No meio da aridez, uma lagoa azul interrompe a paisagem e cria um oásis moderno que desafia a lógica do clima e da geografia.
Em uma área turística do deserto do Sinai, perto de Sharm el-Sheikh, uma piscina artificial de escala urbana virou cartão‑postal e caso de engenharia. Com água cristalina e faixa de areia, o projeto atrai famílias, esportistas e curiosos que querem sentir “mar” longe da costa, sem abrir mão de conforto e segurança.
Onde fica e por que existe
A piscina fica em um megacomplexo no Egito, região desértica com verões intensos e baixa umidade. O objetivo foi criar um polo de lazer e moradia com praia permanente em plena terra seca. A tecnologia usada, desenvolvida por empresas como a Crystal Lagoons, permite operar grandes massas d’água com baixo consumo relativo de químicos e com monitoramento remoto.
São 300 milhões de litros de água, área equivalente a 24 campos de futebol e um enchimento que leva 22 dias.
O “efeito praia” movimenta a economia local, valoriza imóveis e amplia a temporada turística. No terreno, a água contrasta com montanhas e areia, o que explica o apelo fotográfico que lota redes sociais.
Como se enche um mar particular
Volume, tempo e vazão
Para encher 300 milhões de litros em 22 dias, a operação precisa manter uma vazão média em torno de 157 litros por segundo. Isso considera 24 horas de bombeamento contínuo, com controle de pressão e checagem de qualidade em cada etapa.
- Captação: água de fonte salgada ou salobra disponível na região.
- Pré-tratamento: remoção de partículas grossas e ajuste de parâmetros físicos.
- Enchimento em fases: por setores, para proteger taludes e membranas.
- Estabilização: ajuste de cor e transparência com microdoses e filtração.
A vazão necessária para 22 dias equivale a manter cerca de 157 garrafas PET de 1 litro enchendo a cada segundo.
Controle da água
O espelho d’água depende de sensores que medem turbidez, pH, temperatura e sólidos em suspensão. Sistemas informatizados aplicam microdoses de agentes de clarificação e desinfecção, de modo intermitente, só quando os dados pedem. Bombas de recirculação empurram a água por zonas, enquanto skimmers e pontos de sucção retiram material orgânico e poeira desértica que o vento leva para a borda.
Engenharia para vencer o calor do deserto
Clima quente acelera evaporação. Para reduzir perdas, a piscina utiliza membranas de base que isolam o solo e evitam infiltração, além de bordas com degraus de baixa profundidade, que diminuem ondulação gerada pelo vento. Em alguns trechos, barreiras paisagísticas funcionam como quebra‑vento natural. A reposição diária cobre a evaporação, sem necessidade de esvaziar o lago para manutenção.
| Área aproximada | ~170 mil m² | 24 campos de futebol oficiais |
| Volume total | 300 milhões de litros | 120 piscinas olímpicas |
| Profundidade típica | até 3 m | zonas rasas para famílias |
| Tempo de enchimento | 22 dias | ~157 L/s de vazão média |
O desenho prioriza segurança. Há prainhas para crianças, áreas exclusivas para esportes de prancha e canais discretos para manutenção. A água, geralmente salgada ou salobra, dificulta a proliferação de certos microrganismos e permite reduzir o uso de produtos em comparação a piscinas tradicionais de condomínio, segundo operadores do setor.
O que isso significa para você
Para quem viaja, a experiência junta praia sem correnteza, água calma para iniciantes e estrutura à mão. Para quem investe, o ativo gera visitas durante todo o ano, dilui custos de operação e cria negócios de apoio, como escolas de stand up paddle, restaurantes e eventos. Para quem olha pela ótica ambiental, o debate gira em torno da origem da água, do balanço hídrico local e da eficiência energética do sistema de bombeamento.
Dicas rápidas para quem planeja conhecer
- Prefira meses menos quentes, com vento moderado, para melhor visibilidade da água.
- Leve proteção solar, chapéu e garrafa reutilizável; o ar seco desidrata rápido.
- Respeite as áreas demarcadas; zonas técnicas garantem a qualidade da água.
- Se praticar esportes, consulte regras locais sobre coletes, pranchas e horários.
Comparações que ajudam a dimensionar
Projetos gigantescos não são exclusivos do deserto. No Chile, a piscina de San Alfonso del Mar ficou famosa pelo comprimento próximo a 1 km e volume na casa das centenas de milhares de metros cúbicos. Na Tailândia, a lagoa de Mahasamutr virou vitrine na Ásia. Em resorts do Caribe e dos Emirados, complexos similares ampliam o acesso a esportes náuticos leves em ambientes controlados. A proposta do deserto egípcio se destaca pela localização: um oásis azul cercado por montanhas e dunas.
Quanto cabe em 300 milhões de litros
O número impressiona porque foge da referência do dia a dia. Traduzindo:
- 120 piscinas olímpicas padrão (2,5 milhões de litros cada).
- 10 mil caminhões‑pipa de 30 mil litros.
- Uma lâmina d’água rasa de 10 cm cobrindo 3 milhões de m².
Com a vazão estimada para 22 dias, você encheria uma caixa d’água de 1.000 litros em cerca de 6 segundos. Numa residência, a comparação ajuda a entender a escala dos equipamentos, do consumo elétrico e da necessidade de planejamento para evitar picos de demanda.
Como esses projetos lidam com recursos
Gestores preferem usar água salgada ou salobra, abundante e fora da concorrência direta com abastecimento urbano. O tratamento por microdoses reduz o manuseio de químicos e o descarte de retrolavagem. Sensores diminuem deslocamentos de equipes e antecipam correções antes que o visitante perceba. Ainda assim, cada lagoa precisa de um plano de reposição de água e de energia alinhado com a realidade local. Em regiões com estresse hídrico, decisões passam por autorizações, métricas de reuso e integração com sistemas de dessalinização quando disponíveis.
O futuro dessa tendência e o que pode chegar ao Brasil
Empreendimentos residenciais e clubes de férias no Brasil já ensaiam versões menores, com água clara, prainha artificial e esportes sem motor. A tecnologia interessa a cidades médias que buscam atrair turismo regional e novos loteamentos. Para dar certo, o operador precisa provar eficiência no consumo de água, transparência nos dados de operação e resposta rápida a ventos, poeira e variações de temperatura. Modelos de assinatura para moradores e ingressos escalonados para visitantes têm ajudado a equilibrar custos.
Projetos bem-sucedidos combinam escala, tecnologia de monitoramento e regras de uso que preservam a qualidade da água.
Quem pensa em replicar a experiência deve avaliar riscos e vantagens: a manutenção exige equipe treinada; a segurança aquática pede sinalização e guarda‑vidas; a operação constante diminui choques térmicos e economiza energia. Em contrapartida, o retorno vem da ocupação perene, da agenda de eventos e da possibilidade de oferecer “praia” onde o litoral está longe. Para o visitante, a regra é simples: hidratou, protegeu a pele e respeitou as áreas técnicas, a imensidão azul vira aliada do descanso e do esporte.


