Você já sentiu isso na USP? 4 razões pelas quais o prêmio a Silvana Nascimento muda sua vida

Você já sentiu isso na USP? 4 razões pelas quais o prêmio a Silvana Nascimento muda sua vida

Enquanto ataques a estudos de gênero se intensificam, a academia reage com reconhecimento, políticas públicas e novas vozes mobilizadas.

Em São Paulo, uma cerimônia reuniu pesquisadoras, pesquisadores e ativistas para reconhecer trajetórias que afetam seu cotidiano, das salas de aula às ruas.

Quem é Silvana Nascimento

Silvana de Souza Nascimento é professora do Departamento de Antropologia e vice-diretora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Há quase duas décadas, ela investiga gênero, sexualidade e o movimento trans com abordagem etnográfica, formando novas gerações de cientistas sociais. Seu trabalho articula pesquisa, ensino e participação em debates públicos, conectando o que acontece nas periferias, nos serviços de saúde e nos espaços culturais.

Ao longo dessa trajetória, Silvana assumiu orientação de estudantes de diversos perfis, desenvolveu projetos coletivos e ajudou a consolidar núcleos de estudo dedicados a temas frequentemente pressionados por ondas de desinformação. Esse papel ganhou novo fôlego com um reconhecimento que ecoa além da academia.

Reconhecer trajetórias em pesquisas de gênero e sexualidade protege pessoas, dá lastro a políticas e fortalece a cidadania.

O que é o prêmio Janaína Lima

O Prêmio Janaína Lima de Luta pelos Direitos LGBTQI+ foi criado pela Frente Parlamentar LGBTQI+ da Assembleia Legislativa de São Paulo. A primeira edição ocorreu em 16 de outubro, na Unidade Roosevelt da SP Escola de Teatro. A premiação valoriza quem se destaca na promoção de direitos humanos e da cidadania no estado, unindo ciência, ativismo e trabalho institucional.

Categoria Pesquisadores
Cerimônia 16 de outubro, Unidade Roosevelt da SP Escola de Teatro, em São Paulo
Organização Frente Parlamentar LGBTQI+ da Alesp
Homenageada Silvana de Souza Nascimento (FFLCH-USP)

Por que o reconhecimento importa

Homenagens públicas como essa criam uma base de confiança. Elas ampliam redes, atraem investimentos em pesquisa e ajudam gestoras e gestores a adotar diretrizes baseadas em evidências. Quando uma pesquisadora com longo histórico de atuação recebe destaque, o resultado aparece em salas de aula mais seguras, cursos atualizados e projetos de extensão com impacto real.

A ciência se traduz em políticas quando encontra respeito institucional e diálogo com a sociedade.

Uma rede de pesquisadores e ativistas

Silvana dividiu a categoria com referências como Regina Facchini (Unicamp), Renan Quinalha (Unifesp) e Leonardo Lemos de Souza (Unesp). A presença desses nomes indica um campo consolidado, com produção contínua desde os anos 1980 e forte inserção em universidades públicas. A premiação também reverenciou legados que inspiram novas práticas no cuidado, na educação e na defesa de direitos.

Nomes homenageados e legados citados

Ao reconhecer sua trajetória, Silvana projetou a memória de quem pavimentou esse caminho. Ela dedicou o momento à travesti e ativista Fernanda Benvenutty, símbolo de resistência e acolhimento, e ao ativista Luciano Bezerra, da Universidade Federal da Paraíba, cuja atuação ajudou a articular redes de apoio. Essa memória viva mantém a pesquisa conectada às urgências das ruas.

Desafios e avanços no Brasil

O campo de estudos de gênero e sexualidade expandiu-se rapidamente. Cresceu a produção acadêmica, surgiram grupos interdisciplinares e multiplicaram-se teses que dialogam com saúde pública, educação, cultura e direitos. Ao mesmo tempo, movimentos antigênero tentaram censurar materiais didáticos, intimidar pesquisadoras e restringir debates em escolas e universidades.

Nesse cenário, a universidade serve como abrigo e como ponte. Abrigo, porque garante condições de pesquisa e liberdade acadêmica. Ponte, porque aproxima gestores públicos, movimentos sociais e profissionais de saúde. O resultado aparece na melhoria de protocolos de atendimento, no desenho de ações afirmativas e na qualificação de servidores.

Quando pesquisa, serviço público e movimentos sociais se conectam, a cidadania deixa o papel e vira prática cotidiana.

Da pesquisa às políticas públicas

Vários projetos no estado de São Paulo mostram essa tradução. Eles incluem acolhimento a pessoas trans em equipamentos municipais, formação de equipes para o enfrentamento à violência e iniciativas culturais que valorizam trajetórias LGBTQI+. A experiência de pesquisadoras e pesquisadores fornece diagnósticos, indicadores e metodologias capazes de orientar decisões de orçamento e metas institucionais.

Quatro razões para você se importar

  • Visibilidade que protege: quando universidades reconhecem pesquisas de gênero, estudantes e servidores têm mais respaldo para atuar sem medo.
  • Políticas melhor desenhadas: dados qualificados ajudam a reduzir violência, ampliar acesso a saúde e criar rotas de empregabilidade.
  • Aula que faz sentido: currículos atualizados reduzem evasão e aumentam a permanência de grupos historicamente excluídos.
  • Rede que sustenta: prêmios aproximam laboratórios, coletivos e órgãos públicos, acelerando soluções em escala local.

Quem foi Janaína Lima

O prêmio leva o nome de Janaína Lima (1975–2021), figura central na defesa de direitos da população LGBTQI+. Sua atuação passou pelo Centro de Referência e Defesa da Diversidade Brunna Valin, pelo Programa Transcidadania da Prefeitura de São Paulo e pela Rede Trans Brasil. O legado inspira práticas de acolhimento, acesso a documentação, formação profissional e apoio psicossocial.

Como a comunidade pode se engajar

Estudantes, docentes e servidores podem transformar reconhecimento em rotina. Isso acontece com oficinas regulares, editais que estimulem pesquisas aplicadas e protocolos de denúncia acessíveis. Também passa por bibliografias plurais, parcerias com serviços de saúde e projetos culturais que valorizem memórias locais.

Passos práticos para estudantes e professores

  • Criar grupos de leitura com produção recente sobre gênero e sexualidade, privilegiando autoras e autores brasileiros.
  • Mapear serviços públicos de referência para casos de violência e discriminação e afixar contatos em murais.
  • Propor disciplinas de extensão voltadas ao atendimento e à escuta qualificada, com supervisão de especialistas.
  • Coletar dados anônimos sobre vivências no campus e apresentar relatórios a colegiados para ajustes de política interna.

Informações que ampliam o debate

Frentes parlamentares como a que organiza o prêmio funcionam como canais institucionais para receber demandas e construir agendas com a sociedade civil. Projetos que nascem desses espaços conseguem dialogar com orçamento e cronogramas, saindo do campo retórico. Ao mesmo tempo, a presença de universidades públicas garante que as medidas se apoiem em evidências, e não em achismos.

Para quem pesquisa ou atua em gestão, vale acompanhar indicadores de violência contra pessoas LGBTQI+, dados de acesso à saúde e taxas de evasão escolar. Com essas métricas, é possível simular impactos de políticas, priorizar ações e medir resultados. Eventos de reconhecimento, como o que celebrou Silvana Nascimento, ajudam a manter essas agendas no radar e a convocar mais gente para construir respostas concretas, do bairro à sala de decisão.

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