Quatro motoristas, 296 pneus e pedágio sem cabine: você encararia a megacarreta da Fernão Dias?

Quatro motoristas, 296 pneus e pedágio sem cabine: você encararia a megacarreta da Fernão Dias?

Um comboio gigante cruza o Sul de Minas e altera rotinas. A cada quilômetro, sinais, escoltas e muita paciência à prova.

A circulação da megacarreta pela BR-381 impõe bloqueios pontuais, velocidade reduzida e mudanças de faixa. O deslocamento, planejado por meses, leva uma peça industrial até Goiás e exige coordenação raramente vista nas estradas brasileiras.

Como esse comboio se movimenta

O conjunto reúne quatro caminhões tracionando uma carreta de múltiplos eixos. Cada motorista cumpre papel sincronizado para empurrar e puxar o peso total, distribuído em dezenas de rodas. A formação reduz esforço por eixo e limita danos ao pavimento.

Quatro caminhões, 44 eixos e 296 pneus repartem 636,5 toneladas de peso bruto em velocidades controladas.

A operação avança em janelas diurnas, com pista seca e apoio técnico permanente. Equipes verificam cabos, freios, temperatura dos pneus e nivelamento antes de cada retomada. Qualquer variação fora do padrão interrompe a marcha.

Dimensões que mudam a pista

A carga central é um sistema de moagem industrial com 19,5 metros de comprimento e 210 toneladas. Somada ao equipamento de transporte, o comboio atinge 123 metros de extensão, 7,3 metros de largura e 5,7 metros de altura. Esse volume ocupa mais de uma faixa e demanda conversões lentas em acessos e alças.

Característica Valor
Comprimento total 123 m
Largura 7,3 m
Altura 5,7 m
Peso da carga 210 t
Peso bruto do comboio 636,5 t
Eixos 44
Pneus 296
Velocidade média 30 km/h
Avanço diário cerca de 30 km

Para contornar limitações de altura e largura em viadutos e pistas secundárias, o planejamento incluiu um desvio de cerca de 400 km.

De Santos a Goiás: rota, paradas e janela de chegada

O transporte saiu do Porto de Santos com destino a Edealina, onde a indústria de cimento Votorantim receberá o equipamento. Na Fernão Dias, o comboio parou no pátio da Polícia Rodoviária Federal em Perdões (MG) para transferência a uma configuração menor e, então, seguirá pela BR-354 em direção ao Centro-Oeste.

A previsão indica chegada nos primeiros dias de janeiro, caso o cronograma se mantenha. A equipe reservou pontos de parada programados, com espaço para manobras, inspeção e descanso. Chuvas e reparos já impuseram pausas prolongadas ao longo do percurso.

Trânsito só de dia e com piso seco: a regra corta riscos e aumenta a chance de manobras seguras para todos.

Pedágio sem cabine e tarifas específicas

O comboio paga pedágio por número de eixos, como prevê a norma. Para passar pelas praças, não usa as cabines comuns. O deslocamento ocorre pelas faixas laterais, dimensionadas para cargas superdimensionadas. Além da tarifa básica, incidem cobranças adicionais, como TAP (Tarifa Adicional de Pedágio) em trechos estaduais e TUV (Tarifa de Utilização de Via) quando aplicável.

Por que as cabines ficam fora do trajeto

As cabines não suportam, física e operacionalmente, a largura e a dinâmica de um transporte desse porte. As faixas externas têm largura extra, melhor raio para conversões e área de escape, o que viabiliza o avanço sem comprometer a segurança dos demais usuários.

Licenças, escoltas e redundância

O itinerário dependeu de autorizações sequenciais do Porto de Santos, DNIT e DERs de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Cada órgão avalia geometria, sinalização, pontes e obras de arte ao longo do trecho, além de trechos urbanos, contornos e restrições locais.

Para reduzir riscos, a transportadora incluiu cavalo mecânico reserva, carro-oficina com técnicos especializados e equipe de engenharia acompanhando a operação. A PRF e equipes concessionárias orientam bloqueios momentâneos, escoltas e travessias de estruturas sensíveis.

O que muda para você na estrada

  • Tráfego lento e ultrapassagens controladas em segmentos com cones e batedores.
  • Bloqueios breves em acessos urbanos, pontes e trechos de pista simples.
  • Maior concentração de viaturas e equipes de apoio em horários diurnos.
  • Janelas de deslocamento previsíveis e comunicadas com antecedência nas paradas.

Como dirigir ao se aproximar do comboio

  • Mantenha distância e evite entrar nos pontos cegos próximos aos módulos de eixo.
  • Reduza a velocidade ao cruzar sinalização temporária e obedeça às ordens de batedores.
  • Não realize ultrapassagens em curvas, pontes ou aclives curtos; aguarde trechos liberados.
  • Fique atento a mudanças de faixa e a manobras de conversão em interseções.

Velocidade controlada e paciência encurtam o tempo total de todos na rodovia. Forçar ultrapassagens só cria novas retenções.

Por que a estrada, e não trem?

Transportes ferroviários exigem bitolas, gabaritos e janelas operacionais que nem sempre se ajustam a peças com altura e largura elevadas. Ao optar pela rodovia, a operação ganha flexibilidade de manobra, apesar da velocidade reduzida e do impacto no tráfego.

Quando a chuva muda tudo

Piso molhado eleva o risco de deslizamento lateral, alonga distâncias de frenagem e limita o controle nos módulos de eixo direcionais. Por isso, o comboio suspende a viagem sempre que a pista perde aderência. A última pausa por chuva ocorreu logo após a retomada, reforçando a estratégia de condução conservadora.

O que essa carga vai fazer em Goiás

O sistema de moagem integra a linha de produção de cimento. Com ele, a fábrica processa matéria-prima com eficiência e precisão granulométrica. Esse tipo de investimento melhora desempenho energético, estabiliza processos e amplia a capacidade instalada. A movimentação, cara e lenta, compensa quando a peça não pode ser montada no destino em módulos menores.

Entenda o impacto econômico

Cargas desse tamanho envolvem rotas, licenças e escoltas que geram receitas e mobilizam serviços locais. Em paralelo, exigem coordenação para minimizar interferências no transporte de passageiros e de cargas perecíveis. O uso de múltiplos eixos dilui pressão por roda e preserva o pavimento, reduzindo custos futuros de manutenção.

Quanto maior a precisão no planejamento, menor o tempo parado: paradas programadas, checagens e sinalização salvam horas de congestionamento.

Informações úteis para quem precisa planejar a viagem

Se você depende da Fernão Dias e de corredores próximos, considere margens extras de horário nos períodos diurnos. Reprogramar entregas para janelas noturnas pode reduzir atrasos, já que o comboio não trafega à noite. Motoristas de ônibus e caminhões devem ajustar escalas, privilegiando abastecimento e refeições fora dos horários de passagem.

Para quem transporta produtos sensíveis, vale simular alternativas com trechos paralelos e prever paradas em cidades com pátios amplos. Aplicativos de trânsito ajudam a identificar pontos de retenção formados por manobras e bloqueios intermitentes. Escolas de direção profissional podem usar a operação como estudo de caso, reforçando técnicas de condução defensiva ao redor de cargas excedentes.

Leave a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *