Você faria isso? casal cruza 2.980 km em 9 dias num Corcel 1977 sem ar para entregar carro no AM

Você faria isso? casal cruza 2.980 km em 9 dias num Corcel 1977 sem ar para entregar carro no AM

Uma estrada longa, um carro antigo e uma decisão que muda a rota de uma vida. O restante veio com poeira, calor e sorrisos.

O volante guiou uma história simples e cheia de detalhes. Um casal saiu do Sul rumo ao Norte a bordo de um Ford Corcel 1977. A viagem rendeu encontros, propostas inesperadas de compra e um desfecho que combina afeto com teimosia mecânica.

De Toledo ao coração do Amazonas

Hilário Zaltron e Janete Niedermeyer partiram de Toledo, no Paraná, com um objetivo claro: entregar o Corcel 1977 ao novo dono no Amazonas. Não acharam transporte por frete em condições viáveis. Eles decidiram levar o carro rodando. A jornada aconteceu em outubro e durou nove dias. O clássico seguiu sem ar-condicionado. O calor exigiu mais paradas e atenção com a água do radiador. A curiosidade das pessoas virou companhia a cada posto de gasolina.

Quase 3.000 km, nove dias na estrada e um Corcel 1977 sem ar. A viagem virou atração por onde passou.

Por que pegar a estrada

O transporte por caminhão não apareceu no prazo. O valor pedido por frete não compensava. A dupla avaliou riscos e preparou o carro em casa. Filtro, correias e parte elétrica passaram por revisão básica. A rota combinou estradas federais extensas e trechos de pista simples. O pneu sobressalente e um kit de ferramentas ficaram sempre à mão.

Ritmo de viagem e paradas

O ritmo ficou na casa dos 600 km por dia. As dormidas ocorreram em cidades com estrutura. Campo Grande, Cuiabá, Vilhena e Ariquemes entraram no mapa. As manhãs renderam mais, com temperaturas mais baixas. As tardes pediram paciência. O carro respondeu bem. O hodômetro já tinha passado de 100 mil km. A essa altura, qualquer ruído novo virava assunto dentro do carro.

Trechos percorridos (estimativas de distância e tempo)

Trecho Distância aprox. Tempo ao volante Observação
Toledo (PR) – Campo Grande (MS) 570–620 km 8–9 h Pista simples em longos segmentos
Campo Grande – Cuiabá (MT) 690–700 km 9–10 h Tráfego de caminhões na BR-163
Cuiabá – Vilhena (RO) 740–760 km 10–11 h Calor forte e acostamentos irregulares
Vilhena – Ariquemes (RO) 520–540 km 7–8 h Trechos com obras e lombadas
Ariquemes – Humaitá (AM) 200–250 km 4–5 h Condição de pista varia conforme o clima

Ritmo médio de 600 km por dia e paradas estratégicas para evitar o pico do calor.

O carro e o valor afetivo

O Corcel partiu de casa vendido. O comprador é Vilson Zaltron, irmão de Hilário. O preço combinado ficou em R$ 20 mil. O valor, em carros antigos, não mede só estado de conservação. História pesa. Procedência anima o comprador. Carro de família troca de dono com menos desconfiança. A planilha de custos da viagem incluiu combustível, hospedagem, alimentação e uma margem para imprevistos mecânicos. Nada grave aconteceu.

Quanto vale um Corcel 1977 hoje

O mercado de clássicos populares vive um bom momento. Corcel 1977 bem alinhado encontra público fiel. Preço varia por ano, versão, originalidade e ferrugem. Carro com documentação em dia e interior preservado ganha pontos. Uma boa revisão de freios e arrefecimento evita prejuízos maiores. O que atrai é o desenho limpo, a mecânica simples e peças ainda disponíveis em autopeças de nicho.

Curiosidade virou propostas de compra

O carro chamou atenção. Posto, semáforo e hotel viraram vitrine. Motoristas tiraram fotos e puxaram conversa. Teve gente que perguntou quanto custava. Teve gente que pediu para ouvir o motor. O casal recebeu mais de dez propostas informais ao longo do caminho. O carro não estava mais à venda. A entrega já tinha destino e nome. As conversas, no entanto, mostraram uma demanda real por clássicos rodando. Muita gente quer um antigo que não viva só de guincho e garagem.

“Daria para vender mais de dez vezes”, relatou Janete. A estrada virou vitrine e leilão improvisado.

Chegada a Humaitá e os planos até Manaus

A viagem terminou em Humaitá, no Amazonas. O encontro com o novo dono encerrou a parte rodoviária do trajeto. A partir dali, o plano envolve água. Vilson pretende embarcar o carro em uma balsa rumo a Manaus. O embarque depende de vaga. O tempo de navegação varia de seis a sete dias. O retorno do casal aconteceu de avião. A cabeça voltou cheia de histórias novas e marcas de sol nos braços.

O papel das balsas no Madeira

O Rio Madeira sustenta a logística de cargas e veículos na região. O regime de chuvas impacta o nível da água. A variação afeta o tempo de viagem e a frequência de embarques. Trechos rodoviários alternativos sofrem com atoleiros no período chuvoso. A combinação estrada-rio resolve deslocamentos longos. Para o carro antigo, a navegação reduz desgaste mecânico e risco em buracos profundos.

De Humaitá a Manaus, a balsa leva cerca de uma semana. Estrada ruim e chuva tornam a rota fluvial mais segura.

Se você pensa em viajar com um clássico

Viajar com um carro antigo exige preparo. O roteiro precisa respeitar o ritmo do veículo. Paradas frequentes ajudam a checar vazamentos e temperaturas. Uma revisão preventiva custa menos que um resgate no meio do nada. Seguem pontos práticos para quem cogita uma travessia longa com um modelo dos anos 1970 ou 1980.

  • Arrefecimento: limpe radiador, teste válvula termostática e verifique mangueiras ressecadas.
  • Ignição: leve jogo de velas, cabos e um platinado/ignição reserva se o sistema for original.
  • Freios: troque fluido, revise cilindros e verifique pastilhas e lonas.
  • Pneus: confira DOT, calibragem, estepe e chave de roda funcional.
  • Elétrica: fusíveis sobressalentes, relés e uma lâmpada de teste ajudam em emergências.
  • Ferramentas: jogo básico, fita isolante, abraçadeiras e aditivos de uso rápido.
  • Documentos: CRLV atualizado, recibo de compra e venda assinado e reconhecido quando houver transferência.
  • Seguro: avalie cobertura para guincho em longa distância e danos a terceiros.

Custos, clima e riscos do caminho

O consumo de um Corcel carburado fica, em média, entre 8 e 12 km/l em rodovia, dependendo de vento, carga e pé do motorista. Com gasolina comum, a planilha muda conforme o preço regional. Hospedagem em rota principal apresenta variação grande entre capitais e cidades pequenas. No Centro-Oeste e Norte, o calor exige hidratação. O horário do meio-dia amplia a chance de fervura. Chuvas intensas mudam a aderência e escondem buracos. A atenção precisa dobrar em pontes antigas e trechos sem acostamento.

Por que histórias assim conectam tanta gente

O Brasil mantém um vínculo afetivo com carros populares que marcaram décadas. O Corcel já transportou família, comprou feira e atravessou feriados. Ver um deles vencendo milhares de quilômetros mexe com memórias. A viagem do casal mostra que planejamento compensa. Mostra também que existe público disposto a investir em um clássico rodante. Vende mais quem cuida, quem documenta manutenção e quem roda regularmente. Carro parado cria problema silencioso.

Informações úteis para quem pretende repetir a rota

As rodovias que ligam o Sul ao Norte passam por longos trechos de pista simples e tráfego pesado de caminhões. Antes de sair, consulte condições da BR-163 e BR-364 e acompanhe boletins de chuva. Para a perna até Manaus, busque empresas de navegação no Rio Madeira com antecedência. Reserve vaga para o veículo e confirme exigências de amarração e fuel-off durante o embarque. Leve capa de banco e capa de carro para proteger o interior da umidade durante a travessia. Prepare uma caixa estanque para documentos e ferramentas pequenas.

Quem compra um carro antigo de parente deve formalizar a transferência no prazo legal. O preenchimento correto do CRV evita multas e impedimentos. Uma vistoria cautelar documenta número de motor e chassi. Esse cuidado aumenta o valor de revenda no futuro. Se o plano incluir viagens, mantenha um caderno de bordo com trocas de óleo, quilometragem e rotas. Essa memória técnica poupa dinheiro e salva viagens inteiras.

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