Leite do seu café ameaçado? Paraná proíbe reconstituição com pó importado : novas regras e 19,5%

Leite do seu café ameaçado? Paraná proíbe reconstituição com pó importado : novas regras e 19,5%

Famílias rurais convivem com preços apertados enquanto o mercado de lácteos muda rápido e pressiona a renda no campo.

O governador Carlos Massa Ratinho Junior sancionou, nesta quarta-feira (5), a lei nº 22.765/2025, que reordena a presença do leite importado no Paraná. A norma enfrenta a competição por custo, reforça a transparência ao consumidor e mira a sobrevivência de milhares de produtores locais.

O que muda com a lei

O texto aprovado proíbe que indústrias, laticínios e outras pessoas jurídicas reconstituam produtos lácteos de origem importada para fins alimentares. A regra alcança o leite em pó, o composto lácteo em pó, o soro de leite em pó e itens similares. O alvo é o processo de diluição e padronização que transforma pó importado em leite líquido ou em bases para derivados.

Fica vedada, no Paraná, a reconstituição de lácteos em pó importados quando o resultado for destinado ao consumo alimentar.

Quem ainda pode vender e em quais condições

A lei não fecha as portas do varejo ao produto importado. A comercialização direta ao consumidor final continua liberada quando feita em embalagem própria para prateleira e com rotulagem conforme normas da Anvisa.

  • Venda permitida: somente ao consumidor final, no varejo.
  • Embalagem: original de fábrica, voltada ao consumo doméstico.
  • Rotulagem: conforme regras sanitárias vigentes.

Por que o Paraná mexeu nas regras

O Estado é um polo lácteo nacional. A chegada de pó importado com custo menor elevou a pressão sobre a renda do campo e sobre a indústria local. Segundo a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, a mudança atende um pedido histórico de produtores e federações e busca equilibrar a competição.

A medida se soma a ajustes tributários e de compras públicas. O Paraná aderiu ao convênio que isenta o ICMS nas vendas internas de queijo, requeijão e doce de leite, aliviando o caixa de agroindústrias familiares. O governo também revogou a isenção de ICMS na importação de leite em pó e elevou a alíquota do imposto de importação para 19,5%, hoje a referência mais dura do País para segurar a entrada de lácteos do exterior.

Tarifa de importação de 19,5% e fim da isenção de ICMS no leite em pó importado compõem o pacote de proteção ao produtor.

Impacto esperado para produtores e consumidores

Ao restringir a reconstituição com insumos de fora, a lei tende a reduzir a concorrência baseada apenas no preço do pó importado. O objetivo é preservar a captação de leite cru no campo, estimular contratos com produtores locais e dar previsibilidade de renda às famílias.

Para o consumidor, a mudança pode afetar a composição de portfólios no curto prazo, com empresas ajustando linhas e rotas de abastecimento. A venda de produtos importados prontos segue liberada no varejo. Seu carrinho não perde acesso a marcas estrangeiras embaladas para consumo. A diferença aparece sobretudo naquilo que viraria leite reconstituído dentro de fábricas paranaenses.

Medida Objetivo Efeito previsto
Proibição de reconstituição com pó importado Desestimular substituição de leite cru local Mais captação no campo e contratos com produtores
Isenção de ICMS para queijo, requeijão e doce de leite Aliviar custos e facilitar vendas internas Competitividade frente a outros estados
Tarifa de importação de 19,5% Frear entrada de pó barato Menor pressão sobre preços pagos ao produtor
Assistência técnica (IDR-Paraná) Qualificar produção e gestão de propriedades Ganho de produtividade e qualidade
Investimentos em estradas rurais Reduzir perdas e custo logístico Mais regularidade na coleta de leite

Números da produção

O Paraná detém a segunda maior bacia leiteira do Brasil, com 15,7% de participação, atrás de Minas Gerais, que soma 23,8%. Santa Catarina ocupa a terceira posição. Em 2024, a produção estadual alcançou 3,9 bilhões de litros, com indústria forte e capilaridade no interior.

Em 2025, o volume somou 1,005 bilhão de litros no primeiro trimestre e 1,017 bilhão no segundo trimestre. O semestre fechou com 2,022 bilhões de litros. A indústria absorveu 99,8% desse total, o que revela a forte integração entre campo e laticínios. O Estado já acumula quatro trimestres seguidos com mais de 1 bilhão de litros adquiridos e industrializados.

Quatro trimestres acima de 1 bilhão de litros confirmam a escala da cadeia e a necessidade de previsibilidade.

Apoio ao campo que vem por fora da fiscalização

O governo ampliou a assistência técnica por meio do IDR-Paraná. Estão em contratação 176 técnicos e há concurso em andamento para outras 422 vagas. O objetivo é qualificar manejo, redução de custos e agregação de valor nas propriedades.

A logística rural entrou na pauta. O Estado destinou mais de R$ 1,5 bilhão para dois mil equipamentos da linha amarela voltados à manutenção de estradas rurais em municípios com área agrícola. Outro anúncio prevê R$ 2 bilhões para pavimentar 2,5 mil quilômetros de vias, favorecendo o escoamento de leite, suínos e frango, e impulsionando o turismo rural.

  • Mais assistência técnica para pastagens, sanidade e gestão.
  • Melhor tráfego para caminhões de coleta de leite.
  • Ambiente tributário alinhado a estados vizinhos.
  • Estudo para comprar leite da agricultura familiar na merenda escolar.

O que você pode fazer agora

Para quem compra

Observe a rotulagem e a origem do produto. Itens importados continuam no varejo, desde que em embalagens próprias e com informações exigidas pela Anvisa. Se você prioriza o produtor local, verifique a procedência e prefira marcas que informem o estado de captação.

Para quem produz

Procure assistência técnica para ajustar dieta, manejo e calendário reprodutivo. Reduzir a contagem de células e elevar sólidos melhora o preço recebido por litro. Considere cooperativas para ganhar escala na negociação e acessar programas de qualidade.

Para a indústria

Revise contratos de fornecimento e a composição de blends. A proibição de reconstituir com pó importado exige foco maior na captação local e no planejamento de sazonalidade. Ajuste a estratégia de portfólio para cumprir a lei e manter margens com valor agregado.

Para entender o termo “reconstituição”

Reconstituir leite significa diluir o pó em água e padronizar gordura, proteína e sólidos para obter um líquido com parâmetros de leite fluido. O mesmo raciocínio vale para bases de derivados. A prática atende a padrões sanitários, mas altera a relação com a cadeia produtiva quando o insumo vem do exterior e substitui o leite cru do campo paranaense.

Exemplo prático de decisão de compra

Imagine duas opções de formulação: usar leite cru local ou reconstituir com pó importado. Se o pó chega barato, a fábrica tende a reduzir a captação no campo. A nova lei corta esse atalho para produtos destinados ao consumo alimentar, o que empurra negociações para o produtor regional e sustenta a malha de coleta que mantém a pecuária de leite ativa o ano inteiro.

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