Enquanto as linhas de montagem no ABC aceleram, países vizinhos ampliam pedidos por ônibus mais potentes e eficientes.
De janeiro a setembro de 2025, a Mercedes-Benz, com produção em São Bernardo do Campo (SP), se consolidou como protagonista nas vendas externas de ônibus do Brasil. Impulsionada por encomendas de micros e rodoviários, a marca converteu a demanda regional em números expressivos, com destaque para a América Latina.
Participação histórica nas exportações
Segundo dados da Anfavea, a Mercedes-Benz respondeu por 84,84% das exportações brasileiras de ônibus no acumulado de 2025 até setembro. No total, 5.233 chassis e veículos completos deixaram o país; desses, 4.440 saíram da planta de São Bernardo do Campo. O mercado externo de ônibus cresceu cerca de 60% frente ao mesmo período de 2024, enquanto a Mercedes avançou 48,8%.
A cada 10 ônibus brasileiros exportados em 2025, quase 9 levam a estrela de três pontas. São 4.440 unidades embarcadas.
Esse movimento não indica perda de relevância para a marca. A participação seguiu elevada e os destinos estratégicos mantiveram ritmo de compras. A proximidade logística e o pós-venda estruturado no continente sustentaram o desempenho, em meio à renovação de frotas e a novos contratos de transporte.
América Latina puxa a fila
Os vizinhos latino-americanos receberam 86,23% das exportações da Mercedes-Benz no período. Argentina, Chile, Peru e Colômbia lideraram os pedidos, com altas relevantes de volume em 2025 contra 2024.
86,23% dos chassis e ônibus exportados pela Mercedes-Benz tiveram como destino países da América Latina.
| País | Unidades em 2025 (jan–set) | Variação vs. 2024 |
|---|---|---|
| Argentina | 2.305 | +95,2% |
| Chile | 518 | +33,2% |
| Peru | 404 | +56,0% |
Os embarques refletem acordos comerciais e uma rede de distribuição madura. As encomendas crescem onde há renovação de frotas, expansão de serviços rodoviários e contratos para operações severas, como a mineração chilena.
Micros e rodoviários no comando
O mix exportado mostra onde está o apetite do mercado. Micros e rodoviários lideram, enquanto os urbanos ocupam um espaço menor neste ciclo.
- Micros: 45% do total, favorecidos por rotas curtas, fretamento, turismo regional e transporte escolar.
- Rodoviários: 40% do total, sustentados pela retomada de viagens interestaduais e interprovinciais.
- Urbanos: 15% do total, com compras mais pontuais e orçamentos municipais ainda ajustados.
Para operadores, os micros oferecem baixo custo de aquisição e manutenção, além de maior flexibilidade de rotas. Já os rodoviários entregam conforto e rendimento em médias e longas distâncias, ponto-chave para países com redes rodoviárias extensas e relevo desafiador.
O 500 rs 1945 puxa as vendas
O rodoviário O 500 RS 1945 lidera as vendas por modelo. De dois eixos, combina robustez com boa relação peso-potência, o que agrada em aplicações regionais e interestaduais. A disponibilidade de peças e de suporte técnico na região reduz paradas e dá previsibilidade ao custo por quilômetro.
Chile em foco: operação severa e alta potência
No Chile, a Mercedes-Benz apresentou a nova geração Euro 6 do O 500 voltada a tráfego pesado, conhecida como “El Más Potente”. A marca confirmou 100 unidades vendidas para aplicações que exigem torque elevado, chassis reforçado e pneus preparados para terrenos agressivos, como estradas de acesso a minas.
Esse tipo de operação demanda calibração específica de motor, arrefecimento dimensionado e suspensão robusta. Ao embarcar do Brasil, o produto chega adaptado à topografia andina e ao ciclo operacional de mineração, que concentra longos trechos de subida, poeira e variações térmicas.
Por que os vizinhos compram do Brasil
Três fatores explicam a força do polo de São Bernardo do Campo: escala, proximidade e serviços. A produção em volume viabiliza preços competitivos. A logística por rodovia e porto reduz prazos. A rede de concessionários e treinamentos mantém a frota disponível por mais tempo.
Há também o efeito câmbio, que torna o produto brasileiro mais atrativo em alguns países em 2025. Em paralelo, regras de emissões e metas de segurança aceleram a renovação de frota, beneficiando plataformas Euro 6 já consolidadas no Brasil.
O que muda para frotistas e passageiros
Para frotistas, a oferta de micros modernos reduz custo fixo e aumenta a taxa de ocupação em rotas sazonais. Nos rodoviários, a eficiência dos motores Euro 6 e o gerenciamento eletrônico ajudam a cortar consumo, sem sacrificar desempenho em serra. Para passageiros, isso se traduz em viagens mais silenciosas, menos vibração e intervalos menores entre manutenções que param o veículo.
Micros e rodoviários em alta sinalizam trajetos mais frequentes, viagens mais confortáveis e custos operacionais sob controle.
Riscos, atenção e oportunidades
A concentração em mercados latino-americanos traz risco de volatilidade cambial e ciclos políticos. Operadores e fabricantes precisam diversificar contratos e manter hedge de custos, especialmente em pneus, lubrificantes e componentes importados.
Há espaço para crescer em serviços: contratos de manutenção por disponibilidade, pacotes de telemetria e treinamento de motoristas para condução econômica. Isso preserva valor residual e melhora o TCO ao longo do ciclo de vida do ônibus.
Como planejar compras em 2025
- Simule o TCO por 5 a 7 anos com cenários de diesel, câmbio e rodagem.
- Cheque homologações locais e requisitos de emissões antes de especificar o chassi.
- Priorize contratos de manutenção com metas de disponibilidade e reposição rápida.
- Adapte o trem de força à rota: aclives exigem mais torque e gerenciamento térmico.
Olho na transição tecnológica
A eletrificação avança de forma gradual na região. Enquanto isso, o Euro 6 domina as compras por combinar redução de emissões com boa autonomia em longas rotas. Para operadores interessados em tecnologias alternativas, convém mapear infraestrutura, inclinações das rotas e disponibilidade de financiamento, já que o CAPEX inicial mais alto pede contratos de longa duração e previsibilidade de demanda.
Para quem trabalha com fretamento, turismo regional ou serviços em áreas remotas, o atual portfólio a diesel segue como opção de menor risco. A projeção de curto prazo aponta continuidade das exportações com micros e rodoviários na liderança, sustentadas por Argentina e Chile, e com o O 500 RS 1945 como referência de desempenho e disponibilidade de peças.


