NetZero abre planta de biochar em Paraguaçu (MG): R$ 25 milhões podem mudar sua lavoura já em 2025?

NetZero abre planta de biochar em Paraguaçu (MG): R$ 25 milhões podem mudar sua lavoura já em 2025?

Um polo agrícola mineiro vê novas oportunidades. Resíduos ganham valor, produtores se organizam e a pauta climática vira negócio local.

Paraguaçu, no Sul de Minas, recebeu a primeira planta da NetZero dedicada à produção de biochar no estado, com aporte de R$ 25 milhões. O projeto mira resíduos agrícolas da região e promete ganhos de produtividade no campo, além de receita com créditos de carbono para quem aderir à tecnologia.

Por que Paraguaçu e por que agora

A cidade está no raio de uma das maiores regiões cafeeiras do país e próxima de áreas com milho, eucalipto e cana. Essa oferta de biomassa reduz custos logísticos e garante matéria-prima para a pirólise, processo que transforma resíduos em biochar.

Empresas e produtores buscam práticas de baixo carbono. O avanço do mercado voluntário de créditos e a necessidade de resiliência diante do clima seco dão tração a iniciativas que unem agricultura e tecnologia limpa.

Investimento de R$ 25 milhões inaugura um novo ciclo: transformar resíduos locais em biochar, gerar energia e emitir créditos de carbono.

O que é biochar e como ele pode ajudar o produtor

Biochar é um material carbonáceo obtido pela pirólise de resíduos orgânicos sob baixa presença de oxigênio. Ele concentra carbono de forma estável e, aplicado ao solo, melhora atributos físicos e químicos.

  • Maior retenção de água, útil em períodos de estiagem.
  • Incremento de CTC e melhor aproveitamento de fertilizantes.
  • Ambiente favorável à microbiota e às raízes finas.
  • Possibilidade de reduzir a dose de adubo mineral ao longo dos ciclos.
  • Potencial de gerar créditos de carbono quando há medição, reporte e verificação (MRV).

O material funciona como “sponge” de nutrientes e água. Em solos ácidos, pode auxiliar no ajuste de pH quando combinado a práticas de calagem e adubação orgânica. Em sistemas perenes como o café, os efeitos costumam aparecer de forma gradual, à medida que o biochar se integra ao perfil.

Como a planta vai operar e o que muda na prática

A unidade de Paraguaçu trabalha com pirólise controlada. A biomassa entra seca, passa por aquecimento e se decompõe, gerando três correntes: biochar, gases e óleos pirolíticos. A usina usa parte desses gases para energia térmica, fechando o ciclo e reduzindo custos.

O desenho operacional prioriza segurança de suprimento de biomassa, padrão de qualidade do biochar e contratos de longo prazo com produtores da região.

Encadeamentos econômicos locais

A operação cria vagas diretas na indústria e demanda indireta em coleta, secagem e transporte de resíduos. Cooperativas conseguem negociar volumes maiores, e propriedades menores ganham mercado para subprodutos antes subutilizados, como cascas e palhas.

Resíduo Origem regional Destino na planta Ganho esperado
Casca e pergaminho do café Beneficiamento de grãos Pirólise para biochar Volta à lavoura como condicionador de solo
Palhada de milho e sorgo Áreas de grãos safrinha Mistura de biomassa Melhora da estrutura do solo e retenção hídrica
Cavaco de eucalipto Silvicultura local Lastro energético Estabilidade da pirólise e padrão do produto
Subprodutos da cana Usinas próximas Complemento de feedstock Diversificação de fontes e contratos

Quanto você pode ganhar: um exemplo possível

Para um cafeicultor com 10 hectares, a estratégia pode combinar custo e retorno. A conta abaixo ilustra cenários hipotéticos que produtores costumam avaliar. Os valores variam conforme tipo de biochar, transporte e certificação.

  • Aplicação: 5 a 10 toneladas de biochar por hectare no plantio ou em renovações.
  • Custo de logística: menor para quem está até 100 km da planta.
  • Ganhos agronômicos: menos perdas por seca moderada e melhor resposta a adubos.
  • Créditos de carbono: potencial de receita adicional quando o projeto é elegível e verificado.

Produtores podem optar por contratos que preveem desconto no biochar em troca da cessão parcial de créditos ou manter a titularidade climática e vender os créditos diretamente. A escolha depende do apetite a risco, volume e prazo.

Mercado de carbono: como participar sem dor de cabeça

Projetos com biochar entram no mercado voluntário. Para gerar créditos, é preciso comprovar a permanência do carbono no solo e a rastreabilidade da biomassa. Isso exige MRV, com dados de origem do resíduo, processamentos e resultados de laboratório.

Sem medição séria, não há crédito confiável. O produtor que documenta bem tende a capturar maior valor no mercado.

Checklist para o produtor

  • Registrar origem e volume dos resíduos enviados ou adquiridos.
  • Solicitar laudos do biochar: teor de carbono, pH, condutividade, metais.
  • Planejar a aplicação por talhão e manter mapas de taxa fixa ou variável.
  • Coletar amostras de solo antes e depois para acompanhar indicadores.
  • Definir quem fica com os créditos: fazenda, cooperativa ou indústria.

Riscos e como reduzir

Abastecimento: safras fracas e clima podem reduzir resíduos. Contratos com mais de uma fonte diminuem o risco de parada.

Qualidade: biochar muda conforme a biomassa e a temperatura da pirólise. Padrões técnicos e laudos de cada lote evitam surpresas.

Logística: frete pesa. Agrupar cargas por cooperativa e planejar janelas de coleta reduz custos.

Mercado de créditos: preços oscilam. Travar parte dos volumes em contratos de médio prazo dá previsibilidade.

Efeitos esperados para a região

O projeto tende a encurtar a distância entre o resíduo e o valor agregado. Paraguaçu pode ganhar um arranjo produtivo que transforma subprodutos agrícolas em insumos de alta utilidade, além de oportunidades para transportadoras, laboratórios e serviços técnicos.

Para o município, a arrecadação se diversifica e os empregos se adensam. Para quem produz, a tecnologia vira ferramenta contra a estiagem e para reduzir a dependência de insumos importados.

Como começar na sua propriedade

Faça um diagnóstico do solo. Defina talhões pilotos onde o retorno é mais rápido, como áreas novas ou de baixa fertilidade. Ajuste a dose de biochar ao objetivo: estrutura, água ou fertilidade. Combine com matéria orgânica e práticas conservacionistas, como cobertura e terraceamento.

Se a meta envolver crédito de carbono, desenhe o projeto desde o início com MRV e escolha a metodologia mais adequada. Produtores menores podem aderir via cooperativas para diluir custos de verificação.

Para além do biochar: oportunidades que nascem junto

Pirólise também gera calor que pode secar grãos e reduzir perdas pós-colheita. Oficinas locais podem se especializar em secagem e condicionamento de biomassa. Universidades da região conseguem criar projetos de pesquisa para calibrar doses por cultura e tipo de solo, acelerando a adoção responsável.

Três temas merecem atenção nos próximos meses: viabilidade de rotas logísticas com a safra de café, padronização de qualidade para diferentes feedstocks e mecanismos de repartição de valor dos créditos de carbono com foco em pequenos produtores. A maturidade desses pontos vai determinar quem captura mais valor nessa nova economia do carbono que agora chega a Paraguaçu.

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