Uma pastelaria de esquina virou a peça que falta para que o Grupo Zaffari feche um quarteirão e avance em uma possível nova unidade coladinha ao Allianz Parque. Quando uma massa crocante encontra milhões em investimento, quem muda de lugar — o mapa ou a memória?
O óleo range cedo na frigideira, a fumaça doce de banana com canela escapa pela janela e um torcedor com a camisa verde pede “um de queijo e caldo de cana, por favor”. Na calçada, um corretor aponta para a fachada com uma prancheta discreta. Do outro lado da rua, tapumes novos, discretos, deixam ver um buraco de obra em formação. “Dizem que é coisa dos gaúchos”, cochicha uma vizinha. Dentro do balcão, a dona passa um pano e nega com a cabeça ao telefone, pela terceira vez na semana. A cidade gira rápido por aqui. E a massa ainda resiste.
O quarteirão que virou xadrez urbano
Quem observa a quadra nos últimos meses percebe um movimento silencioso: portas baixadas, placas recém-tiradas e janelas cobertas de papel pardo. Em volta da pastelaria, vários endereços trocaram de mãos, segundo comerciantes e corretores da região, alimentando a ideia de uma **nova unidade do Zaffari**. Nos dias de jogo, a rua pulsa; nos dias comuns, o burburinho diminui, mas não some. Há uma tensão que dá para medir pelo passo acelerado de quem passa olhando duas vezes para o mesmo lote.
O balcão daqui tem nome e rosto. “A Pastelaria da Cida” serve frituras desde o fim dos anos 90, quando a rua tinha outro ritmo. Em noites de show no Allianz Parque, a fila dobra a esquina e o estoque some antes da saideira. Em semanas chuvosas, a conta aperta. Cida aprendeu a precificar pela intuição: “um mês bom segura três ruins”, ela diz, com um sorriso curto. A rotina é simples, quase coreografada: abrir, aquecer, rechear, escutar o bairro. Todo mundo que mora por perto tem uma história com esse balcão.
Por que esse quarteirão interessa? A proximidade com o estádio garante fluxo, eixos de transporte e serviços se conectam nas avenidas que cercam o bairro, e a sinergia com empreendimentos existentes pode formar um polo. Urbanistas citam o potencial de uso misto, com restrições de gabarito e estudos de impacto, como o EIV. Para um grupo varejista, resolver logística de acesso e carga/descarga é tão vital quanto o charme da vitrine. Nada disso se fecha da noite para o dia. A burocracia caminha no seu tempo, as negociações também.
Como ler os sinais e participar
Existe um jeito prático de acompanhar movimentos assim. Procure processos na Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL), busque no GeoSampa indicações de projetos, e dê uma olhada no Diário Oficial da Cidade por publicações de alvará e EIV. Caminhe no quarteirão em horários diferentes e converse com síndicos e lojistas. Quando aparecer tapume, repare nas placas técnicas: responsável pela obra, CREA, número do processo. Esse mapa de pistas diz muito, mesmo antes do primeiro caminhão de concreto.
Para comerciantes, a primeira regra é respirar. Leia cada proposta com calma, peça avaliação independente e compare aluguéis da região. Não assine nada no impulso. A gente só percebe a velocidade da cidade quando precisa tomar uma decisão grande sem querer errar. Sejamos honestos: ninguém corre atrás de alvará e estudo de solo por hobby. E, sim, dá medo perder o ponto que sustenta uma família. Todo mundo já viveu esse momento em que a cabeça diz “vai” e o coração pede “espera mais um pouco”.
Negociação pede clareza e respeito. Se o mercado quer o seu imóvel, é porque ele vale.
“Se quiserem comprar, que conversem olho no olho. Eu escuto. Só não dá para apagar a vida que a gente construiu aqui”, diz Cida, ajeitando o avental.
Para quem quer se informar sem ruído, vale guardar este pequeno guia prático:
- Documentos públicos: GeoSampa, SMUL, Diário Oficial e placas de obra contam a história em tempo real.
- Sinais de obra: sondagens no solo, demolição seletiva e instalação de tapumes indicam estágio do projeto.
- Prazos típicos: aquisição, licenciamento, adaptação de projeto, obras e operação raramente cabem num único calendário de semestre.
O que pode acontecer nos próximos meses
Se a negociação avançar, o cenário provável é de transição faseada: entrega de chaves, licenças, demolição e, mais tarde, estrutura surgindo aos poucos. Se a pastelaria resistir, o quarteirão pode ficar em compasso de espera, com obra ajustada ao “dente” que falta. Em dias de jogo, a operação de qualquer grande loja ali teria de dançar com o fluxo de torcedores, vans e táxis. Medidas de mitigação — horários de carga, rotas, sinalização — fazem parte do pacote. É curioso torcer para que nada mude, sabendo que a cidade muda o tempo todo. Para muita gente, a pergunta verdadeira não é “vai ter supermercado?”, mas “como esse novo vizinho conversa com quem já vive aqui?”. A resposta passa menos por pressa e mais por escuta. Entre uma mordida no pastel e outra, dá para imaginar muita coisa.
| Ponto Chave | Detalhe | Interesse do leitor |
|---|---|---|
| último lote em disputa | Pastelaria mantém atividade enquanto negociações seguem | Entender por que a obra não começou |
| Projeto ao lado do Allianz Parque | Fluxo intenso em jogos e shows altera dinâmica da rua | Impacto no dia a dia e no trânsito |
| Rota do licenciamento | SMUL, EIV, placas de obra e etapas de cronograma | Como acompanhar sem depender de boato |
FAQ :
- O Zaffari confirmou oficialmente a nova unidade?Até o momento, não há confirmação pública detalhada; o movimento no quarteirão é relatado por vizinhos e corretores.
- Onde ficaria a entrada principal?Varia conforme o projeto final. Esquinas próximas às vias de maior fluxo costumam concentrar acesso de pedestres.
- O que acontece com a pastelaria se houver compra?Pode haver acordo de saída, realocação nas redondezas ou permanência temporária, conforme a negociação.
- Como a vizinhança pode participar?Acompanhando processos, enviando contribuições em fases de EIV e dialogando com Subprefeitura e conselho participativo.
- Quando começariam as obras?Com todas as licenças e imóveis consolidados, o ciclo de canteiro costuma levar meses; cronogramas variam bastante.


