da partilha.
- Se o cônjuge não for sócio, ele pode requerer participação nos frutos e não necessariamente nas quotas societárias.
- Se houve reinvestimento de ganhos do casal na companhia, esse aporte também vira tema de prova.
- Se a contribuição ocorreu por promoção e impulsionamento de vendas, isso pesa na análise econômica do caso.
Estar fora do contrato social não impede a discussão sobre lucros gerados enquanto o casamento esteve em vigor.
O contra-ataque de Virgínia
De acordo com a mesma coluna, Virgínia prepara um movimento próprio: reivindicar participação em direitos de músicas lançadas por Zé Felipe durante o casamento. A tese passa pelo impacto direto de suas ações digitais no desempenho das faixas. As coreografias de “Toma Toma Vapo Vapo”, “Malvada” e “Bandido” circularam diariamente nos perfis da influenciadora, dando alcance massivo a cada single.
Direitos autorais e conexos possuem regras específicas. Autores, intérpretes, produtores fonográficos e editoras dividem percentuais conforme contratos. Cônjuges não se tornam autores por promoção, mas rendas que o artista auferiu no casamento — como streaming, execução pública e publicidade atrelada — podem entrar na partilha de frutos. É nesse espaço que a defesa de Virgínia pode mirar.
Virgínia mira receitas recorrentes: streaming, execução pública e campanhas impulsionadas por hits que dominaram TikTok e Instagram.
O peso do TikTok nos hits de Zé
O ecossistema musical mudou com vídeos curtos. Faixas com dança fácil e refrão forte explodem no TikTok e puxam reproduções no Spotify, YouTube e rádios. Quem cria e sustenta o desafio viral move a agulha do negócio. No caso do casal, o público assistiu à rotina de divulgação, com dancinhas diárias, cortes pensados para virar trend e publicações programadas em momentos de maior tráfego.
| Fonte de receita | O que pode entrar na partilha |
|---|---|
| Lucro da WePink | Lucros gerados durante o casamento, conforme perícia e balanços |
| Streaming musical | Repasses recebidos no período conjugal, conforme contratos e relatórios das plataformas |
| Execução pública | Distribuições de entidades de gestão coletiva com referência temporal ao casamento |
| Publicidade atrelada a hits | Cachês e bônus recebidos em campanhas vinculadas às músicas |
Cenários possíveis no processo
O caso tende a exigir perícia contábil. Peritos analisam balanços da WePink, contratos de sociedade, relatórios de plataformas, notas fiscais, repasses de entidades de arrecadação e fluxos de caixa. O juiz pode determinar bloqueios cautelares, pedidos de prestação de contas e apresentação de livros contábeis. Conciliar costuma reduzir riscos, mas a prova técnica define valores com mais precisão.
- Acordo com percentuais sobre lucros e royalties, com vigência e auditoria periódica.
- Partilha de frutos apurada por período, sem mexer na estrutura societária da empresa.
- Compensações cruzadas: uma parte abre mão de item para receber outra receita.
- Cláusulas de confidencialidade para proteger dados comerciais e catálogos musicais.
O que pesa para cada lado
Para Zé Felipe
Ele aponta que a WePink gerou riqueza relevante durante o casamento e busca participação nesses resultados. A projeção de faturamento para 2025 torna a disputa ainda mais sensível. A tese se fortalece com documentos que mostrem vínculo temporal entre o casamento e a expansão da empresa.
Para Virgínia
Ela sustenta que impulsionou hits que viraram receita recorrente. Vídeos virais e dados de engajamento podem conectar suas ações à performance das músicas. Essa relação ajuda a defender participação em royalties e cachês derivados de campanhas baseadas nos singles que ela promoveu.
Exemplo prático para o leitor entender as cifras
Considere um exercício hipotético, com números meramente ilustrativos. Suponha que a WePink registre R$ 1,4 bilhão em faturamento no ano e uma margem líquida de 10% (R$ 140 milhões). Em comunhão parcial, discute-se o lucro gerado dentro do casamento. Se a perícia delimitar 18 meses de casamento no período auditar, a conta recai sobre essa fração temporal, não sobre o valor integral da companhia. Em paralelo, imagine R$ 20 milhões recebidos em streaming e execução pública num intervalo de 12 meses. A partilha recai sobre o que entrou no período conjugal e conforme contratos que definem quanto vai para artista, produtor e editora.
Como documentar e reduzir risco em disputas de patrimônio
- Guarde contratos, aditivos e recibos de aportes no negócio do casal.
- Solicite relatórios periódicos de plataformas de música e de arrecadação.
- Separe contas de pessoa física e jurídica para facilitar perícias.
- Registre, em atas ou e-mails, decisões sobre campanhas e investimentos conjuntos.
- Preveja, em acordos pós-nupciais ou memorandos, critérios para partilha de frutos.
O caso envolve uma marca com tração de varejo e um catálogo musical com receitas recorrentes. Essa combinação exige um mapa financeiro detalhado, capaz de diferenciar patrimônio, frutos e contribuições de cada um. A Justiça costuma olhar a cronologia dos ganhos, a substância econômica dos contratos e a influência concreta de ações de marketing na geração de caixa.
Para quem vive situação parecida, vale simular cenários com um contador: projete lucros, royalties e prazos de recebimento, cruze com a duração do casamento e destaque períodos de maior contribuição de cada cônjuge. Essas projeções ajudam a negociar percentuais, prever pagamentos devidos e calibrar cláusulas de auditoria que evitam novas brigas no futuro.


