Phonica no Rio: você sente a orquestra de 55 músicos? 27 canções e surpresas de Marisa Monte

Phonica no Rio: você sente a orquestra de 55 músicos? 27 canções e surpresas de Marisa Monte

Uma noite de cordas, sopros e memórias dividiu a atenção do público entre arrepios coletivos e pequenos gestos no palco.

Na Brava Arena Jockey, o encontro entre Marisa Monte e uma orquestra completa transformou canções conhecidas em acontecimentos renovados. O repertório navegou por três décadas de composições, atravessou parcerias e ofereceu novas camadas a sucessos que o público já canta de olhos fechados.

A noite na Brava Arena Jockey

No sábado, 1º de novembro de 2025, o segundo de três shows no Rio lotou a arena e confirmou o formato sinfônico-pop de Phonica. A apresentação tem duração próxima de duas horas e abre mão de lançamentos para percorrer a obra autoral construída desde o início dos anos 1990. A plateia acompanhou em coro faixas de várias eras, do romantismo à crônica urbana.

Phonica apresenta 27 músicas com orquestra de 55 integrantes, banda em quarteto e arranjos inéditos que preservam a identidade de cada canção.

A força do repertório autoral

Marisa consolidou a imagem de grande intérprete ao fim dos anos 1980. A partir de 1991, com o álbum Mais, a compositora passou a ganhar espaço nas próprias gravações. No palco, essa virada se torna evidente: 18 das 27 músicas do roteiro levam sua assinatura, em grande parte ao lado de Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown.

O público reagiu em massa a momentos como Vilarejo, Amor, I love you e Ainda bem. A balada Depois manteve sua potência afetiva. Aliança apareceu como peça de brilho contido e construção delicada. O conjunto deixa claro: a permanência do cancioneiro autoral não se apoia na nostalgia, mas no poder vivo das melodias e do texto.

Arranjos que respiram

Os arranjos são novos. Ubiratan Marques, Newton Carneiro, Thiago Costa, Débora Gurgel e Jether Garotti assinam leituras que evitam o verniz excessivo e abrem espaço para nuances. É você ganhou introdução camerística e dinâmica controlada. De mais ninguém soou como seresta iluminada por madeiras. Segue o seco se adiantou como quase peça de câmara, com pulsação seca e precisão rítmica.

A orquestra amplia o plano de fundo, sem esmagar a canção. A canção continua na frente, com voz e letra como guias.

Orquestra e banda na mesma vibração

O maestro André Bachur divide o centro do palco com Marisa. A orquestra soma 55 músicos e dois solistas, Daniel Grajew no piano e Talita Martins na harpa. A banda atua como eixo de presença pop: Alberto Continentino no baixo, Dadi Carvalho na guitarra e no violão, Pedrinho da Serrinha no cavaquinho e na percussão, e Pupillo na bateria. Em alguns trechos, a própria Marisa toca ukulele ou guitarra, reforçando a linha melódica.

  • Maestro: André Bachur
  • Solistas: Daniel Grajew (piano) e Talita Martins (harpa)
  • Banda: Alberto Continentino (baixo), Dadi Carvalho (guitarra/violão), Pedrinho da Serrinha (cavaquinho/percussão), Pupillo (bateria)
  • Início da turnê: 18 de outubro, em Belo Horizonte
  • Formato de arena: três apresentações no Rio no mesmo fim de semana

Covers com memória e presença

Duas releituras reabriram portas para a Tropicália. Panis et circenses e Cérebro eletrônico trouxeram ecos dos desenhos orquestrais de Rogério Duprat. A segunda faixa ganhou vibração roqueira pouco comum no restante do roteiro, servindo de contraste e renovando a energia do show.

Voz, gesto e imagem em equilíbrio

Marisa cantou com leveza, alternando acentos precisos e pequenos floreios de técnica lírica. O gesto teatral apareceu com economia e função, realçando palavras-chave em canções como Diariamente, de Nando Reis. O figurino e o acessório floral somaram textura à cena, sem competir com a música. O desenho visual de Batman Zavareze trabalhou na sutileza, com imagens que respiram junto dos arranjos e evitam distrações, ao contrário da trilha imagética abundante de Portas.

Roteiro fixo, leituras vivas

O roteiro mantém 27 faixas, mas cada número ganha respiração própria. As arquiteturas originais foram preservadas, com progressões reconhecíveis e clímax planejados para a resposta da plateia. A soma entre banda e orquestra pauta a dinâmica: crescendos programados, pausas calculadas e entradas que deixam a voz à frente quando a letra pede intimidade.

Bloco Clima Destaques
Abertura Acolhimento Vilarejo, coro imediato e textura de cordas
Autorais Afeto Amor, I love you; Ainda bem; Aliança
Camerístico Intimidade É você; De mais ninguém
Tropicália Contraste Panis et circenses; Cérebro eletrônico
Clímax Catarse Depois, canto coletivo prolongado

Por que este formato cria uma experiência distinta

O desenho sinfônico-pop tem vantagens claras em arenas. A massa orquestral preenche o espaço e encobre reverberações comuns em recintos abertos. Arranjos pensados para dinâmicas em arco evitam a sensação de volume constante que cansa o ouvido. A presença da banda garante pulso e reconhecimento para quem chega pelo rádio e pelo streaming.

O repertório autoral facilita a coesão. Canções compostas com parceiros de longa data sustentam identidade harmônica e poética. A orquestra, nesse contexto, expande timbres e cria camadas rítmicas discretas que aumentam o impacto sem inflar a densidade.

Quando a plateia canta de ponta a ponta, o arranjo vira moldura. O foco volta para a história de cada canção.

Serviço útil para quem vai aos próximos shows

Chegue cedo para localizar entradas, bares e banheiros da arena. As primeiras músicas ajustam o ouvido à acústica do espaço. Use protetores auriculares se ficar próximo das PAs. Leve água e evite carregar volumes grandes, pois o fluxo de pessoas é intenso no intervalo entre blocos.

Se você busca cantar junto sem perder nuances, posicione-se a meia distância do palco, alinhado às torres de delay. Quem prefere sentir os detalhes da harpa e das madeiras encontra melhor definição levemente à esquerda do maestro, onde o balanço orquestral costuma soar mais equilibrado.

Panorama e contexto para fãs de música ao vivo

O diálogo entre canção popular e orquestra cresce no Brasil com diferentes soluções de som e luz. Phonica se insere nessa tendência ao evitar o excesso de formalidade, mantendo a canção como eixo. Para quem acompanha a carreira de Marisa, o formato funciona como revisão afetiva e, ao mesmo tempo, como atualização estética do repertório.

Para quem pensa em montar projetos semelhantes, alguns pontos se destacam: repertório com identidade forte, arranjadores que respeitam a métrica da voz e equipe de som atenta aos transientes de percussão e aos picos de metais. A combinação desses fatores sustenta a clareza, evita abafamento e preserva a emoção que leva o público a responder em coro.

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