Em Belo Horizonte, afetos antigos voltam à tona, agendas médicas se impõem e fãs revivem uma história que moldou a música.
Enquanto a cidade se despede de Lô Borges, a família de Milton Nascimento ajusta o ritmo dos passos. O cuidado com o cantor, de 83 anos, guia decisões que unem afeto, prudência e orientação clínica.
A decisão da família e o sábado marcado
Milton Nascimento ainda não foi informado sobre a morte do parceiro de vida e obra, Lô Borges, velado na terça-feira em Belo Horizonte. Segundo o filho, Augusto Nascimento, a família decidiu levar a notícia ao pai neste sábado, dia 8, durante uma consulta de rotina, seguindo indicação médica. A estratégia busca um ambiente seguro, com acompanhamento profissional, para amparar eventuais reações físicas e emocionais.
Família planeja comunicar Milton no dia 8, em consulta médica, para garantir suporte imediato e reduzir riscos.
Na segunda-feira, a equipe que administra as redes de Milton publicou uma nota em seu nome lamentando a perda. O gesto sinaliza respeito ao público e preserva, ao mesmo tempo, o cuidado com o tempo subjetivo do artista, diagnosticado com demência por corpos de Lewy e em tratamento para doença de Parkinson há dois anos.
Um luto que atravessa gerações
Lô Borges, 73, morreu no domingo, 2 de novembro, após internação iniciada em 17 de outubro por intoxicação medicamentosa e falência de múltiplos órgãos, conforme o hospital. O velório reuniu nomes de diferentes épocas da música mineira, como Samuel Rosa e Rogério Flausino. Beto Guedes, também do Clube da Esquina, esteve presente no fim da cerimônia, emocionado com a despedida de um amigo que ajudou a impulsionar sua trajetória e a de seu grupo.
O sepultamento ocorreu de forma reservada a familiares e amigos. No ambiente, o sentimento dominante foi o de gratidão: por canções, encontros, ensaios em salas pequenas e a mística de uma turma que transformou a linguagem da MPB.
Momentos recentes que aproximaram amigos
Em março, Lô visitou a casa de Milton e relembrou que o primeiro violão de sua vida foi presente de Bituca. A lembrança foi registrada em vídeo nos perfis de ambos, gesto singelo que ganhou novo sentido nestes dias.
- Domingo (2/11): morte de Lô Borges, aos 73 anos
- Terça (4/11): velório em Belo Horizonte, com músicos de várias gerações
- Sábado (8/11): data escolhida para a família contar a Milton, com suporte médico
O que é a demência por corpos de Lewy
A demência por corpos de Lewy (DCL) combina declínio cognitivo com flutuações marcantes de atenção, alterações do sono, alucinações visuais e sintomas motores semelhantes aos do Parkinson. O quadro pode variar ao longo do dia, o que exige rotina estruturada, controle de estímulos e ajustes finos na medicação.
Notícias de grande impacto podem desencadear agitação, confusão, alterações de pressão e piora do sono em quem vive com DCL.
Por isso, famílias e equipes de saúde costumam planejar a comunicação de eventos estressantes em ambientes controlados. A presença de profissionais reduz o risco de intercorrências e facilita intervenções imediatas, caso necessário. A escolha do sábado, com consulta marcada, vai nessa linha: menos improviso, mais previsibilidade.
Amizade, memória e legado do Clube da Esquina
A parceria entre Milton e Lô extrapolou discos e palcos. Eles ajudaram a construir o Clube da Esquina, movimento que misturou o sotaque mineiro a harmonias sofisticadas, rock, samba e ecos psicodélicos. A estética nascida em esquinas e salas de estar se espalhou pelo país, inspirando gerações e tornando-se referência mundial.
Neste adeus, a memória coletiva se alimenta de histórias que se contam de cor: o violão dado por Milton ao jovem Lô, as canções-de-rua que viraram clássicos, a solidariedade de estrada. Esses fios, fiéis ao espírito do grupo, sustentam a ideia de que o legado não cabe só em discografias, mas em laços.
| Fato | Data | Detalhe |
|---|---|---|
| Internação de Lô Borges | 17/10/2025 | Quadro de intoxicação medicamentosa |
| Falecimento | 02/11/2025 | Falência de múltiplos órgãos |
| Velório em BH | 04/11/2025 | Presenças de músicos de diferentes gerações |
| Comunicação a Milton | 08/11/2025 | Revelação planejada com suporte médico |
Por que retardar a notícia pode proteger a saúde
Comunicar uma perda devastadora a uma pessoa idosa com DCL e Parkinson envolve riscos que vão além do sofrimento emocional. Estresse agudo pode elevar pressão arterial, alterar batimentos, precipitar quedas, desorganizar o sono REM e intensificar sintomas psicóticos. A escolha por uma conversa assistida permite ajustes de medicação, monitoramento de sinais vitais e intervenção rápida caso haja descompensação.
É um equilíbrio delicado entre o direito à informação e o dever de cuidado. Em muitos casos, equipes recomendam dividir o conteúdo em etapas, validar a emoção do paciente e oferecer âncoras de segurança, como um objeto afetivo, uma música familiar ou a presença de alguém de confiança.
Serviço ao leitor: como dar notícias difíceis a idosos com fragilidade cognitiva
- Planeje o momento com o médico e combine palavras simples, frases curtas e pausas.
- Escolha um local calmo, com pouca luz direta e sem interrupções.
- Fale devagar, mantenha contato visual e permita silêncio para assimilação.
- Evite detalhes desnecessários; responda perguntas com objetividade.
- Se possível, tenha um profissional por perto para monitorar a reação.
- Ofereça uma atividade de conforto após a conversa, como ouvir uma música querida.
Sinais de atenção após notícias estressantes
- Queda brusca de pressão, tontura ou desmaio
- Agitação intensa, alucinações ou confusão súbita
- Dor no peito, falta de ar, sudorese fria
- Piora abrupta da marcha ou tremores
Diante de qualquer um desses sinais, acione a equipe de saúde e modifique o ambiente para reduzir estímulos. Ter um plano combinado de antemão ajuda a evitar improvisos em situações de fragilidade.
O que esperar nos próximos dias
A família prevê conduzir a conversa com Milton neste sábado, em consulta previamente agendada. A prioridade será acolher a reação do cantor, estabilizar o corpo e organizar lembranças sem sobrecarga. A partir daí, os próximos passos tendem a privilegiar rotina, descanso e companhia próxima, com música e ritos íntimos de despedida.
Luto, memória e cuidado caminham juntos quando o afeto encontra limites do corpo. O tempo, aqui, também é tratamento.
Para admiradores e amigos, gestos simples podem fazer diferença: ouvir os discos, compartilhar histórias, respeitar o recolhimento e sustentar a permanência de Lô no que ele semeou. No Clube da Esquina, a ideia de tribo sempre falou alto. Agora, esse coro se torna ainda mais necessário.


