Janja faz coquetel esvaziado na COP30 em Belém: você investiria R$ 125 bilhões no TFFF agora?

Janja faz coquetel esvaziado na COP30 em Belém: você investiria R$ 125 bilhões no TFFF agora?

Um coquetel de gala marcou a pré-COP em Belém, com cenário vistoso e urgências políticas, mas surpresas de bastidores.

Organizado pela primeira-dama Rosângela da Silva, Janja, o encontro pretendia aproximar chefes de Estado e potenciais financiadores do Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF). A festa começou com duas horas de atraso e terminou com sala rarefeita, dúvidas sobre presenças e uma missão bilionária ainda no papel.

Coquetel em Belém termina esvaziado

A recepção ocorreu na noite de quinta-feira (6), durante a fase preparatória da COP30, em Belém. A ideia: apresentar a proposta do TFFF e abrir conversas para captação. As cadeiras, no entanto, permaneceram vazias por mais tempo que o previsto. Assessores atribuíram a ausência de diversos chefes de Estado a cansaço e agenda carregada do dia. Houve ainda relatos contraditórios sobre a passagem do presidente do Chile, Gabriel Boric.

O evento começou duas horas depois do horário prometido e não atraiu o público estratégico esperado.

Enquanto autoridades multilaterais circularam, investidores institucionais e líderes com poder de alocação de recursos não deram as caras. A atmosfera, com luzes em azul e violeta, telões exibindo ribeirinhos, imagens da floresta e elementos da cultura paraense, contrastou com a falta de interlocutores capazes de assinar cheques.

Quem apareceu e quem faltou

  • Janja e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estiveram no local e deixaram a recepção após cerca de 30 minutos.
  • Estiveram presentes nomes do governo e do PT: Dilma Rousseff, Aloizio Mercadante (BNDES), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Marcos Antônio Amaro (GSI).
  • Lideranças globais sem mandato de investimento compareceram, como Tedros Adhanom (OMS) e António Guterres (ONU).
  • Chefes de Estado esperados mencionaram fadiga e optaram por não ir.

No serviço, oito tipos de drinques e peixes típicos da Amazônia. Na política, uma conta pendente: como transformar a vitrine simbólica em pipeline concreto de capital?

Meta oficial do TFFF: captar R$ 125 bilhões junto à iniciativa privada, prometendo retorno aos aplicadores.

O que é o TFFF e por que o governo o lançou na pré-COP

O TFFF, Fundo de Florestas Tropicais para Sempre, foi anunciado por Lula durante a pré-COP — etapa que antecede a abertura oficial da conferência, marcada para segunda-feira (10). O desenho divulgado aponta para captação no mercado, com devolução futura e lucro a quem aportar recursos. O foco recai sobre proteção florestal, bioeconomia e cadeias produtivas de baixo desmatamento, com ênfase na Amazônia.

O objetivo de R$ 125 bilhões impressiona e exige instrumentos financeiros capazes de reduzir riscos e dar tração a projetos. Sem governança clara, carteira identificada e mecanismos de remuneração previsíveis, a conversa não sai do convite. É nesse ponto que a ausência de players financeiros no coquetel pesou: faltaram conversas técnicas, apresentações de risco-retorno e encontros bilaterais de dealmaking.

Como o capital poderia ser remunerado

  • Estruturas de blended finance, combinando recursos públicos e privados para amortecer riscos.
  • Títulos verdes (green bonds) vinculados a metas de conservação e resultados ambientais auditados.
  • Receitas de créditos de carbono certificáveis, com contratos de longo prazo de compra (offtake).
  • Fundos de participação em projetos de bioeconomia com governança independente.
  • Garantias parciais do BNDES e de agências multilaterais, reduzindo risco-país e cambial.

Sem esse arcabouço, a proposta fica dependente de boa vontade política. Investidores institucionais — fundos de pensão, seguradoras e gestoras — pedem previsibilidade jurídica, marcos regulatórios estáveis e métricas audíveis de impacto.

Diplomacia climática sob teste

Pré-COPs costumam ter agenda extenuante, com deslocamentos, segurança reforçada e reuniões paralelas. Em Belém, a logística intensa e o atraso de duas horas esvaziaram o networking. Para um fundo que nasce buscando credibilidade, a primeira impressão conta. A cena de autoridades da casa enchendo a sala enquanto potenciais financiadores não aparecem fragiliza o enquadramento da narrativa.

Logística, protocolo e timing

Quando convites chegam tarde, começam atrasados e se sobrepõem a encontros fechados, a taxa de no-show dispara. Em ambiente multilateral, cada meia hora tem preço. O resultado: janela política desperdiçada para detalhar governança do TFFF, apresentar pipeline regional e combinar visitas técnicas a projetos.

Aspecto Coquetel da pré-COP TFFF pretendido
Objetivo Apresentação simbólica e aproximação de lideranças Captação de R$ 125 bilhões com retorno financeiro
Público-alvo Chefes de Estado e instituições multilaterais Investidores com mandato ESG e grandes alocadores
Recurso oferecido Visibilidade e networking Estruturas financeiras, garantias e pipeline de projetos
Gargalo Atraso e baixa adesão Governança, métricas de impacto e risco cambial

O que investidores querem ver antes de aportar

Capital institucional segue checklists rigorosos. Sem respostas claras, a caneta não assina. Esses são alguns pontos que pesam na mesa:

  • Governança: conselho independente, políticas de compliance e segregação de funções.
  • Originação: carteira de projetos com due diligence ambiental e social padronizada.
  • Métricas: indicadores de impacto com verificação de terceiros e auditoria periódica.
  • Risco: proteção contra variação cambial e volatilidade de preços de créditos de carbono.
  • Saída: prazos de liquidez, metas de retorno e mecanismos de distribuição de resultados.

Sem pipeline verificável e métricas de impacto auditáveis, o TFFF terá dificuldade para converter promessas em cheques.

O que pode vir a seguir

Há espaço para uma virada. Reuniões bilaterais focadas, roadshows com investidores e detalhes sobre governança podem redesenhar a narrativa. O BNDES, citado no evento, tende a ter papel de ancoragem e desenho de garantias. Se houver parcerias com bancos multilaterais e certificadoras independentes, o risco percebido cai e a conversa muda de patamar.

Para dar tração, o governo pode priorizar um lote piloto com metas de curto prazo e auditorias trimestrais. Isso cria histórico, facilita a precificação e abre caminho para emissões maiores, como debêntures sustentáveis ou cotas sênior de um fundo estruturado.

Para o leitor: como esse debate chega ao seu bolso

A pauta climática já afeta taxas, crédito e preço de ativos. Empresas com cadeias expostas ao desmatamento enfrentam restrições comerciais. Títulos rotulados como verdes tendem a pagar prêmios menores de risco se a certificação for robusta. Quem investe precisa separar selo de marketing de lastro verificável.

  • Riscos: greenwashing, baixa liquidez, incerteza regulatória e variações de preços de carbono.
  • Vantagens: diversificação, exposição a setores em crescimento e potenciais benefícios fiscais.
  • Exemplo prático: fundos que compram créditos de carbono costumam exigir contratos de longo prazo e seguros de performance para reduzir volatilidade.

A COP30 começa oficialmente no dia 10. Até lá, a equipe do TFFF tem uma janela estreita para converter vitrines em propostas. O coquetel mostrou a urgência de trocar palco por planilha: menos holofote, mais governança, metas, garantias e cronograma. Sem isso, R$ 125 bilhões continuam a ser um número de slide, não um compromisso de investimento.

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