A janela vira tela e o relógio desacelera: trilhos revelam cenários que mexem com memórias, planos e desejos de viagem.
O interesse por viagens de trem cresce entre brasileiros que buscam ritmo humano, baixo estresse e paisagens que mudam a cada túnel. De glaciares a viadutos históricos, estas rotas unem conforto, segurança e fotografia fácil, com alternativas para diferentes bolsos e perfis.
Por que viagens de trem voltam aos holofotes
Trens conectam grandes cidades e regiões remotas com poucas conexões e filas. O embarque tende a ser simples, sem restrições pesadas de bagagem. A experiência valoriza o caminho, com silêncio, assentos amplos e estações no centro urbano. Para quem calcula impacto ambiental, o trilho emite menos que carro ou avião em trechos médios.
Uma poltrona, uma janela ampla e zero turbulência: esse trio explica por que tanta gente troca pressa por paisagem.
As 7 rotas com vistas que parecem filme
Glacier Express, Suíça
Trecho: Zermatt a St. Moritz. Duração média: cerca de 8 horas. O trem panorâmico atravessa os Alpes com lagos verdes, cumes nevados e o icônico viaduto de Landwasser no caminho alpino. As janelas inteiriças e o serviço de bordo elevam o nível de conforto. No inverno, os vales ficam brancos e dramáticos; no verão, os prados florescem.
Quem busca fotos sem reflexo deve levar pano de microfibra e sentar-se próximo ao corredor para alternar lados pelo corredor fotográfico. Reservas antecipadas se esgotam rápido nas férias europeias.
Bernina Express, Suíça e Itália
Trecho: Chur a Tirano. Duração média: cerca de 4 horas. A linha, tombada pela UNESCO, escala e desce a cordilheira com curvas abertas, geleira Morteratsch e lagos azulados. Ao sair de Chur, a composição também cruza o conjunto Albula, com túneis curtos e obras de engenharia que renderam fama mundial.
No verão, a extensão de ônibus para o Lago Como torna a jornada mais variada. No sentido Chur → Tirano, os melhores ângulos dos viadutos surgem do lado direito em vários trechos.
EuroCity Zurique → Milão
Duração média: cerca de 4 horas. O trem liga dois polos europeus por vales ensolarados, lagos cristalinos e o Túnel de Gotthard — um dos mais longos do planeta. Em dias claros, a transição do norte alpino para a atmosfera mediterrânea é palpável, com palmeiras aparecendo perto de Lugano e Como.
No inverno, as montanhas cobertas de neve produzem contraste forte com as águas dos lagos. Quem tem conexão aérea em Milão deve considerar folga de horário, já que a malha alpina pode sofrer ajustes sazonais.
Tren de las Nubes, Argentina
Trecho: Salta até a Cordilheira dos Andes. Duração aproximada: 16 horas, com trechos combinando ônibus e trem. A composição alcança mais de 4.000 metros de altitude perto do viaduto La Polvorilla, com planaltos áridos, tons ocres e picos ao fundo.
Hidratação, protetor solar e movimentos lentos reduzem o mal-estar por altitude. Uma noite prévia em Salta ajuda na aclimatação. No inverno seco, o céu costuma render fotos nítidas.
Rocky Mountaineer, Canadá
Trechos mais populares: Vancouver a Banff ou Jasper. Duração: 2 dias, somente durante o dia, com pernoite em hotel intermediário. Rios cor esmeralda, desfiladeiros e glaciares compõem a paisagem clássica das Montanhas Rochosas. O teto de vidro curvo e o serviço atento valorizam cada mirante natural.
A temporada vai de primavera a outono, com maior chance de vida selvagem no fim da primavera. Leve agasalho tipo cebola: o clima muda rápido na região.
West Highland Line, Escócia
Trecho: Glasgow a Mallaig. Duração média: 5 horas. Lagos profundos, planaltos e o viaduto de Glenfinnan criam uma sequência cinematográfica imortalizada em cenas de Harry Potter. A paleta muda do verde ao dourado conforme o mês.
Para ver o arco do viaduto como nos filmes, sente-se à esquerda no sentido Glasgow → Mallaig. Em Mallaig, dá para conectar o ferry à Ilha de Skye, se o mar permitir.
TranzAlpine, Nova Zelândia
Trecho: Christchurch a Greymouth. Duração: cerca de 4h30. Em poucas horas, a composição cruza planícies douradas, florestas úmidas e picos nevados dos Alpes do Sul. O vagão aberto de observação favorece fotos sem vidro.
Dias longos de verão ampliam a luz para fotografias. Na primavera, os picos ainda mantêm neve, com flores silvestres ao nível do vale.
Vistas de cartão-postal não pedem filtro: pedem bateria de sobra, memória livre e planejamento de assento.
Panorama rápido das rotas
| Rota | País/região | Trecho | Duração | Melhor época |
|---|---|---|---|---|
| Glacier Express | Suíça | Zermatt — St. Moritz | ~8 h | Dez–mar para neve; jun–set para lagos |
| Bernina Express | Suíça/Itália | Chur — Tirano | ~4 h | Mai–out; outono rende cores intensas |
| EuroCity Zurique–Milão | Suíça/Itália | Zurique — Milão | ~4 h | Todo o ano; inverno é fotogênico |
| Tren de las Nubes | Argentina | Salta — Andes | ~16 h | Mai–set com céu seco |
| Rocky Mountaineer | Canadá | Vancouver — Banff/Jasper | 2 dias | Abr–out; melhor luz de mai–set |
| West Highland Line | Escócia | Glasgow — Mallaig | ~5 h | Abr–out; verão com dias longos |
| TranzAlpine | Nova Zelândia | Christchurch — Greymouth | ~4h30 | Set–mar para picos nevados |
Como se preparar sem dor de cabeça
- Reserva: trens panorâmicos exigem marcação de assento; alta temporada lota semanas antes.
- Bagagem: volumes grandes vão em racks; leve mochila pequena para câmera, água e casaco.
- Assentos: verifique o lado mais fotogênico por sentido; se houver, prefira janelas inteiras.
- Alimentação: alguns serviços vendem refeições a bordo; lanches frios funcionam bem em rotas longas.
- Saúde: na Argentina, altitude pede hidratação e ritmo calmo; avalie consultar médico se tiver histórico.
- Clima: camadas de roupa ajudam com oscilação térmica e ar-condicionado forte perto das janelas.
- Conexões: ao combinar trem e avião, mantenha folga realista para imprevistos e deslocamentos urbanos.
Altitude acima de 4.000 m não combina com pressa. Água, descanso e atenção ao corpo fazem diferença.
Ideias de roteiro para ampliar a experiência
Glacier Express conecta dois ímãs alpinos: antes de embarcar em Zermatt, vale um bate-volta ao mirante do Gornergrat; em St. Moritz, trilhas curtas contornam lagos com reflexo perfeito nas manhãs sem vento. O Bernina Express termina em Tirano, base fácil para um sorvete italiano e, se o tempo permitir, um desvio ao Lago Como no mesmo dia.
No eixo Zurique–Milão, quem gosta de arte pode combinar a Pinacoteca Ambrosiana com uma tarde no Navigli. Em Salta, o Trem das Nuvens encaixa com vinícolas de Cafayate e estrada fotogênica pela Quebrada de Humahuaca. No Canadá, o Rocky Mountaineer se integra a parques nacionais; em Banff e Jasper, o Icefields Parkway oferece mirantes e caminhadas bem sinalizadas. Já a West Highland Line permite, em Mallaig, cruzar de ferry para a Ilha de Skye e dormir com céu estrelado se as nuvens abrirem. Na Nova Zelândia, o TranzAlpine combina com passeios no Arthur’s Pass e, no litoral oeste, caminhada em passarelas nas florestas úmidas.
Dúvidas frequentes que mudam o jogo
Janelas panorâmicas valem o custo? Quem viaja por fotografia, sim, porque o vidro alto elimina cortes de composição. Para famílias, classes padrão entregam boa experiência sem inflar o orçamento. É melhor inverno ou verão? Depende do gosto: neve e montanhas dramáticas no frio; luz longa e trilhas abertas no verão. Medo de enjoo? Trens são estáveis; quem tem sensibilidade pode evitar ler em curvas e escolher assento voltado para o sentido de marcha.
Quer simular datas? Verifique feriados locais e férias escolares europeias e canadenses: tarifas sobem e a ocupação dispara. Passes ferroviários regionais, quando disponíveis, reduzem custo se você somar múltiplos trechos na mesma viagem. Para fronteiras, leve documento válido e chegue às estações com antecedência adequada. Para quem pretende combinar trilhos e carro, atenção a seguros, neve e regras de pneu nas áreas alpinas entre outubro e abril.


