Entre abelhas, marretas e muita teimosia, um agricultor do Vale do Itajaí transformou o tempo livre em projeto de vida.
A trajetória de Dionísio Bertoldi, morador de Rodeio, em Santa Catarina, prova que persistência muda cenários. Descendente de italianos, ele decidiu erguer uma residência de pedra com referências ao país dos antepassados e encontrou na própria terra o material que daria forma ao plano. O resultado nasceu de trabalho lento, estudo de técnicas e atenção aos detalhes.
Uma casa que nasceu de um quebra-cabeças
O agricultor colecionou pedras de tamanhos e formatos variados e, com as mãos, tratou cada peça como se fosse única. Cortou, ajustou e assentou elemento por elemento, sem recorrer a máquinas. Parte do material saiu do quintal. Quando faltou, comprou o que fazia sentido para manter o padrão visual e a estabilidade das paredes.
Entre 2,5 mil e 3 mil pedras foram cortadas e encaixadas manualmente, peça por peça, até a casa ganhar forma.
Como a obra começou
Em 1995, ele separou as primeiras rochas nas horas livres do trabalho na roça. Buscou ferramentas adequadas, aprendeu técnicas de assentamento, de prumo e de amarração de cantos. Ajustou processos ao longo do tempo. Quando pegou o jeito, passou a acelerar as etapas mais repetitivas, como nivelar fileiras e conferir o alinhamento das aberturas.
O objetivo era simples e afetivo: criar um lar com cara de passado italiano, usando o que a terra lhe oferecia.
Vinte anos de obra paciente
O projeto atravessou duas décadas e concluiu em 2015. Nesse caminho, não faltaram tropeços. As mãos sentiram o peso da marreta. Abelhas atacaram na mata. Ferramentas quebraram. Vizinhos sugeriram atalhos. Ele insistiu no material escolhido e manteve o traço rústico, visível hoje nas paredes expostas.
- Início da obra: 1995, em Rodeio (SC), no Vale do Itajaí.
- Conclusão: 2015, após avanços em fases e longas pausas de planejamento.
- Estimativa de material: entre 2,5 mil e 3 mil pedras selecionadas e ajustadas.
- Ambientes: 10 cômodos distribuídos para uso cotidiano.
- Paredes: cerca de 25 cm de espessura, sem reboco nem tinta.
- Esquadrias: portas feitas por ele; janelas encomendadas a profissionais.
Detalhes de arquitetura e estrutura
O desenho segue referências de construções italianas de campo, com volumetria simples, paredes generosas e visual áspero. A espessura ajuda no isolamento térmico e na inércia térmica, reduzindo variações bruscas de temperatura. Para dar segurança, ele avançou por etapas curtas, checava prumo com frequência e alternava peças maiores e menores para travar as fiadas.
| Aspecto | Vantagens | Desafios |
|---|---|---|
| Parede de pedra | Durabilidade, baixa manutenção, conforto térmico | Peso elevado, necessidade de boa fundação e drenagem |
| Acabamento sem reboco | Estética rústica, economia de materiais | Exige seleção criteriosa de pedras e bom assentamento |
| Trabalho manual | Controle total do resultado, adaptação a imprevistos | Ritmo lento, esforço físico, risco de lesões |
Raiz italiana e pertencimento
Ao abrir mão de reboco e tinta, Dionísio expôs a textura das rochas e reforçou a identidade do projeto. A escolha dialoga com a memória familiar. A casa carrega o orgulho da ascendência italiana e a paisagem serrana de Santa Catarina, com o Vale do Itajaí ao redor. O estilo também conversa com técnicas tradicionais de construção em pedra, difundidas por imigrantes e reinterpretadas em solo brasileiro.
O que essa construção ensina
Projetos longos pedem método. Dionísio separou dias para coletar material e outros para medir, cortar e encaixar. O ritmo constante evitou desperdícios e revisões caras. Planejamento de fundação, drenagem e circulação interna surgiu antes do último tijolo de pedra. As portas, feitas pelo próprio morador, e as janelas, encomendadas, mostram como combinar trabalho autoral e serviços especializados.
- Planejamento urbano: consulte a prefeitura para saber regras de zoneamento e licenças.
- Segurança: luvas, óculos e protetores auditivos reduzem lesões comuns em corte e marreta.
- Drenagem: calhas, ralos e beirais evitam infiltração e erosão na base das paredes.
- Manutenção: revisão de juntas e limpeza de fungos preservam o aspecto natural da pedra.
- Logística: organize pilhas por tamanho e formato para agilizar encaixes e reduzir retrabalho.
Quanto trabalho cabe em 3 mil pedras
A escala do esforço ganha clareza quando viramos os números do avesso. Em duas décadas, 3 mil pedras equivalem a 150 por ano. Isso dá cerca de 12 por mês, algo em torno de três por semana. O cálculo mostra um processo viável, ainda que demorado, quando se distribui a meta ao longo do tempo e se mantém constância.
3 mil pedras em 20 anos significam 150 por ano, 12 por mês e 3 por semana — persistência multiplicada em rotina.
Para quem pensa em começar
Um caminho seguro passa por obras menores antes de encarar uma casa inteira. Muros de arrimo de baixa altura, canteiros elevados, escadas de jardim e muros de divisa com boa drenagem ajudam a treinar corte, prumo e amarração. Quem deseja levar adiante uma residência de pedra precisa avaliar fundação, peso distribuído e soluções de cobertura que aliviem cargas nas paredes.
Há riscos a considerar. Cortes e pancadas exigem disciplina com EPIs. O peso do material pede ergonomia e pausas para evitar lombalgias. Em regiões chuvosas, a base precisa escoar água com eficiência. Já as vantagens compensam: conforto térmico, longa vida útil, baixo custo de manutenção e um visual que envelhece bem.
Para estimar esforço, use metas semanais. Uma rotina de três peças bem ajustadas por semana, com seleção e corte adequados, constrói 150 por ano. Em cinco anos, essa cadência ergue um anexo, um ateliê ou um galpão compacto. O segredo mora no começo: escolha pedra de boa qualidade, organize o canteiro, separe ferramentas (marreta, talhadeira, nível, prumo) e defina a drenagem antes da primeira fiada.


