Você teria coragem no Velho Chico? baiano cruza 859 m no waterline e faz história no São Francisco

Você teria coragem no Velho Chico? baiano cruza 859 m no waterline e faz história no São Francisco

Uma fita sobre o rio, vento lateral e silêncio nas paredes de rocha. Um passo fora da linha e tudo acaba.

Foi nesse clima que um atleta da Bahia transformou uma travessia improvável em marca histórica. O cenário: cânions de Paulo Afonso, no coração do Rio São Francisco. A missão: caminhar sobre a água, com foco, técnica e sangue frio.

A travessia que parou o Velho Chico

O baiano Matheus Vidal, conhecido como “Mago do Equilíbrio” e nascido em Itamaraju, percorreu 859 metros de waterline acima das águas do Rio São Francisco. A travessia aconteceu na terça-feira, 28, e durou 55 minutos. O setup cruzou os cânions de Paulo Afonso, um trecho de vento instável e umidade alta, que exige precisão em cada passo.

Vidal cravou 859 metros no waterline, em 55 minutos, superando a marca de 750 metros feita na Itália em 2017.

O feito derruba um recorde que durou oito anos e recoloca o Brasil no mapa das longas travessias sobre água. Vidal comemorou o resultado com gosto de pertencimento. Ele sempre quis assinar essa marca em casa, na Bahia, e escolheu o Velho Chico como palco. A paisagem dos cânions, com paredes alaranjadas e água esmeralda, virou parte da narrativa.

Quem é Matheus Vidal

Vidal domina diferentes modalidades do slackline. Ele acumula três títulos mundiais de highline na China, conquistados em 2023, 2024 e 2025, além de duas medalhas de bronze em mundiais anteriores. Em julho de 2025, levou a prata no mundial de highline na França e venceu uma competição relevante na Estônia.

O currículo recente inclui um desafio de alto controle mental: em março, em Itatim, ele caminhou 1.420 metros vendado, com trechos que chegaram a 150 metros de altura. O atleta trata foco e respiração como pilares. Cada travessia vira um ritual técnico e mental.

Como foi montado o projeto

Uma travessia de quase 1 quilômetro sobre água pede logística pesada. A equipe precisou mapear ancoragens nos paredões, medir a influência do vento canalizado pelo cânion, e checar a variação de nível do rio. Cada grama de tensão na fita muda a resposta do conjunto, e qualquer desvio vira oscilação.

Dez atletas experientes do slackline integraram a operação, com nomes da Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiânia e Distrito Federal. Dois são de Paulo Afonso.

O time testou o alinhamento em diferentes horários para escolher a janela com vento mais estável. A fita recebeu equalização fina. A redundância de ancoragens evitou surpresas. Botes de apoio ficaram de prontidão para resgate e comunicação. Tudo correu dentro do plano.

Marcos que ajudam a entender a dimensão do feito

  • 859 metros sobre água no Rio São Francisco, em 55 minutos.
  • Recorde anterior: 750 metros, estabelecido na Itália, em 2017.
  • Projeto com 10 técnicos e atletas, operação local em Paulo Afonso.
  • Vidal já soma 3 ouros, 1 prata e 2 bronzes em mundiais de highline.

Waterline x highline: o que muda para quem caminha

O waterline usa a água como “fundo”. Diferente do highline, que atravessa vales ou prédios, a água cria microcorrentes de ar e reflete luz, o que atrapalha a leitura de profundidade. Muitos atletas relatam “marola visual”. O cérebro trabalha dobrado para manter referência de horizonte.

A umidade da região afeta a fita. Ela muda o grip no pé, altera a vibração e pede ajustes na tensão. O vento dentro do cânion vem em rajadas canalizadas. O atleta precisa absorver cada oscilação com joelhos, quadril e braços, sem perder o ritmo.

Comparativo de marcas

Ano Distância Modalidade Local
2017 750 m Waterline Itália
2025 859 m Waterline Cânions de Paulo Afonso, Bahia

Por que Paulo Afonso funciona para o waterline

Os cânions oferecem ancoragens sólidas em rocha e trechos longos com largura suficiente para setups extensos. A região tem acesso por água e por mirantes, o que facilita logística e segurança. O cenário ainda rende visibilidade para o esporte e para o turismo de aventura no Nordeste.

O Velho Chico vira vitrine para travessias técnicas e para eventos que combinam esporte, natureza e economia local.

Operadores de turismo podem integrar passeios de barco com demonstrações de slackline. Guias locais já conhecem as áreas seguras para público e fotógrafos. A presença de atletas da própria cidade reforça a rede de apoio e cria novas frentes de qualificação.

Bastidores técnicos que o público não vê

Uma linha longa vibra como um instrumento musical. A equipe elimina nós, ajusta a linha principal e a linha de backup, e calcula o alongamento sob carga. O atleta precisa calibrar a cadência. Passos muito rápidos amplificam a oscilação. Passos lentos demais gastam energia e abrem espaço para o vento atuar.

A hidratação antes da travessia faz diferença. A água do entorno evapora e aumenta a sensação térmica. O magnésio nas mãos e nos pés melhora a aderência, mas exige dosagem exata para não ressecar a pele e perder sensibilidade.

Quer começar no slackline com segurança

O waterline não é o primeiro passo. Quem inicia no esporte progride do chão para linhas mais altas e técnicas específicas. A melhor trilha envolve prática supervisionada e equipamentos certificados.

  • Comece em parques, com fitas entre 10 e 15 metros, a 30–50 cm do chão.
  • Use catracas ou sistemas com freios de qualidade e ancoragens em árvores protegidas.
  • Treine postura: olhar no horizonte, joelhos flexionados, quadril solto, respiração ritmada.
  • Avance para longline e highline com mentoria e redundância de segurança.
  • Deixe o waterline para fases mais avançadas, com equipe e resgate por perto.

Riscos, benefícios e como a gente pode participar

O risco mais comum vem de montagem inadequada e autoconfiança fora do ponto. A prática correta reduz lesões e evita incidentes com vento e água. O ganho vai além do físico: o slackline melhora foco, propriocepção e gestão de ansiedade. Para quem não pretende caminhar, existe espaço como voluntário em eventos, apoio logístico em água, fotografia e operação de segurança.

Projetos como o de Paulo Afonso ajudam a criar rotas de turismo esportivo no interior do país. Prefeituras e associações podem organizar janelas de vento favoráveis e treinar equipes locais. Um calendário anual com clínicas, travessias e mostras técnicas coloca o Velho Chico na agenda internacional do slackline e gera trabalho em cadeia para barqueiros, guias e hospedagens.

Se você já pratica e quer simular planejamento para linhas sobre água, comece com trechos de 50 a 80 metros em lagoas abrigadas. Registre vento, umidade e sensação térmica a cada 10 minutos. Compare a vibração da fita com diferentes tensões. Esse diário técnico acelera a leitura do comportamento da linha e prepara o corpo para avanços seguros.

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