Sete outubros contaram histórias diferentes no campo. Os preços mudaram, os contratos reagiram e o caixa pediu atenção redobrada.
Entre 2018 e 2025, outubro virou um termômetro para quem vive da porteira para dentro. A fotografia mais recente mostra boi gordo e bezerro em recuperação, enquanto milho e soja caminharam em direção oposta na comparação anual. O movimento nos futuros na B3 adicionou pistas sobre o fim de ano e reforçou a necessidade de gestão de risco.
Boi gordo volta a ganhar tração em outubro
O preço médio do boi gordo em outubro de 2025 alcançou R$ 310,5 por arroba, segundo o Cepea. O valor ficou 3,4% acima de outubro de 2024, quando a média foi de R$ 300,3. A melhora ao longo do mês estimulou ajustes nas curvas futuras e elevou o apetite do investidor.
Em outubro de 2025, o boi gordo registrou média de R$ 310,5/@ e superou em 3,4% a base de outubro de 2024.
O mercado indicou continuidade do fôlego no curtíssimo prazo. Os preços esperados para novembro e dezembro de 2025 negociaram, ao fim de outubro, com prêmios aproximados de R$ 10 a R$ 15 por arroba em relação ao indicador de referência do mercado futuro. O número de contratos em aberto cresceu, principalmente para o vencimento de dezembro, sinal de maior participação e proteção de preços.
O que diz a B3 para novembro e dezembro
As posições mais líquidas carregaram a leitura de que a arroba pode encerrar o ano em patamar mais alto do que o observado no fim de outubro. A curva, no entanto, seguirá sensível a fluxo de exportações, oferta de boi pronto e escalas de abate. Quem trava preço agora precisa acompanhar a base local e o ágio do físico sobre o futuro.
Bezerro sustenta valor e mexe na reposição
O bezerro no Mato Grosso do Sul, avaliado em reais por cabeça, subiu 32,9% em outubro de 2025 frente a setembro do ano anterior. No recorte do mês, o preço ficou praticamente estável, mas a média de outubro se manteve bem acima de outubro de 2024. Essa estabilidade recente, combinada com o ganho da arroba, deu leve alívio na relação de troca para quem depende de reposição.
Relação de troca melhora um pouco: arroba mais firme e bezerro estável no mês suavizam o custo de reposição.
A leitura para a cria e a recria ainda exige cautela. A valorização acumulada do bezerro pressiona margens quando a arroba fica lateral, e incentiva travas combinadas de reposição e venda de boi magro/fino para equilibrar o fluxo de caixa.
Milho cede; soja prolonga ciclo de queda em outubro
O milho registrou média de R$ 65,3 por saca (Cepea) em outubro de 2025, 5,0% abaixo de outubro de 2024, quando ficou em R$ 68,8. A pressão veio da oferta e da expectativa de estoques mais confortáveis. No caso da soja (Cepea, Paranaguá-PR), outubro de 2025 marcou mais um recuo frente a outubro de 2024, completando o terceiro ano seguido de queda para esse mês. Na virada do mês, os futuros da oleaginosa reduziram perdas, mas ainda precificam níveis inferiores aos atuais.
Milho em R$ 65,3/sc e soja em mais um outubro de baixa: grãos perdem tração na comparação anual.
O que os números de outubro contam de 2018 a 2025
A série de outubro revela movimentos distintos. O ciclo pecuário alternou períodos de aperto de oferta e reajuste na arroba com fases de descarte e alívio de preços. Nos grãos, o compasso veio de colheitas, câmbio e prêmios nos portos, com a soja enfrentando três outubros seguidos de retração e o milho recuando em 2025 após bases mais firmes no ano anterior. Para o produtor, o aprendizado é claro: outubro costuma reposicionar expectativas para a safra e para o giro do rebanho.
Comparativo de outubro: preços e direção do mercado
| Produto | Média de outubro/2025 | Variação vs outubro/2024 | Ponto de atenção |
|---|---|---|---|
| Boi gordo (Cepea) | R$ 310,5/@ | +3,4% | Futuros precificando +R$ 10 a +R$ 15/@ ao fim de outubro |
| Bezerro (Cepea, MS) | Preço por cabeça | +32,9% vs setembro do ano anterior | Média de outubro muito acima de out/2024, mês estável |
| Milho (Cepea) | R$ 65,3/sc | -5,0% (vs R$ 68,8) | Oferta e custos logísticos pesaram |
| Soja (Cepea, Paranaguá) | — | Queda pelo 3º ano seguido | Futuros reagiram no fim de outubro, ainda abaixo do físico |
Fatores que mexeram com o seu resultado
- Oferta de boi pronto e escalas de frigoríficos influenciaram a recuperação da arroba.
- Reposição cara, com bezerro valorizado no acumulado, exigiu planejamento de caixa.
- No milho, disponibilidade e ritmo de exportação ajustaram a curva de preços.
- Na soja, prêmios em Paranaguá e o dólar moldaram a renda no porto.
- Na B3, aumento do interesse em dezembro sinalizou busca por proteção até o fim do ano.
Como ajustar a estratégia entre outubro e dezembro
Quem vende boi gordo pode combinar fixação parcial no físico com trava no futuro. Uma alternativa é usar venda de contrato futuro para dezembro e recomprar parte via opções caso o mercado ganhe mais força. Assim, você segura piso e mantém alguma participação em possíveis altas.
Para o bezerro, simule a relação de troca por lote. Se a arroba média está em R$ 310,5 e a leitura do mercado futuro adiciona R$ 10 a R$ 15/@, a receita potencial do boi gordo sobe para algo perto de R$ 320 a R$ 325/@ na referência do futuro ao fim de outubro. Compare com o custo do bezerro entregue na fazenda e avalie se a margem esperada cobre nutrição, sanidade e custo financeiro do giro.
Ideias práticas para o produtor e o comprador
- Milho e soja: negocie lotes fracionados. Escalone vendas e compras em janelas, reduzindo o risco de preço único.
- Boi gordo: alinhe travas ao seu cronograma de abate. Evite vender futuro sem ter boi pronto no período.
- Reposição: avalie raça, peso e ganho esperado. Um bezerro mais caro pode compensar se o ganho de carcaça for superior.
- Caixa: projete entradas e saídas por semana. Antecipe fretes e insumos quando a curva de preços indicar aperto.
Riscos, vantagens e um exercício rápido
Risco de base: o preço do seu município pode divergir do indicador. Monitore a diferença e ajuste o hedge. Liquidez: contratos de gado mais negociados tendem a concentrar-se nos vencimentos de fim de ano; prefira os meses com maior volume. Vantagem de travar: previsibilidade de margem e disciplina no fluxo de caixa.
Exercício: some suas arrobas prováveis até dezembro e multiplique pelo preço futuro de referência observado ao fim de outubro. Subtraia custo de ração, bezerro, sanidade, mão de obra e fretes. Se a margem ficar apertada, ajuste o volume travado ou renegocie prazos de insumo. Se a margem ficar folgada, avalie deixar uma fatia sem hedge para capturar eventuais altas.
O que observar nas próximas semanas
- Escalas e ágio do boi China, que podem apertar o físico.
- Prêmios da soja em Paranaguá e o câmbio, com impacto direto no preço do produtor.
- Fluxo de exportação de milho e eventual competição com o consumo interno.
- Curva da B3 para boi gordo, volume em aberto e ajustes na virada do mês.


