Santa Catarina trava com 8 mil caminhões sem motoristas: você vai pagar a conta no mercado?

Santa Catarina trava com 8 mil caminhões sem motoristas: você vai pagar a conta no mercado?

Prateleiras abastecidas dependem de caminhões em movimento. Quando a engrenagem emperra, a conta chega no frete, no prazo e no carrinho.

Em Santa Catarina, transportadoras relatam frotas ociosas por falta de gente habilitada. O alerta já tem número e custo mensais. O tema parece distante, mas pesa no preço do alimento, na entrega do e-commerce e no ritmo da indústria.

Escassez em santa catarina ganha corpo

Levantamento do Setransc aponta entre 7 e 8 mil caminhões parados no estado por falta de motoristas. O efeito imediato ocorre no caixa das empresas, com prejuízo que supera R$ 30 milhões por mês. A situação segue contida porque a economia anda fraca. Uma aceleração nas vendas tende a expor um gargalo maior na ponta do frete.

Entre 7 e 8 mil caminhões sem condutor geram perdas acima de R$ 30 milhões por mês no estado.

Essa capacidade ociosa encarece o transporte, alonga prazos e derruba a confiabilidade da cadeia. O custo do atraso sai do bolso de quem produz e de quem compra.

Por que dirigir caminhão deixou de atrair

Salário não fecha a conta do desgaste

Empresas oferecem remuneração que pode passar de R$ 10 mil, somando benefícios e comissões. Mesmo assim, faltam currículos. A rotina na estrada virou sinônimo de pressão contínua. Jornadas longas afastam a convivência com a família. Paradas com infraestrutura precária diminuem o conforto nas pausas.

Infraestrutura e burocracia desmotivam

Áreas de descanso carecem de sanitários adequados, segurança e alimentação decente. Regras mais rígidas de controle de jornada exigem planejamento sofisticado. Regulamentação traz previsibilidade, mas, sem apoio operacional, vira papelada e multa. Muitos profissionais optam por outras áreas com menos desgaste.

Tempo perdido fora do volante

O motorista dirige por horas em rodovias cheias e, ao chegar para descarregar, fica parado aguardando janela de atendimento. A espera se repete no carregamento seguinte. O vaivém de docas sem agenda clara reduz a produtividade do veículo e mina a motivação do condutor.

Fila em pátios e docas transforma hora produtiva em custo fixo, sem remuneração equivalente.

Embarcadores e recebedores influenciam diretamente essa conta. Quando a operação no pátio falha, o cronograma do transporte desanda. O efeito acumulado derruba a eficiência do setor.

De pai para filho, a corrente se quebrou

Décadas atrás, famílias incentivavam a continuidade da profissão. Hoje, muitos pais desencorajam os filhos a seguir a vida na boleia. O desejo por estudo e por rotinas previsíveis fala mais alto. O ciclo de reposição natural não se sustenta.

Rotatividade corrói o caixa

Quem entra precisa de treinamento, mentoria e tempo para ganhar experiência. A curva de aprendizado custa caro e, muitas vezes, o novato muda de empresa antes de maturar. Profissionais experientes também circulam entre transportadoras em busca de melhores propostas. Essa dança contínua aumenta a conta de contratação e reduz a estabilidade operacional.

O quadro global não ajuda

A falta de motoristas não é exclusividade catarinense. Estados Unidos, Alemanha, Espanha, Reino Unido e Japão reportam déficit elevado e envelhecimento da mão de obra. Países antes vistos como celeiro de profissionais já convivem com escassez. O mundo inteiro disputa o mesmo perfil, o que pressiona salários e benefícios em várias praças.

Como destravar: medidas práticas agora

Subsidio para CNH nas categorias C, D e E ajuda, mas não resolve sozinho. O problema se resolve no detalhe operacional e no cuidado com gente. Abaixo, ações que reduzem a ociosidade e melhoram a atração.

  • Agenda de pátio com hora marcada, multa por atraso e prioridade para quem cumpre janela.
  • Paradas com sanitários limpos, chuveiro, alimentação adequada e vigilância 24 horas.
  • Escalas previsíveis, folgas combinadas e trajeto que permita retorno periódico ao lar.
  • Bônus por desempenho seguro, consumo eficiente e cumprimento de horário sem infração.
  • Programas de formação contínua e tutoria com motoristas experientes remunerada.
  • Atração de mulheres e jovens, com frota adaptada, comunicação direta e política contra assédio.
  • Telemetria para planejar rotas e pausas, evitando janelas mortas na doca.

O impacto no seu bolso

Com caminhão parado, o frete sobe. Com frete mais caro, o preço final de alimentos, eletrodomésticos e remédios tende a crescer. Prazo de entrega aumenta, e promoções perdem fôlego. A cadeia inteira absorve o choque.

Causa Efeito no custo Efeito no prazo
Fila na doca Mais horas improdutivas Entrega reprogramada
Falta de motorista Frete por km mais caro Menos janelas de coleta
Rotatividade Treinamento e seguro mais altos Equipe sem rotina consolidada
Infraestrutura fraca Paradas longas e desvios Rota menos confiável

Quanto custa um caminhão parado

Com perda mensal acima de R$ 30 milhões para 7 a 8 mil veículos parados, a conta por unidade fica entre R$ 3,7 mil e R$ 4,3 mil por mês. Esse valor ignora a receita que deixaria de entrar com o veículo rodando. Soma-se combustível, depreciação e seguro. O ativo estacionado vira passivo imediato.

O que empresas e governo podem fazer já

Empresas

  • Parceria com embarcadores para padronizar janelas, check-in digital e meta de tempo de pátio.
  • Frota com cabine confortável, ar-condicionado revisado e itens de segurança ativos.
  • Plano de carreira com degraus claros: auxiliar, carreteiro, carreta bitrem, rodo-trem.

Poder público e sindicatos

  • Mutirão para CNH profissional com avaliação médica e psicológica ágil.
  • Incentivo fiscal para pátios de descanso e postos com certificação de qualidade.
  • Campanhas de trânsito focadas em respeito ao profissional da estrada.

Como o leitor pode perceber sinais

Prazo de transporte maior em compras online indica menos disponibilidade de veículos. Mercado com reposição lenta sugere frete pressionado. Promoções com retirada mais distante valorizam o custo logístico escondido no preço.

Onde há oportunidade de carreira

Quem busca migração profissional encontra demanda em operações regionais, distribuição urbana e transferência noturna entre centros. Rotas curtas reduzem distância da família e facilitam a adaptação de novos condutores. Programas de treinamento interno ajudam a acelerar a curva de aprendizado, desde que a operação ofereça apoio na rotina real da estrada.

Ponto cego que precisa virar prioridade

Sem janela certa na doca, qualquer benefício perde força. Sem banheiro digno, nenhum salário compensa. Sem folga combinada, a família pesa mais. O problema está mapeado. O passo seguinte pede coordenação, metas por praça e cuidado diário com quem segura a direção. Sem isso, a conta volta para você no preço final e no prazo que não chega.

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