No Gama, um menino aprendeu contas aos oito anos e, com isso, encontrou saídas discretas para caminhos que pareciam fechados.
Na nova entrevista do Programa História Oral, o juiz de Direito Edilson Enedino das Chagas revisita perdas, escolhas e pequenos trabalhos que sustentaram a família, até alcançar a magistratura e a sala de aula. O relato emociona, provoca reflexão e mostra como a educação abre portas quando tudo falta.
Infância marcada por responsabilidade
Brasiliense e morador do Gama, Edilson perdeu o pai aos dois anos. A renda sumiu, e a casa entrou em aperto. A mãe virou referência. Ele virou apoio. Aprendeu matemática ainda criança, na prática, ao contar troco e organizar vendas.
Para ajudar, vendeu bananas nas ruas. Em dias quentes, empurrava o isopor de picolés. Em outros, oferecia jornais. Também guardou carros. Cada tarefa ensinou ritmo, disciplina e leitura rápida de pessoas e contextos.
Persistência e estudo mudam trajetórias quando viram hábito diário e compromisso com o futuro.
Como a rua virou sala de aula
Na banca de frutas, a prioridade era não errar o troco. No carrinho de picolé, a meta era aproveitar o sol. No jornal, valiam a voz, o horário e a constância. Ele transformou tudo isso em método para estudar e trabalhar.
| Idade | Marco | Aprendizado |
|---|---|---|
| 2 anos | Perda do pai | Responsabilidade precoce |
| 8 anos | “Fazer contas” no dia a dia | Cálculo e organização |
| Infância | Vendas de bananas, picolés e jornais | Disciplina e foco em metas |
| Adolescência | Guardador de carros | Leitura de contexto e comunicação |
Trabalho precoce e resiliência: contextos e limites legais
O relato remete a uma realidade dura de muitas famílias brasileiras. Hoje, o marco legal protege crianças e adolescentes e estabelece limites claros para o trabalho antes da maioridade, com a figura do aprendiz como caminho regularizado. Políticas públicas e redes de apoio, quando acessadas, reduzem riscos e favorecem a permanência na escola.
Do asfalto ao fórum: a virada
A virada veio com constância no estudo. Edilson buscou oportunidades, prestou concursos e construiu reputação. Na entrevista ao 1º vice-presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), desembargador Roberval Belinati, ele associa resultados a hábito, não a sorte. Planejamento, metas curtas, revisão. Nada de atalhos.
“Se você não sonhar, não vai realizar.” A ambição vira rota quando ganha calendário, revisão e hora marcada.
Já como juiz, ele relata um ganho que não aparece no currículo: a convivência com a diversidade humana. O que viveu nas ruas virou lente. Ao julgar, considera impactos, histórias e limites. Técnica permanece, mas empatia orienta o olhar.
Sala de aula e gabinete: dois papéis complementares
Paralelamente à magistratura, Edilson leciona em instituições de ensino. A docência fecha um ciclo: quem aprendeu na marra agora compartilha método. Em aulas, ele liga teoria a situações concretas, dá voz a dúvidas e transforma jurisprudência em ferramenta prática.
- Estímulo: leitura diária, mesmo com pouco tempo.
- Método: resumos curtos e revisões espaçadas.
- Prática: resolução de questões como treino de decisão.
- Consistência: metas semanais factíveis e mensuráveis.
- Rede: grupos de estudo e mentoria quando possível.
- Saúde: sono e alimentação como parte do plano de estudos.
História oral: memória viva do TJDFT
O Programa História Oral preserva a trajetória do Judiciário local a partir de depoimentos de magistrados, servidores e personagens que fizeram o TJDFT evoluir desde 1960. O projeto reúne entrevistas, contextos e bastidores que ajudam a entender decisões e escolhas institucionais.
A desembargadora Maria Thereza Braga Haynes idealizou e conduziu a implantação do programa em 2008. Mesmo aposentada desde 1991, manteve dedicação exemplar e gravou 25 entrevistas. Em 2014, a iniciativa ganhou novo fôlego. Na gestão atual (2024–2026), a 1ª Vice-Presidência, liderada por Roberval Belinati, elevou o programa a prioridade estratégica, com novos depoimentos e curadoria do acervo.
Memória institucional protege a justiça de modismos e resgata o fio que liga decisões a contextos sociais reais.
A entrevista completa com o juiz Edilson integra esse acervo e será disponibilizada no canal oficial do TJDFT e na página do Memorial. O registro combina trajetória pessoal e visão de magistrado, com foco no serviço à sociedade.
O que você pode aplicar hoje
A história não aponta fórmulas mágicas. Traz hábitos replicáveis. Abaixo, seis movimentos práticos que você pode testar por 30 dias:
- Defina uma meta de leitura de 20 minutos por dia, sempre no mesmo horário.
- Faça uma lista de microtarefas semanais e risque ao concluir.
- Resolva 10 questões por dia sobre um tema-chave da sua área.
- Escreva um parágrafo diário sobre algo aprendido e aplique no trabalho.
- Procure um mentor ou colega para troca quinzenal de feedback.
- Desative notificações durante blocos de estudo de 25 minutos.
Mapas de oportunidade no Distrito Federal
Quem estuda com orçamento curto pode mirar programas de bolsas e apoios estudantis. Fique atento a editais de iniciação científica júnior, ofertas de cursinhos populares, projetos de extensão universitária e vagas de jovem aprendiz. Muitas instituições públicas e privadas mantêm chamadas periódicas. Acompanhe calendários, guarde versões atualizadas de documentos e use planilhas para não perder prazos.
Como aproveitar acervos de história oral
Entrevistas institucionais viram material de estudo para concursos, TCCs e reportagens. Monte um roteiro de pesquisa com temas, datas e personagens. Extraia linhas do tempo, identifique padrões de decisão e conecte fatos a mudanças legais. Essa prática aperfeiçoa interpretação de textos e organiza repertório para provas discursivas.
Por que essa trajetória toca tanta gente
A infância de Edilson ecoa em milhares de famílias que conciliam estudo e trabalho. O diferencial apareceu quando esforço ganhou método. Ele seguiu, passou em concursos e levou a experiência de rua para o gabinete e para a sala de aula. A entrevista no Programa História Oral captura essa curva e a devolve ao público como serviço: referência, inspiração e ferramenta.
Quem lê pode adaptar. Não precisa repetir dores para aprender lições. O caminho cabe no caderno: metas claras, revisão periódica, rede de apoio e consistência. O resto aparece com o tempo, como mostrou o menino do Gama que virou juiz do TJDFT.


