Uma ideia nascida no interior do Espírito Santo chamou atenção em uma feira e já movimenta conversas além das fronteiras.
Um produtor rural capixaba apresentou uma solução prática para uma etapa crítica do pós-colheita do café. A proposta venceu prêmios, ganhou vitrine e entrou no radar de investidores estrangeiros. O interesse inclui fabricantes da China e da Holanda, com negociações em fase inicial e olhar para escala.
Quem é o capixaba por trás da ideia
Anatalício dos Reis Silva vive da roça e conhece as dores da produção de café. Ele viu a rotina do beneficiamento travar em uma etapa cansativa: a abanação, que separa impurezas e classifica os grãos por tamanho. O incômodo virou projeto. Com apoio de professores e alunos do Ifes – Campus Cachoeiro de Itapemirim e o suporte do Sebrae/ES, ele tirou do papel uma máquina portátil dedicada à peneira do café.
A máquina portátil peneira até 420 kg de café por hora e foi pensada para caber no orçamento do pequeno produtor.
O equipamento chama atenção pela simplicidade de uso. O produtor alimenta o funil, ajusta a vibração e o café segue por peneiras que separam grãos, cascas e impurezas. O fluxo padroniza a etapa que, no braço, depende do ritmo humano e da força do vento.
Da roça ao protótipo: como a solução trabalha
Desempenho e portabilidade
A capacidade de 420 kg por hora atende lotes de diferentes tamanhos e reduz gargalos no pós-colheita. O desenho portátil facilita o transporte entre terreiros e galpões. A regulagem permite adequar o processo a variedades e níveis de umidade do grão. A meta do projeto foi somar velocidade e regularidade sem exigir infraestrutura complexa.
- Capacidade nominal de 420 kg/h em condições adequadas de grão e umidade.
- Formato portátil para uso em pequenas e médias propriedades.
- Separação por peneiras com ajuste de vibração e fluxo.
- Redução do esforço físico na etapa de abanação.
- Padronização do resultado e menor perda por erro humano.
A analista técnica do Sebrae/ES, Luciana Nogueira, acompanhou o desenvolvimento e celebrou o reconhecimento alcançado. A parceria com o Ifes acelerou testes, ajustes de engenharia e validação em campo. O conjunto reforçou a robustez do protótipo e abriu portas para dialogar com fabricantes.
Vitrine e prêmios em Foz do Iguaçu
Na InnovaCities, realizada em Foz do Iguaçu entre 15 e 17 de setembro, o equipamento ganhou destaque. O projeto subiu ao pódio em três categorias e voltou para casa com duas vitórias e um terceiro lugar. O júri avaliou impacto social, escalabilidade e contribuição para cidades mais resilientes.
Primeiro lugar em Diversidade e Tecnologia para Equidade e em Sustentabilidade Urbana; terceiro em Governança e Políticas Públicas Inclusivas.
O tempo de apresentação foi curto. Três minutos. A resposta do público veio rápida. A solução dialoga com produtividade, inclusão de pequenos produtores e redução de desperdícios no campo. O reconhecimento deu lastro para as conversas comerciais.
China e Holanda acenam: o que está na mesa
Anatalício confirmou que recebeu propostas de investidores da China e da Holanda. Ele analisa condições com seu advogado. O foco recai sobre formato de parceria, proteção da propriedade intelectual e estratégia de fabricação. Licenciamento, joint venture ou produção local aparecem no radar. O objetivo é preservar a autoria, garantir qualidade e viabilizar preço competitivo.
Fabricantes chineses enxergam potencial de escala e de exportação. Empresas europeias se interessam pelo recorte de sustentabilidade e pela eficiência em pequenas propriedades. O próximo passo depende de due diligence, cálculo de royalties e escolha da rota industrial.
Manual ou máquina: o que muda no dia a dia
| Tarefa | Processo manual (abanação) | Com a máquina de peneirar |
|---|---|---|
| Ritmo de limpeza | Variável, sujeito a cansaço e clima | Fluxo contínuo, até 420 kg/h |
| Qualidade da separação | Depende da experiência do operador | Peneiras padronizam o resultado |
| Esforço físico | Elevado, repetitivo | Reduzido, com manuseio simples |
| Infraestrutura | Terreiro e mão de obra | Espaço coberto e tomada ou fonte de energia compatível |
| Perdas | Maior risco de mistura e desperdício | Processo mais consistente e previsível |
Impactos para o produtor e para a cadeia do café
Produtividade, renda e tempo
Com a peneira mecanizada, a etapa de limpeza deixa de segurar o calendário do pós-colheita. A secagem se organiza, o beneficiamento ganha ritmo e a venda ocorre no ponto certo. A padronização ajuda a manter lotes mais uniformes, algo valorizado por compradores.
Em pequenas propriedades, a liberação de horas de trabalho faz diferença. Famílias podem redirecionar tempo para secagem, controle de qualidade e relacionamento com clientes. Com lotes mais limpos, a classificação tende a subir, o que favorece preço.
Padronização e ganho de tempo abrem espaço para negociar melhor e reduzir perdas no beneficiamento.
Como se preparar para adotar a tecnologia
- Mapeie o volume médio de café por safra para dimensionar o uso do equipamento.
- Verifique energia disponível no galpão e condições de piso e cobertura.
- Defina um fluxo de trabalho: entrada, peneiramento, armazenamento e expedição.
- Programe manutenção preventiva simples, como limpeza das peneiras e verificação de vibração.
- Treine a equipe para ajustes de regulagem conforme variedade e umidade dos grãos.
Perguntas que o produtor deve fazer ao negociar
O interesse internacional desperta expectativas. Vale organizar os pontos antes de fechar qualquer compra ou parceria de fabricação.
- Existe garantia de peças e assistência técnica local?
- Qual o custo de operação por hora e a fonte de energia compatível?
- Como fica a proteção de patente e o reconhecimento do inventor?
- Há opção de financiamento rural para aquisição do equipamento?
- Qual o plano de certificações para venda em diferentes mercados?
Simulação simples para planejar o retorno
Simulação hipotética: um produtor que peneira manualmente cinco lotes por semana perde parte do dia nessa etapa. Com a máquina, ele completa a limpeza de cada lote em menos tempo e uniformiza o resultado. O ganho aparece no calendário da fazenda, que passa a secar e vender no momento adequado. A conta de retorno deve considerar valor do equipamento, economia de hora de trabalho e eventual valorização do lote por melhor classificação.
Outro ponto sensível é a logística. A portabilidade permite emprestar a vizinhos ou organizar uso compartilhado em uma associação. A divisão do investimento reduz a barreira de entrada e fortalece a compra coletiva de insumos e peças.
Por que o prêmio fez diferença
Mostras como a InnovaCities conectam inovação do campo com redes urbanas, universidades e investidores. O crivo do júri aumenta a confiança de compradores e acelera certificações. O trio de prêmios funcionou como selo de qualidade e abriu conversas que dificilmente chegariam a um inventor isolado.
O caso também sinaliza uma agenda: soluções desenhadas com o produtor, validadas em roça e prontas para escalar. Parcerias com Ifes e Sebrae/ES encurtam o caminho entre protótipo e produção. O próximo capítulo depende das negociações com China e Holanda, da organização da cadeia de fabricação e do acesso ao crédito para quem trabalha no campo.


