As imagens que circulam entre tratadores reacendem esperança na Amazônia e apontam um desfecho raro após um resgate dramático.
Um mês depois de ser resgatado no Rio Negro, em Manaus, um macho jovem de onça-pintada concluiu uma virada surpreendente na reabilitação. O felino recuperou a visão e voltou a mover toda a musculatura facial no Zoológico do Tropical, onde permanece sob acompanhamento desde 1º de outubro. Fotos de antes e depois mostram a transformação e sugerem que a soltura está próxima.
O resgate no Rio Negro
Passageiros de uma embarcação avistaram a onça nadando por longas horas, exausta e desorientada, no dia 1º de outubro. Equipes da Secretaria de Proteção Animal, do Batalhão Ambiental, do Laiff/Ufam e apoiadores retiraram o animal da água e realizaram os primeiros atendimentos.
Os exames iniciais apontaram um disparo de arma de caça. Mais de 30 estilhaços atingiram rosto, cabeça e pescoço. Havia dentes quebrados e feridas abertas. Apesar do quadro delicado, o estado geral foi considerado estável. Após estabilização em clínica veterinária, o felino seguiu para o Zoológico do Tropical, na zona oeste de Manaus.
Mais de 30 fragmentos de munição ficaram retidos, mas as lesões cicatrizaram e não comprometeram a mímica facial nem a visão.
Trinta e dois dias que mudaram o prognóstico
No sexto dia de tratamento, as imagens mostravam limitação para movimentar o lado direito da boca. O inchaço era evidente e o animal não conseguia exibir a dentição por completo. No 24º dia, a diferença saltou aos olhos: face simétrica, agilidade para mastigar e resposta rápida aos estímulos. Aos 32 dias, a equipe relatou recuperação total da visão e movimentos faciais normalizados.
A decisão de não retirar todos os fragmentos próximos à bochecha e à orelha direita evitou novos traumas. O edema regrediu e a cicatrização avançou sem sinais de infecção.
Visão restabelecida, mastigação eficiente e tônus na musculatura facial garantiram o sinal verde para a etapa de pré-soltura.
Comportamento que indica prontidão
O felino passou a cavar o solo, marcar troncos com arranhões e reagir com instinto de defesa diante de estímulos. Esses comportamentos, somados à vigilância constante do ambiente, indicam aptidão para voltar ao território natural. A equipe também observou atenção a presas e postura de caça, pontos-chave para a sobrevivência fora do cativeiro.
O que as imagens revelam
- Dia 6: dificuldade de movimentar o lado direito da boca; edema perceptível.
- Dia 24: simetria facial, exposição completa da dentição e reflexos visuais preservados.
- Dia 32: movimentos faciais plenos, agilidade motora e comportamento típico de animal arredio.
| Data | Marco | Condição clínica |
|---|---|---|
| 1º de outubro | Resgate no Rio Negro | Estável; múltiplos estilhaços; dentes quebrados |
| 6º dia | Primeiras imagens | Edema e hipoatividade do lado direito da face |
| 24º dia | Antes e depois | Recuperação da simetria facial e da visão |
| 32º dia | Pré-soltura | Comportamento selvagem e aptidão para caça |
Soltura: como, quando e onde
A liberação deve ocorrer em breve. A direção do Zoológico do Tropical afirma que o animal sairá diretamente para a mata, sem estada intermediária em outro recinto. A definição do ponto de soltura reunirá Ipaam, Ibama, ICMBio, Laiff/Ufam e Secretaria de Proteção Animal, que avaliam risco de conflito, disponibilidade de presas e conectividade florestal.
Critérios que pesam na decisão
- Oferta de presas e acesso a água em período de cheia e seca.
- Baixa presença humana e histórico reduzido de caça na área.
- Conectividade com corredores de floresta para dispersão segura.
- Ausência de ferimentos ativos e capacidade de caça autônoma.
- Monitoramento pós-soltura com protocolos de bem-estar.
Soltar não é apenas abrir o portão: envolve diagnóstico comportamental, avaliação ecológica e monitoramento contínuo para reduzir riscos.
Por que a onça-pintada ainda é alvo
A expansão humana sobre áreas de floresta encurta territórios de grandes predadores. Conflitos surgem quando rebanhos ou criações ficam desprotegidos. A caça de subsistência e a caça ilegal agravam o quadro. Em diferentes biomas do país, a onça-pintada enfrenta pressão por perda de habitat e perseguição direta. Cada indivíduo reabilitado ajuda a manter funções ecológicas, como o controle de populações de herbívoros.
Estilhaços e riscos à saúde
Fragmentos de munição podem causar dor, inflamação e infecções. Em alguns casos, a remoção traz mais dano do que benefício, principalmente quando os estilhaços estão próximos de nervos e músculos. O manejo considera dor, mobilidade e sinais sistêmicos. Radiografias seriadas e exames clínicos regem a conduta. Quando há cicatrização, ausência de secreção e função preservada, a equipe prioriza reabilitação e treino comportamental.
Como agir se você encontrar uma onça
- Mantenha distância e não tente se aproximar para fotografar.
- Não corra; recule devagar, mantendo o animal no campo de visão.
- Fique em grupo e faça barulho moderado para sinalizar sua presença.
- Proteja criações domésticas com cercas e manejo noturno.
- Acione as autoridades ambientais locais em caso de risco ou animal ferido.
O que esperar após a soltura
Casos como este costumam incluir uma fase de monitoramento discreto. Técnicos verificam marcas no ambiente, presença de presas e eventuais indícios de aproximação de áreas habitadas. Quando há necessidade, a equipe reforça barreiras de conflito e orienta moradores. A prioridade recai sobre manter o animal arredio a humanos, situação que aumenta a chance de sucesso.
Balanço para o leitor
O episódio no Rio Negro traz pistas valiosas para quem acompanha a conservação. Em 32 dias, um felino jovem superou traumas faciais, recuperou a visão e retomou comportamentos que sustentam sua vida livre. Para quem vive na Amazônia, isso significa floresta mais equilibrada e menos encontros de risco, desde que a comunidade humana participe da prevenção à caça e do manejo responsável do território.
Quer se envolver de forma prática? Participe de ações de educação ambiental em sua região, incentive o manejo de criações com estruturas simples e compartilhe informações corretas sobre convivência com fauna. Pequenas medidas reduzem conflitos, desestimulam a caça e dão espaço para que histórias como esta terminem onde precisam: na floresta, com o predador em seu posto ecológico.


