Acidentes à mesa surgem sem aviso. Em segundos, a respiração falha, o pânico cresce e a reação certa pode mudar o desfecho.
Sem alguém por perto, muita gente trava. Há, porém, técnicas simples que multiplicam as chances de liberar a via aérea, ganhar tempo e pedir ajuda do jeito certo.
Por que o engasgo exige ação imediata
Quando um alimento ou objeto bloqueia a traqueia, o oxigênio não chega aos pulmões. A pessoa perde força, desmaia e, sem intervenção, o quadro evolui rápido. O corpo até tenta expulsar o obstáculo com tosse. Mas, se a obstrução é total, a tosse some, a voz não sai e os lábios podem ficar arroxeados.
Como diferenciar obstrução parcial e total
- Obstrução parcial: a pessoa tosse, fala com dificuldade, respira ruidosamente. Ajude-a a tossir e vigie.
- Obstrução total: não tosse, não fala, não respira ou apenas ofega; pode levar as mãos ao pescoço.
Se a pessoa ainda tosse e fala, incentive a tosse. Não aplique compressões abdominais nesse momento.
Sozinho? Como realizar a autocompressão com segurança
Quando não há ninguém por perto, dá para adaptar a manobra de Heimlich usando o próprio corpo e uma superfície firme. A ideia é criar uma pressão súbita no abdômen superior para empurrar o ar residual dos pulmões e ejetar o objeto.
Passo a passo da técnica de autossalvamento
- Apoie a parte superior do abdômen, logo acima do umbigo, no encosto de uma cadeira, na quina de uma mesa ou no corrimão.
- Incline o tronco para frente para não aspirar ainda mais o objeto.
- Empurre o abdômen contra a borda com movimentos rápidos e vigorosos, para dentro e para cima.
- Repita até expulsar o objeto, conseguir tossir forte ou respirar melhor.
- Se tiver fôlego, ligue para 192 (SAMU) ou 193 (Bombeiros) em viva-voz entre as tentativas.
Sozinho e sem ar? Use a borda de uma cadeira como “alavanca”. Compressões firmes e repetidas aumentam a chance de desobstrução.
Cuidados para reduzir riscos
- Grávidas e pessoas com obesidade: prefira compressões na região do esterno, usando o peito contra a borda, e não o abdômen.
- Evite golpes descontrolados que possam causar lesão de costelas ou do baço. Mire a borda acima do umbigo, abaixo do esterno.
- Não introduza os dedos às cegas na boca. Isso empurra o objeto ainda mais.
- Não beba água ou tente “forçar” o alimento para baixo.
Diretriz atual: 5 pancadas nas costas e 5 compressões
As recomendações de entidades internacionais, como a AHA, foram atualizadas recentemente. Para vítimas conscientes, crianças e adultos, o protocolo com ajuda presencial alterna dois tipos de intervenção: pancadas interescapulares e compressões abdominais.
- Posicione-se ao lado e ligeiramente atrás da vítima.
- Dê 5 pancadas firmes entre as escápulas, com a base da mão, inclinando a vítima para frente.
- Se não funcionar, faça 5 compressões abdominais: posicione o punho acima do umbigo, cubra com a outra mão e puxe para dentro e para cima.
- Repita a sequência 5–5 até a via aérea liberar ou a pessoa perder a consciência.
| Faixa etária | Técnica com ajuda | Observações |
|---|---|---|
| Adultos | 5 pancadas nas costas + 5 compressões abdominais | Obesos/gestantes: substituir por compressões torácicas |
| Crianças (1 a 8 anos) | Mesma sequência 5–5, adaptando força | Manter a cabeça da criança levemente inclinada para frente |
| Lactentes (menos de 1 ano) | 5 golpes nas costas + 5 compressões torácicas com dois dedos | Nunca realizar compressão abdominal em bebês |
Perdeu a consciência? Inicie compressões torácicas e acione 192 ou 193 imediatamente. Um desfibrilador externo automático, se disponível, deve ser trazido.
Sinal universal de socorro: peça ajuda sem voz
Quem está engasgado e consciente costuma levar as duas mãos ao pescoço. Esse gesto é o pedido de ajuda reconhecido no mundo todo. Ao perceber o sinal, chegue por trás da vítima, pergunte se ela está engasgada e diga que vai ajudar. Aplique o protocolo 5–5. Se estiver sozinho, direcione alguém a ligar para os serviços de emergência e a buscar um desfibrilador no local.
Após a liberação, avalie a respiração por alguns minutos. Dor no peito, tosse persistente, chiado ou febre nas horas seguintes podem indicar aspiração de fragmentos e exigem avaliação médica. Mesmo quando o objeto sai, microlesões na garganta ou no estômago podem ocorrer.
O que não fazer em hipótese alguma
- Não bata nas costas de quem está com tosse eficaz. Isso pode piorar a obstrução.
- Não ofereça líquidos, pão ou arroz “para empurrar”. O risco de asfixia aumenta.
- Não tente técnicas vistas sem treinamento que envolvam pressão no pescoço ou manobras perigosas.
Prevenção que cabe no dia a dia
Pequenos hábitos reduzem muito a chance de engasgo. Corte alimentos redondos, como uvas e salsichas, em tiras no sentido do comprimento. Mastigue devagar e evite falar ou rir com comida na boca. Limite álcool quando for comer. Ajuste próteses dentárias. Mantenha moedas, tampinhas e peças pequenas fora do alcance de crianças.
- Com crianças: não ofereça amendoim ou balas duras; supervisione refeições.
- Com idosos: adapte a textura dos alimentos e avalie dificuldades de deglutição com um fonoaudiólogo.
- Em restaurantes: identifique saídas, saiba onde há cadeiras firmes e locais para apoiar o abdômen em caso de emergência.
Treine antes de precisar
Simulações simples ajudam o corpo a reagir. Reproduza o gesto do sinal universal diante do espelho. Pratique a posição da mão para compressões abdominais, sem força, para memorizar o ponto exato acima do umbigo. Observe no ambiente onde há superfícies firmes adequadas para autocompressão. Esse repertório mental encurta o tempo entre o susto e a ação.
Para quem convive com crianças, vale treinar a sequência específica para lactentes usando um boneco. Profissionais de saúde recomendam cursos rápidos de primeiros socorros que incluem engasgo, reconhecimento de obstrução parcial e total, e noções de reanimação cardiopulmonar. A combinação de informação e prática protege famílias inteiras e reduz mortes evitáveis.


