Paulistano, você toparia ver 8 minutos em VR no Anhangabaú sem asfalto: rios voltam à luz?

Paulistano, você toparia ver 8 minutos em VR no Anhangabaú sem asfalto: rios voltam à luz?

Um passeio curto, grátis e sensorial promete virar seu olhar para o chão que você pisa todos os dias.

Um curta em realidade virtual propõe abrir janelas no asfalto e mostrar cursos d’água que correm esquecidos sob São Paulo. Você coloca o headset, respira fundo e, por alguns minutos, ruas e vales se reorganizam diante dos olhos.

O filme que desenterra paisagens

Com roteiro e direção de Tadeu Jungle, “Rios Invisíveis VR” estreia no sábado (8), na Confluência, em Sumaré. A obra dura oito minutos e usa VR para reimaginar a cidade caso seus rios soterrados voltassem à superfície. O resultado tem caráter documental e poético. O objetivo não se limita ao impacto visual: o filme sugere usos sociais, ambientais e afetivos para esses espaços.

Curta de 8 minutos em VR reimagina o vale do Anhangabaú, o Jardim Botânico e a Vila Madalena com rios à vista.

Quando e onde ver

Quando Sábado (8), das 11h às 17h
Onde Confluência — rua Paris, 748, Sumaré (zona oeste)
Duração 8 minutos por sessão
Capacidade Até 160 pessoas
Preço Grátis
Acesso Ordem de chegada

Cenas que você vai reconhecer

A experiência percorre nascentes e vales que a pressa da cidade costuma ignorar. Um dos exemplos parte do Butantã, onde o rio Iquiririm nasce perto da USP e logo desaparece no bueiro. No filme, essa água volta a respirar. A proposta reorganiza calçadas, canteiros e travessias e convida o público a imaginar como esses trechos poderiam virar áreas de convivência.

  • Vale do Anhangabaú: o leito renasce como eixo de caminhada, sombra e água corrente no centro histórico.
  • Jardim Botânico e rio Ipiranga: a VR desenha mirantes, passarelas e pontos de descanso vinculados à água.
  • Córrego das Corujas, Vila Madalena: trechos viram pracinhas de bairro, com degraus para sentar e ouvir o fluxo.
  • Butantã e o Iquiririm: nascente identificada e tratada como patrimônio de bairro, não como problema hidráulico.

Rios deixam de ser obstáculo de trânsito e ganham função social: sombra, lazer, permeabilidade e microclima.

Como o projeto foi construído

A equipe partiu de estudos da ONG Rios e Ruas, que há anos mapeia cursos d’água apagados do cotidiano paulistano. Para materializar a visão, o artista Eduardo Bajzek produziu aquarelas que servem de base às sequências em VR. As ilustrações mantêm a escala urbana e enfatizam o desenho das margens. As cenas digitais respeitam a topografia, a posição de quadras e o traçado das vias, o que ajuda o espectador a se localizar.

Do papel ao headset

As aquarelas foram combinadas a modelagem 3D leve, som ambiente e trilhas discretas. A direção prioriza movimentos suaves de câmera para evitar enjoo. As transições simulam a retirada progressiva do asfalto, abrindo espaço para o curso natural da água. Quem assiste percebe o antes e o depois em poucos segundos, sem perder referência do entorno.

Por que falar de rios “invisíveis” agora

A capital cresceu canalizando e cobrindo córregos. O resultado aparece nas enchentes recorrentes, na ilha de calor e na falta de áreas permeáveis. Trazer os rios de volta ao debate muda a conversa sobre mobilidade, saúde e moradia. A água exposta resfria o ar, alimenta árvores e cria espaços públicos com permanência. O filme aponta para essa agenda de forma concreta, com cenas em lugares que você já frequenta.

Ressurgir rios não é nostalgia: é estratégia urbana para reduzir calor, alagamento e déficit de áreas de estar.

O que prestar atenção durante a sessão

  • Ritmo da água vs. ritmo da rua: repare como o fluxo hídrico reorganiza pedestres e sombras.
  • Margens ativas: degraus, bancos e passarelas sugerem usos cotidianos sem grandes obras.
  • Vegetação de borda: espécies ribeirinhas estabilizam o solo e atraem fauna, mesmo em trechos curtos.
  • Encontros possíveis: as cenas favorecem atividades simples, como ler, conversar, brincar e se refrescar.

Serviço e dicas práticas

A sessão é gratuita, com entrada por ordem de chegada e limite de 160 pessoas ao longo do período. Chegar cedo ajuda a garantir o headset. O local fica próximo a estações de metrô e linhas de ônibus da zona oeste, o que facilita o percurso sem carro. O filme roda de forma contínua entre 11h e 17h, o que permite visitar em horários alternados.

Acessibilidade e conforto

Headsets tendem a ajustar bem em diferentes tamanhos de rosto. Pessoas sensíveis a tontura podem assistir sentadas. A equipe orienta o ajuste de foco. Pausas curtas entre as cenas reduzem cansaço visual.

Quem assina e o que inspira a narrativa

Tadeu Jungle organiza o roteiro em três camadas: a água como origem, a água como espaço público e a água como cuidado cotidiano. O recorte por nascentes reforça que os rios começam em pontos discretos, muitas vezes escondidos em praças e estacionamentos. A participação de Bajzek, com aquarelas, adiciona textura manual às imagens digitais, aproximando o espectador do traço urbano. Os estudos da Rios e Ruas garantem base técnica sobre leitos, declividades e conexões com bacias vizinhas.

Conexões com outras cidades

Reabrir rios já transformou trechos urbanos em diferentes países. O caso do Cheonggyecheon, em Seul, virou referência por remover um viaduto, reabrir o curso d’água e criar um parque linear com efeito de resfriamento local. Intervenções às margens do Manzanares, em Madrid, reorganizaram vias expressas e ampliaram áreas verdes. São Paulo tem escala e desafios próprios, mas a discussão sobre “daylighting” — trazer a água à superfície — ganhou corpo por aqui diante de ondas de calor e eventos de chuva intensa.

O que esse tipo de projeto pode trazer

  • Menos calor: cursos d’água abertos reduzem temperatura e melhoram a umidade do ar.
  • Menos alagamento: margens permeáveis e leitos desobstruídos absorvem picos de chuva.
  • Mais cidade a pé: parques lineares criam rotas sombreadas entre bairros.
  • Identidade de bairro: nascentes sinalizadas viram pontos de encontro e educação ambiental.

Quer se envolver além do filme

Você pode observar nas ruas sinais de água: degraus úmidos, árvores alinhadas em valas antigas, tampas de bueiro com som de correnteza. Mapear esses pontos com vizinhos ajuda a defender pequenas intervenções, como canteiros drenantes. Organizações dedicadas a rios urbanos costumam organizar caminhadas e oficinas; participar dá repertório para pedir projetos pilotos em praças e vielas.

Para escolas e coletivos, uma atividade possível é simular o “antes e depois” com maquetes simples, usando papelão, fita e água. O exercício mostra como a topografia do quarteirão direciona o fluxo. Outra frente envolve medir temperatura de superfícies com termômetro infravermelho em trechos asfaltados e sombreados por água e vegetação. Os dados ajudam a pautar o bairro e fortalecer pedidos por áreas permeáveis.

Leave a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *