O câmbio, o clima e as cotas de importação já mexem no seu prato, no seu bolso e no plano das empresas.
Os embarques do agronegócio aceleraram em outubro e mudaram rotas. Açúcar e carne bovina puxaram a fila e firmaram novos picos mensais. Tarifas extras dos Estados Unidos provocaram um rearranjo do comércio, e o Brasil buscou novos compradores. A diversificação de mercados sustentou volumes e receitas.
Recordes em outubro e o novo mapa das vendas externas
O Brasil exportou 4,2 milhões de toneladas de açúcar em outubro, alta de 12,8% ante um ano antes. Em carne bovina in natura, os embarques alcançaram 320,6 mil toneladas, aumento de 18,6% na mesma comparação. Os números vieram da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e superaram as marcas anteriores para qualquer mês.
O açúcar bateu 4,2 milhões de toneladas e a carne in natura somou 320,6 mil toneladas em outubro, novos recordes mensais.
O movimento ocorreu em meio a tarifas adicionais impostas pelos EUA à carne brasileira. Exportadores redirecionaram cargas e abriram espaço em mercados novos e antigos. A China manteve papel central para a proteína bovina. O México ganhou relevância. Rússia, Chile, Filipinas, Indonésia e União Europeia compuseram a lista de destinos com contribuições visíveis, segundo avaliação da consultoria StoneX.
Açúcar: safra cheia, preço mais baixo e disputa por navios
Usinas aproveitaram a forte moagem de cana para exportar volumes históricos. A Conab estima 45 milhões de toneladas de açúcar na safra 2025/26, segunda maior da história, atrás apenas das 45,7 milhões de 2023/24. A capacidade de produção sustentou a oferta ao longo do segundo semestre.
Com Brasil forte e expectativa de mais oferta em outros países, a referência do açúcar bruto na ICE tocou a mínima de cinco anos no começo de novembro. Os preços mais baixos cortaram a receita média por tonelada e reduziram a arrecadação em dólares. As vendas externas de açúcar renderam US$ 1,67 bilhão no mês, queda de 5,8% na comparação anual.
Safra volumosa garantiu o recorde, mas a queda nas cotações pressionou a receita do açúcar em outubro.
O câmbio suavizou parte do impacto ao transformar dólares mais fracos em reais no caixa das usinas. O mix entre açúcar e etanol seguiu decisivo. Usinas com flexibilidade deslocaram cana para cristalizar mais açúcar diante de paridade favorável, mesmo com a curva de preços em baixa.
- Oferta: Brasil projeta 45 milhões de t em 2025/26, próximo do topo histórico.
- Preço: ICE testou piso de cinco anos no início de novembro.
- Logística: janelas de atracação ficaram apertadas com fila de granéis.
- Câmbio: variações do real alteraram margens e decisões de fixação.
Carne bovina: demanda firme e desvio de rotas em resposta às tarifas
A carne bovina in natura avançou para 320,6 mil toneladas, nova máxima, com impulso de pedidos da Ásia e da América do Norte. A China, principal cliente, ampliou compras após crescimento de quase 40% em setembro. A diversificação reduziu a dependência de um único destino.
As tarifas adicionais dos EUA sobre a carne brasileira espremeram parte do fluxo tradicional. Frigoríficos responderam com contratos em mercados alternativos. O México ganhou espaço com acordos sanitários ativos. Rússia e países do Sudeste Asiático absorveram cortes dianteiros e dianteiros desossados. A União Europeia seguiu relevante em nichos de maior valor.
Com maior demanda por cortes nobres e carcaças mais valorizadas, a receita da carne in natura somou US$ 1,775 bilhão em outubro, salto superior a 40% ante um ano antes, segundo a Secex. O preço médio subiu e melhorou a composição do mix de vendas.
Outras commodities ganham tração na mesma janela
Soja e milho também cresceram. As exportações de soja atingiram 6,7 milhões de toneladas em outubro. O milho alcançou 6,5 milhões de toneladas, sustentado por competitividade nos portos. O minério de ferro somou 40,7 milhões de toneladas e ficou atrás apenas do recorde mensal de julho, de 40,9 milhões. O petróleo bruto somou 8,9 milhões de toneladas.
| Produto | Volume em outubro | Receita (US$) | Observação |
|---|---|---|---|
| Açúcar | 4,2 milhões t | 1,67 bilhão | Preço na ICE em mínima de 5 anos |
| Carne bovina in natura | 320,6 mil t | 1,775 bilhão | Nova máxima mensal; diversificação de destinos |
| Soja | 6,7 milhões t | — | Fluxo sazonal e câmbio favorável |
| Milho | 6,5 milhões t | — | Competitividade nos portos |
| Minério de ferro | 40,7 milhões t | — | Segundo melhor mês da série |
| Petróleo | 8,9 milhões t | — | Maior giro em grandes navios |
O que isso significa para você
Carne mais cara no exterior tende a enxugar a oferta no mercado doméstico. O varejo sente pressão nas gôndolas, sobretudo em cortes de maior valor. Já o açúcar vive dinâmica oposta. A queda das cotações internacionais pode aliviar preços internos, se o câmbio ajudar e se as usinas não deslocarem cana para etanol em busca de melhor paridade.
Uma simulação simples mostra o efeito. Se a cotação internacional do açúcar cair 15% e o real ficar estável, a indústria de alimentos pode captar uma redução de 8% a 10% no custo do insumo, considerando frete e prêmios de porto. Esse alívio tende a chegar ao consumidor com atraso e de forma parcial, por causa de estoques, contratos e margens.
Tarifas e rearranjo: como o Brasil contorna o obstáculo
As tarifas adicionais dos EUA encareceram a carne brasileira naquele mercado. Exportadores ampliaram embarques para países com apetite por proteína e sem novas taxações. A estratégia reduz perdas e preserva escala industrial. O episódio também acelera negociações para habilitar plantas em destinos alternativos e ajustar a logística de contêineres.
Ao redirecionar cargas para México, Ásia e Europa, o Brasil neutraliza parte do efeito das tarifas americanas.
Na prática, a rede de compradores fica mais distribuída. O risco de concentração cai. A indústria ganha poder de barganha e melhora a precificação por corte e por canal.
Pontos de atenção até a próxima safra
- Clima: excesso de chuvas pode atrasar colheita de cana e afetar ATR; seca prolongada reduz produtividade.
- Sanidade animal: qualquer ocorrência sanitária interrompe habilitações e muda fluxos em horas.
- Câmbio: real mais fraco eleva receita em reais, mas encarece fretes e insumos dolarizados.
- China: políticas de estocagem e licenças impactam o apetite por carne bovina.
- Frete marítimo: custos e disponibilidade de navios afetam prêmios de exportação.
- Combustíveis: preço da gasolina altera a paridade do etanol e o mix das usinas.
- Política comercial: novos entraves ou cotas mudam o destino das cargas em curto prazo.
Como produtores e empresas podem se proteger
Indústrias e cooperativas costumam fixar parte do açúcar em bolsas internacionais e travar câmbio para reduzir volatilidade. Frigoríficos segmentam mercados por corte e por exigência sanitária para defender margens. Esses mecanismos funcionam melhor com leitura fina de fretes, prêmios de porto e janelas de embarque.
Para o consumidor, vale observar promoções em cortes alternativos de carne e em produtos com maior uso de açúcar. A troca de marcas e tamanhos pode compensar parte das oscilações. Restaurantes e padarias podem renegociar contratos de fornecimento com cláusulas de reajuste atreladas a índices objetivos, o que evita choques de preço no caixa.


