Voos mais curtos, novas possibilidades e cidades fora do radar entram no mapa de quem vive longe dos grandes hubs.
A discussão sobre aviões menores ganhou tração dentro da Gol. A companhia analisa criar uma sub-frota regional de 20 a 30 aeronaves e estuda modelos como Embraer E2 e Airbus A220, sem abrir mão do Boeing 737. O movimento também conversa com planos de voos de longa distância usando o A330-900neo a partir de 2026.
O que está na mesa
O CEO da Gol, Celso Ferrer, reafirmou que a empresa quer diversificar a frota. Ele enxerga espaço para uma sub-frota dedicada às rotas regionais e, ao mesmo tempo, mira aeronaves de maior porte para voos intercontinentais.
Sub-frota regional proposta: 20 a 30 jatos menores, com Embraer E2 e Airbus A220 no radar do Grupo Abra.
Segundo Ferrer, a Gol mantém o 737 como “coração” da operação. A novidade viria para cobrir mercados pouco atendidos, onde um jato de 186 a 200 assentos não fecha a conta com frequência desejada. O Grupo Abra – holding que reúne a Gol – avalia propostas com as duas fabricantes.
Por que agora
A crise na cadeia global de produção de aeronaves mexe com prazos e custos. Fabricantes entregam menos que o planejado, e a disputa por slots de produção aperta. Ao diversificar, a Gol ganha alternativas de entrega e flexibilidade de capacidade por rota.
O quadro doméstico também empurra a decisão. O fim das operações da Voepass e a redução de rotas na Azul, hoje em recuperação judicial, abriram espaços em cidades médias. Passageiros dessas regiões encaram tarifas altas, conexões longas e poucos horários.
Que avião cabe no Brasil regional
Dois candidatos com força
Embraer E2 e Airbus A220 atendem pistas médias, voam entre capitais e interior com custo por assento competitivo e ruído menor. São jatos projetados para voos de 500 a 2.500 km, faixa que cobre boa parte das ligações regionais brasileiras.
| Modelo | Capacidade típica | Alcance aproximado | Motor | Pontos de destaque |
|---|---|---|---|---|
| Embraer E195-E2 | 120–146 assentos | 4.000–4.800 km | PW1900G (GTF) | Fabricado no Brasil; boa performance em pistas menores; custos competitivos |
| Airbus A220-300 | 130–150 assentos | 5.700–6.300 km | PW1500G (GTF) | Cabine ampla; alcance elevado; economia em rotas finas e médias |
Ambos usam motores de engrenagem (GTF), que reduzem ruído e consumo. O histórico recente de inspeções e manutenções extras nessas turbinas exige planejamento, mas as fabricantes e a Pratt & Whitney vêm implementando soluções e janelas de manutenção mais previsíveis.
Impacto direto para você
Jatos menores abrem a porta para voos ponto a ponto que hoje pedem conexão. A frequência melhora, o tempo total de viagem cai e a empresa ganha liberdade para ajustar capacidade por dia e por horário.
- Mais horários em dias úteis, ajustados ao fluxo de negócios e saúde.
- Rotas diretas entre cidades médias, sem passar por São Paulo ou Brasília.
- Cabine mais silenciosa e consumo reduzido, com potencial de tarifas mais eficientes.
- Integração com a malha do 737, facilitando conexões para destinos maiores.
Rotas candidatas incluem ligações entre polos regionais e capitais próximas ou médias distâncias entre cidades do interior. Exemplos plausíveis: Ribeirão Preto–Rio de Janeiro, Londrina–Florianópolis, Joinville–Brasília, Uberlândia–Salvador, Juiz de Fora–São Paulo (CGH) e Montes Claros–Belo Horizonte (CNF). A viabilidade depende de demanda, slots e custos aeroportuários.
O outro lado da moeda
Complexidade e custo de transição
A Gol construiu sua eficiência com frota única de 737. Incluir um novo tipo adiciona treinamento de pilotos, estoques de peças, ferramental e simuladores específicos. A equação precisa fechar com ganho de receita e redução de vazios nas rotas menores.
Os motores GTF exigem cronogramas de manutenção rigorosos. O planejamento de oficina e de backup de frota vira peça chave para garantir confiabilidade e evitar cancelamentos.
Onde entra o longo curso
A companhia também prepara um passo “por cima” com aeronaves de cabine dupla. A ideia é arrendar até sete Airbus A330-900neo, com entregas a partir de 2026. Esse movimento reconecta a marca a voos intercontinentais e cria novas origens para o passageiro brasileiro.
A330-900neo: até 7 unidades em arrendamento a partir de 2026, mirando rotas de longa distância.
Ter duas pontas — regional e longa distância — aumenta a resiliência e dilui riscos. O passageiro do interior pode acessar, em uma conexão curta, um voo internacional operado pela própria companhia.
Fator Embraer e política industrial
O governo condicionou parte do uso do Fundo Nacional de Aviação Civil à compra de aeronaves fabricadas no Brasil. Essa regra favorece a Embraer em eventuais decisões do Grupo Abra. Além da questão industrial, uma frota E2 cria sinergias de suporte técnico local, com menos dependência de importações em certos componentes.
O que observar nos próximos meses
Prazos, custos e malha
Quatro pontos devem guiar o desfecho: disponibilidade de aeronaves, condições de leasing, custos de manutenção e encaixe da nova frota na malha. A janela de entregas pesa tanto quanto a ficha técnica. Se o fornecedor consegue entregar rápido, a Gol pode capturar rotas abertas pela reconfiguração do mercado doméstico.
Como isso mexe com tarifas e concorrência
Jatos de 120 a 150 assentos reduzem o risco de voar com muitos lugares vazios em rotas finas. Com mais adequação de capacidade, a companhia trabalha preços com menos volatilidade. A concorrência responde com ajustes de malha e parcerias regionais, o que tende a ampliar opções para quem voa fora do eixo Rio–São Paulo–Brasília.
Dicas práticas para o passageiro
- Fique de olho em novas rotas diretas de cidades médias para capitais, anunciadas perto de altas temporadas.
- Compare tarifas entre horários; aviões menores costumam permitir mais voos por dia, com diferenças de preço.
- Se você mora longe de hubs, pesquise conexões curtas para voos internacionais operados pela mesma empresa.
Contexto técnico e de operação
O E195-E2 e o A220-300 entregam alcance para ligar Norte e Nordeste ao Sudeste sem escalas, com sobra para desvios meteorológicos. Em altitude e calor, comuns em várias cidades brasileiras, ambos mantêm desempenho eficiente. A escolha também envolve suporte de fabricante, disponibilidade de simuladores no país e acordos de manutenção com oficinas certificadas.
Para rotas abaixo de 700 km, o ganho de tempo no embarque e desembarque pesa tanto quanto a velocidade de cruzeiro. Cabines de fileiras 2-2 reduzem a sensação de aperto e aceleram o fluxo a bordo, um diferencial contra aeronaves maiores com mais passageiros por voo.
O que pode vir a seguir
Se a Gol formalizar a compra ou o leasing, a empresa deve anunciar bases regionais, como hubs secundários no Sul e no interior do Sudeste, para encurtar conexões. A curva de maturação costuma levar de 6 a 12 meses, período em que a malha ajusta horários e frequências para estabilizar ocupação e pontualidade.
Para quem acompanha aviação, vale observar acordos com governos estaduais para reduzir ICMS de querosene em rotas regionais, iniciativas de melhoria de infraestrutura em aeroportos menores e anúncios de fabricantes sobre reforços no suporte local. Esses elementos definem o ritmo de entrada da nova frota e a qualidade da experiência para o passageiro.


