Um prédio gigante, esquecido por décadas no coração de Santos, ganha nova chance de vida e mexe com o bairro.
A CDHU apresentou um plano para transformar a antiga Hospedaria dos Imigrantes, na Vila Nova, em um polo de moradia, comércio, cultura e turismo. O imóvel, tombado pelo Condepasa, deve ser restaurado e reocupado com usos mistos, ativando a vizinhança e criando novas oportunidades para famílias e pequenos negócios.
O que muda no prédio histórico
Localizado na Rua Silva Jardim, 93, o edifício centenário passará por restauração completa, respeitando características originais e abrindo espaço para usos contemporâneos. A proposta da CDHU combina habitação, serviços e lazer em um mesmo conjunto, com foco em uso diário e circulação constante de pessoas.
O projeto prevê 286 apartamentos, 40 lojas, 87 salas comerciais, um cinema e uma quadra poliesportiva.
Habitação com números concretos
- 182 apartamentos de 2 dormitórios
- 52 apartamentos de 3 dormitórios
- 52 apartamentos de 1 dormitório
- 40 lojas voltadas à rua, para comércio de bairro
- 87 salas comerciais para serviços e empreendedores locais
- Cinema de bairro e quadra poliesportiva de uso compartilhado
A combinação coloca moradores e serviços lado a lado. Isso reduz deslocamentos, atrai investimentos de pequena escala e dá vitalidade a espaços hoje subutilizados.
Patrimônio e restauração que respeita a história
Erguida em 1912, a antiga Hospedaria dos Imigrantes nunca recebeu imigrantes como se planejou. Ao longo do tempo, funcionou como armazém de café, depósito da Cooperativa dos Bananicultores e pátio de contêineres. A arquitetura é eclética, com traços neocoloniais, corpo retangular e duas alas unidas por um pátio central.
No térreo, o pé-direito de 6,20 m favorece comércio e usos coletivos. No pavimento superior, com 7 m de pé-direito, a larga varanda apoiada em pilares permite circulação e convívio. O tombamento exige cuidados técnicos de restauração e compatibilização entre a preservação arquitetônica e as exigências atuais de segurança, acessibilidade e eficiência.
Preservar a memória, ativar o bairro e garantir moradia digna formam a tríade que guia a intervenção.
Impacto urbano e social na Vila Nova
A chegada de moradias e serviços pode fortalecer o comércio local, atrair linhas de crédito para microempreendedores e aumentar a frequência de pedestres, o que amplia a sensação de segurança. A presença de um cinema e de equipamentos esportivos cria rotas culturais e esportivas para quem mora e trabalha na região.
O poder público mira um efeito multiplicador: mais gente circulando durante o dia e à noite, imóveis ociosos ganhando uso e novas frentes de trabalho na obra e na operação do conjunto. A ativação do térreo com lojas voltadas para a rua e calçadas ativas tende a redesenhar o cotidiano do quarteirão.
Quem pode se beneficiar primeiro
- Famílias em busca de moradia próxima ao centro e ao emprego;
- Comerciantes de bairro e prestadores de serviço;
- Trabalhadores da economia criativa interessados em salas comerciais;
- Jovens e idosos que valorizam a oferta de lazer a pé.
Macuco entra no mapa com projeto-âncora
Além da hospedaria, a CDHU apresentou o Santos AE Macuco, em área de 30 mil m² da CPTM, entre as avenidas Siqueira Campos, Senador Dantas e a Rua Padre Anchieta. Trata-se de um empreendimento de uso misto, com foco em habitação de interesse social e mercado popular, serviços e equipamentos públicos.
Moradia acessível e serviços no mesmo endereço
- 1.769 unidades habitacionais no total;
- 762 moradias de Habitação de Interesse Social (renda de até 6 salários mínimos);
- 1.007 moradias de Habitação de Mercado Popular (renda de até 10 salários mínimos);
- 170 mil m² de área construída, com comércio e serviços integrados;
- Saúde, educação, esporte e lazer: quadra, pista de skate, playground e áreas verdes;
- Restaurante no terraço com vista para o mar e auditório;
- Áreas livres de uso público conectando o conjunto ao bairro.
Cidade compacta: morar, trabalhar e acessar serviços a poucos quarteirões, com espaços livres públicos como eixo de conexão.
Como deve avançar o cronograma
Os dois projetos estão na fase inicial. Estudos técnicos e arquitetônicos seguem em desenvolvimento, com etapas de validação urbanística e definição de parcerias antes do início das obras.
| Fase | O que inclui | Situação |
|---|---|---|
| Estudos e anteprojetos | Levantamento técnico, diretrizes de preservação, programas de uso | Em andamento |
| Planos urbanísticos | Adequações legais, mobilidade, impacto de vizinhança | A consolidar |
| Parcerias | Modelagem financeira e definição de operadores | Em negociação |
| Obras | Restauração, infraestrutura, paisagismo e fit-out | A definir |
O que muda para quem mora por perto
A vizinhança tende a sentir aumento de fluxo de pessoas e veículos, sobretudo na fase de obras e no período de implantação dos comércios. Medidas de mitigação podem incluir qualificação de calçadas, travessias seguras, faixas de pedestres bem sinalizadas e integração com transporte coletivo. Programas de economia local ajudam a manter renda no bairro, com estímulos a negócios de proximidade.
Para a alocação das moradias, a Prefeitura deverá definir critérios de atendimento e priorização. Transparência em cadastros e regras claras para HIS e HMP diminuem dúvidas e evitam deslocamentos desnecessários de famílias. A vizinhança pode participar de audiências públicas para contribuir com sugestões sobre mobilidade, usos do térreo e horários de funcionamento dos equipamentos.
Memória e turismo cultural como motores
A reabilitação abre espaço para um roteiro de memória ligado à imigração, mesmo que a hospedaria nunca tenha cumprido esse papel originalmente. Exposições temporárias, programação audiovisual no cinema e atividades educativas podem atrair escolas e visitantes. A varanda superior e o pátio central formam cenários de convivência que conectam o passado ao cotidiano de hoje.
Riscos e como enfrentá-los
- Gentrificação: manter faixas de renda acessíveis e contratos que priorizem moradores locais ajuda a equilibrar o perfil socioeconômico.
- Pressão no trânsito: planos de mobilidade ativa, bicicletários e integração tarifária reduzem a dependência do carro.
- Manutenção do patrimônio: um manual de conservação e gestão predial evita intervenções que desrespeitem o tombamento.
Como o leitor pode se preparar
Se você pretende buscar uma unidade, acompanhe os canais oficiais para entender critérios de renda, documentação e prazos. Em HIS, costuma-se exigir comprovação de renda e ausência de imóvel em nome da família; em HMP, as exigências variam conforme a modelagem financeira. Guardar holerites, comprovantes de endereço e certidões agiliza o processo.
Empreendedores interessados em lojas ou salas podem avaliar negócios de demanda diária: alimentação rápida, serviços de manutenção, pequenos mercados, saúde e bem-estar. Contratos que favoreçam horários estendidos e vitrines voltadas para a rua ativam o térreo e aumentam a segurança por presença.
ODS na prática: os projetos dialogam com os objetivos 9, 11 e 17, unindo inovação, cidades sustentáveis e parcerias.


