Vai mudar na sua cidade? câmara quer aprovar PEC da segurança até dezembro; 7 pontos que afetam você

Vai mudar na sua cidade? câmara quer aprovar PEC da segurança até dezembro; 7 pontos que afetam você

Enquanto operações contra facções expõem fragilidades, um pacote constitucional ganha força em Brasília e promete redefinir papéis.

A proposta de emenda que reorganiza a segurança pública avançou no Congresso e entrou no radar de líderes partidários. O governo federal pressiona por votação ainda em dezembro e aposta no tema como trunfo em um momento de ansiedade com o crime organizado nas capitais e no interior.

O que está na mesa

  • União com diretrizes nacionais para policiamento e sistema prisional, sem retirar autonomia dos estados
  • Atuação integrada entre forças federais, estaduais e municipais no Susp
  • Polícia Federal com mandato explícito para investigar facções, milícias e crimes ambientais
  • PRF rebatizada como Polícia Viária Federal, com alcance em rodovias, ferrovias e hidrovias
  • Guardas municipais reconhecidas no sistema, com policiamento ostensivo e comunitário
  • Criação de corregedorias autônomas nas forças e ouvidorias nas guardas
  • Relator estuda ajustes penais e limitações a benefícios para integrantes de facções

Para virar parte da Constituição, a PEC precisa de 308 votos em dois turnos na Câmara e, depois, aprovação no Senado.

Calendário e tramitação

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), sinalizou votação nas primeiras semanas de dezembro. O relator, Mendonça Filho (União Brasil-PE), e o presidente da comissão especial, Aluísio Mendes (Republicanos-MA), alinharam o cronograma. A CCJ já deu aval. Falta o parecer da comissão especial e, se aprovado, o texto segue ao plenário.

Se Câmara e Senado aprovarem, a PEC será promulgada pelo Congresso e passará a valer de imediato. Não há sanção presidencial nesse rito. O governo quer celeridade e vê a proposta como peça central no enfrentamento ao crime organizado.

Competências da União e autonomia local

O texto amplia a capacidade de coordenação do governo federal. A União passará a definir diretrizes nacionais para a segurança pública e para o sistema penitenciário. Estados e municípios participam da elaboração dessas diretrizes, com a garantia de que cada ente manterá suas estratégias próprias.

Plano nacional e coordenação do Susp

O plano nacional deverá orientar a atuação integrada do Sistema Único de Segurança Pública, com metas e padrões de interoperabilidade. Polícias militares, civis e penais e os corpos de bombeiros seguem subordinados aos governadores. A promessa é reduzir redundâncias, acelerar respostas e padronizar dados.

O governo afirma que a coordenação nacional não mexe no comando das polícias estaduais e municipais.

PF no combate ao crime organizado

A PEC explicita que a Polícia Federal poderá investigar organizações criminosas, milícias e crimes ambientais. Hoje, a PF atua nessas frentes de forma mais condicionada, muitas vezes mediante federalização ou decisão judicial. A nova redação busca reduzir margens de dúvida e dar previsibilidade às investigações interestaduais e transnacionais.

Na prática, o desenho pretende cobrir lacunas em casos que cruzam fronteiras internas, lavagem de dinheiro, tráfico de armas e destruição ambiental associada a facções.

De PRF a Polícia Viária Federal

A atual Polícia Rodoviária Federal ganha novo nome e alcance. A “Polícia Viária Federal” assume, além das rodovias federais, o patrulhamento de ferrovias e hidrovias sob jurisdição da União. O texto também autoriza o emprego dessa força em apoio a estados que pedirem reforço, a exemplo do que já ocorre com a Força Nacional.

A mudança mira corredores logísticos usados pelo crime, como rios na Amazônia e linhas férreas estratégicas para o escoamento de cargas.

Guardas municipais em foco

As guardas civis entram formalmente no Sistema Único de Segurança Pública e ganham atribuição de policiamento ostensivo e comunitário. Agentes poderão realizar prisões em flagrante. O texto reflete decisão do STF que reconheceu a atuação das guardas na segurança urbana. Não há poder de investigação, e as ações não se sobrepõem às polícias civis e militares.

Controles internos e ouvidorias

As forças de segurança deverão manter corregedorias autônomas para apurar eventuais infrações de seus agentes. Nas guardas municipais, a PEC prevê ouvidorias independentes e sujeição ao controle do Ministério Público. A ideia é fortalecer integridade, reduzir abusos e elevar a confiança da população.

O que o relator quer ajustar

Mendonça Filho retirou do texto a previsão de normas gerais exclusivas da União, para evitar concentração de poder em Brasília. Ele sinaliza novas alterações, com dois eixos: regras mais duras contra integrantes de facções e debate sobre a execução provisória da pena após condenação em segunda instância.

Esses pontos abrem disputa jurídica e política. Um endurecimento penal pode alterar progressões de regime, saídas temporárias e benefícios a quem tem vínculo com crime organizado.

Endurecer penas pode agradar parte do eleitorado, mas exige calibragem para não travar o sistema prisional nem ferir garantias.

O que pode mudar para você e sua cidade

Com diretrizes nacionais, o cidadão pode sentir respostas mais rápidas em crimes que cruzam estados. A PF tende a atuar de forma mais presente em investigações financeiras e ambientais que alimentam facções. A Polícia Viária Federal deve aparecer em rios e ferrovias, afetando rotas de contrabando e roubos de cargas. Guardas municipais podem ganhar protagonismo no bairro, com foco em prevenção e proximidade.

Governadores poderão acionar forças federais com menos atrito. Prefeituras terão de adaptar protocolos e treinar guardas para atuação ostensiva sem conflito de competências.

Tema O que muda
Diretrizes nacionais Plano de segurança e prisões com metas unificadas e participação de estados e municípios
Integração Atuação coordenada no Susp, com compartilhamento de dados e operações conjuntas
PF Mandato claro para investigar facções, milícias e crimes ambientais
Polícia Viária Federal Patrulhamento de rodovias, ferrovias e hidrovias; apoio a estados sob demanda
Guardas municipais Reconhecimento no sistema, policiamento ostensivo e comunitário, sem poder investigativo
Integridade Corregedorias autônomas e ouvidorias; controle do MP sobre guardas

Perguntas para orientar o debate local

  • Quanto sua cidade investe hoje em guarda municipal e tecnologia de integração?
  • Há protocolo de atuação conjunta com PM, Polícia Civil e PF? Quem coordena?
  • O sistema prisional estadual comporta metas nacionais sem colapsar vagas?
  • Quais ferrovias ou hidrovias próximas exigem patrulhamento viário federal?
  • Como funcionará a corregedoria e a ouvidoria para receber denúncias dos moradores?

Custos, riscos e ganhos esperados

A integração cobra interoperabilidade de dados, rádio, câmeras e softwares. Estados e municípios precisarão prever orçamento para treinamento e manutenção. Sem isso, o desenho legal vira letra morta. Há risco de sobreposição de operações e conflitos de mando. Para reduzir atritos, o plano nacional deve definir quem lidera cada tipo de ocorrência e como se compartilham provas.

Os ganhos esperados passam pela redução de duplicidades, foco em inteligência, rastreio financeiro e sufocamento de fontes de renda de facções. A expansão da atuação da PF tende a acelerar investigações complexas. Já o novo escopo da Polícia Viária Federal mira gargalos logísticos usados por criminosos, afetando roubos de cargas, tráfico de drogas e armas.

Se o Congresso entregar a votação em dezembro, 2026 já pode começar com regras novas e métricas de desempenho mais claras.

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