A rotina do Hospital Santa Rita mudou e Vitória acompanha apreensiva. Entre corredores silenciosos, famílias buscam respostas, cuidado e alívio.
O surto registrado no Hospital Santa Rita mobiliza equipes, pacientes e a comunidade. Em meio à incerteza, sinais de melhora surgem, enquanto a apuração aponta para um possível agente invisível presente no ambiente.
Melhora da técnica de enfermagem
A técnica de enfermagem de 48 anos, considerada o caso mais grave entre os profissionais afetados, apresentou avanço clínico relevante. Ela foi extubada na quinta-feira (30) e permanece na UTI, mas já respira sem suporte de aparelhos.
Extubada e consciente, a profissional caminha sem oxigênio suplementar e pode deixar a UTI em breve, segundo a família.
A infectologista Carolina Salume, coordenadora do Controle de Infecção Hospitalar do Santa Rita, relatou evolução consistente no quadro. O filho da paciente confirmou a melhora e disse esperar a transferência para o quarto nos próximos dias.
O que dizem os médicos
A equipe assiste a colaboradora de perto e ajusta o tratamento conforme resultados laboratoriais. O foco diário está em estabilizar parâmetros respiratórios, monitorar marcadores inflamatórios e garantir recuperação segura, sem recaídas.
A investigação: de onde veio o risco
Em coletiva nesta segunda (3), a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou que a principal suspeita recai sobre o fungo Histoplasma, associado a fezes de aves e morcegos. A hipótese não está fechada. As análises seguem em andamento.
A principal linha de apuração mira o fungo Histoplasma; o vínculo ambiental está em investigação e ainda não foi confirmado.
O secretário da Saúde, Tyago Hoffmann, explicou que uma bactéria foi identificada em uma amostra de água de bebedouro. O perfil do microrganismo, porém, costuma causar quadros mais severos do que os observados, o que reduz a chance de que ela seja a responsável pelo surto.
Bebedouro e hipótese de bactéria
Segundo o diretor do Lacen-ES, Rodrigo Rodrigues, a bactéria apareceu em apenas uma amostra de ponto de água e não foi detectada em pacientes. A leitura técnica trata esse achado como isolado, sem correlação direta com o evento.
Equipes do Lacen e da Fiocruz realizam novas coletas, culturas e testes ambientais. Os exames incluem sorologias para verificar se os pacientes desenvolveram anticorpos compatíveis com contato recente com o Histoplasma.
O que é o Histoplasma
O Histoplasma capsulatum é um fungo que vive no solo enriquecido por excrementos de aves e morcegos. A transmissão mais comum ocorre por inalação de esporos suspensos no ar, especialmente durante limpeza de áreas com poeira acumulada.
- Via de entrada: inalação de partículas contaminadas.
- Período de incubação: geralmente de 7 a 21 dias.
- Sintomas frequentes: febre, tosse, mal-estar, dor no peito e fadiga.
- Formas graves: podem atingir pulmões e se disseminar, sobretudo em imunossuprimidos.
- Tratamento: antifúngicos específicos, conforme gravidade e condição clínica.
Em ambientes urbanos, fezes de pombos e morcegos podem enriquecer o solo e favorecer a presença do fungo, especialmente em áreas fechadas e úmidas.
Oração e apoio comunitário
Familiares e fiéis realizaram, em 26 de outubro, um culto de oração em frente ao hospital. O pastor Renato Tavares da Silva, da Igreja de Nova Vida de Porto de Santana, em Cariacica, conduziu a celebração. O encontro buscou conforto emocional para a profissional, colegas e pacientes monitorados.
Números do surto até agora
O último boletim da Sesa reportou 93 casos suspeitos em acompanhamento. Cinco pessoas estão internadas, duas delas na UTI. A maioria dos registros envolve trabalhadores da unidade, o que reforça a necessidade de mapear rotas ambientais de exposição.
| Categoria | Casos suspeitos |
|---|---|
| Funcionários | 76 |
| Pacientes | 6 |
| Acompanhantes | 11 |
| Internados | 5 |
| Em UTI | 2 |
Como as autoridades trabalham
A Sesa coordena a resposta junto ao hospital, Lacen-ES e Fiocruz. As equipes cruzam dados clínicos e ambientais. A rotina inclui coleta sequencial de amostras, checagem de sistemas de climatização, análise de água, inspeção de áreas com presença de aves e morcegos e revisão de fluxos assistenciais.
Cuidados práticos para trabalhadores e visitantes
Algumas medidas reduzem riscos enquanto a investigação avança e as causas são esclarecidas:
- Manter máscaras bem ajustadas em áreas assistenciais e de circulação intensa.
- Higienizar as mãos com frequência e evitar tocar o rosto em ambientes clínicos.
- Evitar varrer a seco locais empoeirados; prefira limpeza úmida para não suspender partículas.
- Reportar infiltrações, presença de pombos, morcegos ou ninhos em áreas comuns.
- Consumir água de pontos certificados e reportar gosto, odor ou aspecto incomum.
- Profissionais devem checar a integridade de EPIs e seguir protocolos de paramentação.
Por que a extubação é um marco
A extubação sinaliza melhora respiratória e estabilidade clínica. Após a retirada do tubo, a equipe avalia a adaptação do paciente à respiração espontânea, a saturação de oxigênio e sinais de fadiga. No caso da técnica, caminhar sem oxigênio indica que os pulmões retomaram função suficiente para as atividades básicas.
O que observar nos próximos dias
Os resultados de sorologia e culturas devem ajudar a confirmar ou descartar a ligação com o Histoplasma. Novas inspeções ambientais podem direcionar ações de saneamento, como vedação de pontos de acesso de aves e morcegos, ajustes de ventilação e higienização aprofundada de áreas críticas.
Confirmar a fonte permite agir com precisão: corrigir o ambiente, cortar a cadeia de exposição e reduzir o risco de novos casos.
Informação que amplia o debate
Surto hospitalar não se limita a paredes e corredores. Ele dialoga com a cidade, a fauna urbana e a manutenção predial. Em áreas com pombos, forros, torres e porões pouco ventilados, a poeira pode carregar esporos. Uma varredura técnica inclui avaliar telhados, dutos, caixas d’água e locais de descarte.
Para o leitor, vale entender sinais que justificam atenção médica rápida: febre persistente, tosse que não melhora, falta de ar e cansaço acentuado. Pessoas com doença pulmonar prévia, idosos e imunossuprimidos tendem a evoluir com mais dificuldade. Em cenários de investigação, comunicar sintomas e histórico de exposição acelera o diagnóstico e qualifica o tratamento.


