Você vai ao Saltenha Fest em Corumbá? 8.000 saltenhas, hino com IA e união Brasil-Bolívia agora

Você vai ao Saltenha Fest em Corumbá? 8.000 saltenhas, hino com IA e união Brasil-Bolívia agora

Na beira do Rio Paraguai, famílias e vizinhos de fronteira já falam de sabores, música e memórias que atravessam gerações.

Corumbá se prepara para uma tarde de celebração que mistura receita, sotaque e ritmo. No dia 5 de novembro, o Saltenha Fest volta ao Porto Geral com a promessa de juntar brasileiros e bolivianos em torno de uma iguaria que virou cartão de visita da cidade.

Por que o Saltenha Fest mexe com quem vive na fronteira

A festa nasceu do desejo de aproximar comunidades separadas por uma linha no mapa. Idealizado pelo ativista cultural Arturo Ardaya, filho de bolivianos e corumbaense, o evento chega à sexta edição reforçando uma identidade compartilhada. Em 2021, o esforço deste movimento garantiu uma data oficial: o Dia da Saltenha, celebrado em 10 de novembro por lei municipal.

O festival ocupa o Porto Geral, cenário histórico que ajuda a contar a trajetória da cidade. A cada edição, barracas preparam fornadas enquanto famílias se reúnem para provar recheios distintos e ouvir ritmos que ecoam dos dois lados da fronteira. Na edição passada, o público consumiu mais de oito mil unidades, marca que se tornou referência do apetite local.

Saltenha Fest — 5 de novembro, das 16h às 21h, no Porto Geral de Corumbá: música latina, gastronomia e encontro de fronteira.

Música, cheiros e passos de dança

O clima da orla muda quando a cumbia, a bachata, a salsa e o merengue marcam o compasso. Este ano, a Orquestra Internacional Sombras de América, de Porto Quijarro, se junta à Banda Manoel Florêncio para conduzir a trilha do pôr do sol. A novidade fica por conta de um hino do Saltenha Fest, com letra assinada por Pedro Castro, conhecido pelos sambas-enredo da cidade, e arranjos criados com apoio de IA. A ideia é simples: transformar a mistura de sotaques em coro.

A saltenha que virou marca de Corumbá

Apesar da semelhança com um calzone assado, a saltenha tem história própria. No fim do século XVIII, a argentina de Salta Juana Manuela Gorriti, exilada na Bolívia, popularizou um tipo de empanado que ganhou o apelido de “saltenha”. Com o tempo, a receita cruzou a fronteira e encontrou acolhida no Pantanal. Hoje, aparece em padarias, feiras e lanchonetes, acompanha festas e vira pedido certo de quem mora fora e mata a saudade da cidade.

A forma trançada da borda — o “repulgo” — sela um recheio úmido, pensado para manter o miolo suculento. No cardápio mais tradicional, entram frango desfiado, batata, ervilha, ovo cozido, azeitona e uva-passa. Há variações com carne bovina, porco e opções vegetarianas com soja. A cor alaranjada, tão característica, vem do urucum, que colore a gordura usada na massa e perfuma o preparo.

Técnica e afeto na mesma fornada

Em Corumbá, quem prepara saltenha costuma aprender olhando os mais antigos. O boliviano Pedro Andrés Justiniano, morador da cidade, mantém a prática de enrolar a massa usando as duas mãos, gesto que dá firmeza ao trançado e evita vazamentos no forno. O segredo de resultado está no equilíbrio: massa firme, recheio com caldo engrossado, montagem rápida e forno bem quente.

Para provar sem acidentes: segure a saltenha na vertical, dê a primeira mordida com calma e deixe o caldo escorrer de leve.

Receita de família, segredos compartilhados

Guardada como herança por décadas, a receita dos Ardaya ganhou luz pública. Sem entregar cada medida, a família revelou os princípios que garantem textura e sabor. A massa leva banha tingida com urucum, o que cria crosta dourada e crocante. O recheio começa com frango assado e desfiado, segue com temperos secos e se integra a um “caldo espesso” que dá suculência. O fechamento é trançado e firme, para sustentar o miolo generoso durante o assado.

  • Tinja a banha com urucum para dar cor e aroma à massa.
  • Trabalhe a massa até ficar consistente e deixe descansar antes de abrir.
  • Faça um caldo engrossado com farinha para envolver o recheio e manter a umidade.
  • Inclua azeitona, ervilha, uva-passa e ovo cozido conforme o gosto da família.
  • Asse em forno alto até dourar; a saltenha pede crocância por fora e caldo por dentro.

Montou, assou: a massa delicada não deve ficar esperando. Se demorar, a peça pode romper no forno.

Serviço do evento

Data 5 de novembro
Horário 16h às 21h
Local Porto Geral, Corumbá (MS)
Atrações Orquestra Internacional Sombras de América e Banda Manoel Florêncio
Destaques Hino do Saltenha Fest com letra de Pedro Castro e arranjos com apoio de IA

Dicas práticas para quem vai

  • Chegue cedo para evitar filas longas nas barracas mais concorridas.
  • Leve dinheiro em espécie; nem todas as tendas trabalham com pagamento digital.
  • Use roupas leves e protetor solar; a orla recebe sol direto no fim da tarde.
  • Prove sabores diferentes: frango clássico, carne bovina, porco e versões vegetarianas.
  • Curta as apresentações entre uma fornada e outra; a dança abre o apetite e rende fotos bonitas.

Cozinha de fronteira: quando o mapa não dita o paladar

A história da saltenha em Corumbá ilustra o que chefs chamam de “cozinha de fronteira”. Limites políticos não impedem viagens de ingredientes, técnicas e gostos. O que nasce em um país pode ganhar releitura a poucos quilômetros de distância. A saltenha boliviana encontra sotaque pantaneiro sem deixar sua identidade para trás, e a mesa vira espaço de conciliação, onde o sabor fala por todos.

Comparada a empanadas de outras regiões, a saltenha se distingue pelo caldo interno, mais presente, e pela massa enriquecida com gordura tingida de urucum. Já o pastel frito brasileiro difere no método de cocção e no grau de crocância. Cada formato aponta uma resposta a contextos locais: clima, oferta de ingredientes, preferências de quem compra na rua.

Mais que feira gastronômica: um gesto de pertencimento

O Saltenha Fest cresce porque dialoga com memórias afetivas. Arturo Ardaya, inspirado pelo trabalho da mãe Elsy, que sustentou a casa vendendo saltenhas por décadas, transformou uma receita doméstica em plataforma de convivência. Ao caminhar pelo casario do Porto Geral, o visitante encontra um mosaico de sotaques e histórias que se cruzam desde a infância de quem morou dos dois lados da fronteira.

Para quem pretende reproduzir a receita em casa, dois pontos pedem atenção: descanso da massa e montagem rápida. A etapa de repouso melhora a elasticidade e reduz o risco de rachaduras. Já o fechamento trançado garante que o caldo não escape. Se a ideia for congelar, asse parcialmente e termine no dia de servir, pra preservar a textura.

Ao final, fica um convite sem pressa: provar uma saltenha é também aceitar uma conversa. Entre uma mordida e outra, a cidade mostra por que transformou um salgado de origem andina em símbolo de convivência no Pantanal.

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