Mitos sobre HPV e rotina de exames ainda confundem homens, enquanto a campanha Novembro Azul provoca conversas difíceis e necessárias.
No auditório do Correio Braziliense, um debate gratuito acontece hoje, às 14h, para recolocar a saúde do homem no centro da conversa. Especialistas discutem prevenção do câncer de próstata, diagnóstico precoce e barreiras culturais que afastam muitos brasileiros do cuidado contínuo.
O que a pesquisa revela
Um levantamento da MSD Saúde em parceria com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) encontrou um ponto cego preocupante. Entre os homens consultados, 64% não relacionam HPV e câncer. Mais da metade acredita que o vírus não causa verrugas genitais. Apenas 34% reconhece que a infecção pode evoluir para tumores.
Quase metade dos entrevistados não sabe que exames regulares ajudam a detectar o HPV. E 45% acham que camisinha basta.
Ainda segundo os dados, cerca de um em cada cinco homens acima de 15 anos carrega ao menos um tipo de HPV com potencial oncogênico. O vírus está presente em cerca de 5% de todos os casos de câncer no mundo. Mais de 80% das pessoas sexualmente ativas entram em contato com o HPV até os 45 anos.
Um em cada cinco homens pode ter um subtipo de HPV ligado a câncer, muitas vezes sem apresentar sintomas.
Mesmo quem diz saber o que é HPV mantém crenças frágeis. O vírus segue atrás de HIV, sífilis e gonorreia na memória imediata do público masculino. Entre homens de maior renda, persiste a ideia de proteção total pelo preservativo. A camisinha reduz o risco de exposição, mas não elimina completamente a transmissão por contato pele a pele, o que inclui áreas não cobertas.
Debate no Correio: prevenção em pauta
O encontro “Novembro Azul: a saúde do homem em foco” reúne médicos, gestores e pacientes para discutir prevenção, diagnóstico e tratamento. A proposta mira a mudança de comportamento: sair do cuidado esporádico e adotar rotina de acompanhamento.
- Horário e local: hoje, 14h, auditório do Correio Braziliense
- Formato: presencial com inscrição gratuita e transmissão ao vivo
- Moderação: Carmen Souza (Opinião) e Carlos Alexandre de Souza (Política, Brasil e Economia)
- Convidados confirmados: Juracy Lacerda (Saúde-DF), Marcello Caio (Kora Saúde/Hospitais Anchieta), Carlos Watanabe (uro-oncologia e cirurgia robótica), Fernando Croitor (linha de cuidados de urologia), Guilherme Coaracy (SBU), Luciano Lourenço (clínico geral e educador físico), Paulo de Assis (oncologia do Hran) e Igor Morbeck (Instituto Lado a Lado pela Vida)
Por que falar de próstata agora
O câncer de próstata permanece como o tumor mais frequente entre homens no Brasil, desconsiderando pele não melanoma. O diagnóstico no início aumenta as chances de tratamento menos agressivo e reduz complicações, como metástases ósseas e sintomas urinários persistentes.
A SBU recomenda avaliação anual a partir dos 50 anos. Homens negros ou com pai, irmão ou filho com histórico da doença devem começar aos 45. A decisão sobre rastreamento envolve conversa franca com o médico sobre benefícios e riscos, incluindo a possibilidade de “vigilância ativa” para tumores de baixo risco.
HPV, próstata e cultura de prevenção
HPV não causa câncer de próstata. Ainda assim, o vírus impacta a saúde masculina ao se associar a tumores de pênis, ânus e orofaringe. O dado da pesquisa serve como alerta para o que está por trás do problema: desinformação, constrangimento e a crença de que prevenção é assunto do futuro. Não é.
Esse pano de fundo aparece quando metade dos homens desconhece o papel de exames regulares. E quando muitos acreditam que só camisinha resolve. O cuidado com a próstata passa, também, por ampliar o repertório de saúde sexual, vacinação e hábitos que reduzem risco metabólico, como alimentação balanceada, controle de peso e atividade física.
| Mito | Fato |
|---|---|
| “Camisinha elimina o risco de HPV.” | Reduz o risco, mas não bloqueia totalmente o contato pele a pele. |
| “HPV é problema só das mulheres.” | Homens também adoecem e transmitem; há associação com vários tipos de câncer. |
| “Se não tenho sintomas, está tudo bem.” | Muitos casos de HPV e de câncer de próstata no início são assintomáticos. |
| “PSA substitui o toque retal.” | Os exames se complementam; a decisão é compartilhada com o médico. |
Exames que fazem diferença
Na próstata, o cuidado começa com anamnese e segue para exames. PSA no sangue e toque retal avaliam, juntos, o risco. Alterações sustentadas indicam exames de imagem e, se necessário, biópsia. Para acompanhamento, a equipe pode adotar vigilância ativa, radioterapia, cirurgia ou terapias combinadas, conforme o estágio e o perfil do paciente.
Na prevenção de ISTs, testes regulares para HIV, sífilis e hepatites ajudam a tratar cedo. Em caso de lesões genitais, dor, sangramento ou verrugas, a avaliação deve ser imediata para diagnóstico diferencial e tratamento dirigido.
Vacinação: proteção que começa cedo
O SUS oferece vacina contra HPV para meninos de 9 a 14 anos, além de grupos especiais. Adultos fora dessas faixas podem conversar com o médico sobre opções em serviços privados. Quanto mais cedo a imunização, maior a proteção populacional contra subtipos ligados a câncer e verrugas.
Vacinar meninos hoje reduz a circulação do HPV amanhã e protege parceiros e parceiras ao longo da vida.
Como se preparar para a consulta
- Anote sintomas urinários, dor pélvica, histórico familiar e uso de medicamentos.
- Leve exames anteriores e registros de PSA para comparar tendências.
- Liste dúvidas sobre rastreamento, riscos e alternativas de tratamento.
- Combine com o médico o intervalo entre consultas e exames.
Sinais que exigem atenção
Jato fraco ao urinar, aumento da frequência noturna, sangue na urina ou no sêmen e dor óssea persistente merecem avaliação. Em casos avançados, a doença pode espalhar-se e causar perda de peso e fadiga intensa. Atrasar a consulta prolonga sintomas e limita opções terapêuticas.
O que esperar do debate de hoje
Os convidados discutem caminhos para reduzir barreiras culturais, qualificar o rastreamento e ampliar acesso. O foco recai na educação baseada em evidências e na integração entre saúde sexual, prevenção do câncer e vida ativa. Haverá espaço para perguntas do público, inclusive sobre mitos que resistem nas conversas de família e nos grupos de amigos.
Informações práticas para você agir
- Se tem 50 anos ou mais, agende uma avaliação urológica anual.
- Se é negro ou tem parente de primeiro grau com câncer de próstata, inicie aos 45.
- Mantenha peso adequado, pratique exercícios e reduza álcool e ultraprocessados.
- Faça testes regulares para ISTs conforme orientação de saúde.
Para quem deseja entender melhor riscos e benefícios, vale pedir ao médico uma simulação de condutas: o que muda se o PSA vier alto, como funciona a biópsia por imagem, quando optar por vigilância ativa. Esse roteiro ajuda a decidir sem pressa e com menos ansiedade.
Conversar com a família também faz diferença. Definir um “dia da saúde” no mês, registrar resultados em um caderno ou aplicativo e combinar metas simples, como 150 minutos semanais de atividade física, aumenta a adesão ao cuidado ao longo do tempo. A prevenção começa na agenda e se sustenta no hábito.


