Nas gôndolas, rótulos prometem mais do que entregam. Consumidores atentos já levantam suspeitas e buscam respostas rápidas.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária determinou a suspensão imediata de um pó para preparo de café que virou moda nos supermercados. A medida atinge o Fellow Criativo, da Cafellow, e vale para todo o país, com foco em segurança do consumidor e transparência nas promessas estampadas no rótulo.
O que motivou a decisão
O produto leva extrato do cogumelo Agaricus bisporus – ingrediente que não passou por avaliação de segurança para uso em alimentos no Brasil. Sem esse crivo, a agência impede a venda até que a empresa comprove, com estudos robustos, que a ingestão é segura nas condições de consumo propostas.
Os fiscais também encontraram problemas na rotulagem e na propaganda. O material associava o consumo a supostos efeitos como “controle de insulina” e “redução do colesterol”, sem comprovação e sem autorização para alegações funcionais.
Produto com ingrediente sem avaliação de segurança e com alegações não aprovadas não pode ser vendido nem divulgado.
A proibição, publicada no Diário Oficial da União, alcança fabricação, comercialização, distribuição, propaganda e uso. O efeito é imediato. A determinação vale para todos os lotes e canais de venda, inclusive e-commerce.
Irregularidades apontadas
| Fato identificado | Consequência regulatória |
|---|---|
| Uso de extrato de Agaricus bisporus sem avaliação de segurança | Venda e uso suspensos até análise e autorização |
| Rotulagem que induz a confusão sobre a natureza do produto | Ajuste obrigatório de rótulo e identidade do alimento |
| Alegações de saúde não aprovadas (“controle de insulina”, “redução do colesterol”) | Proibição de propaganda e possíveis multas |
| Divulgação comercial ativa durante a investigação | Risco de sanções administrativas adicionais |
O que acontece com o Fellow Criativo
A empresa deve retirar todas as unidades do mercado. Não pode fabricar, distribuir nem realizar ações promocionais. Se descumprir, pode receber multas e outras sanções previstas em lei. O bloqueio segue até nova avaliação técnica e eventual regularização.
Recolhimento imediato, suspensão de propaganda e investigação do ingrediente: o ciclo só reabre com prova de segurança e rotulagem correta.
Comprei o produto: o que faço agora
Se você levou o Fellow Criativo para casa, aja com rapidez e guarde registros. Veja 5 passos práticos:
- Pare de consumir e separe a embalagem com o número de lote.
- Guarde a nota fiscal ou comprovante de compra para exigir reembolso.
- Contate o SAC da marca e peça orientações sobre devolução e ressarcimento.
- Registre reclamação no Procon do seu estado em caso de negativa da empresa.
- Notifique a Anvisa sobre eventuais efeitos adversos ou irregularidades percebidas.
Se sentir qualquer reação inesperada após o uso, procure atendimento de saúde e mencione o produto ingerido. Leve a embalagem ao serviço médico.
Por que o cogumelo virou alvo
O Agaricus bisporus é o cogumelo mais comum na culinária, conhecido pelo consumo in natura em receitas. Outra história é usar o extrato concentrado em formulações. Concentrações específicas podem alterar o perfil de exposição a compostos bioativos. Por isso, a legislação exige avaliação prévia para definir se o uso é seguro, em que dose e para qual público.
Sem aprovação, a marca não pode associar o produto a benefícios de saúde. Alegações como “controle de insulina” e “redução do colesterol” demandam dossiês científicos consistentes, metodologia adequada e análise por comitês técnicos antes de chegar ao rótulo.
Contexto: fiscalização de cafés no Brasil
A medida vem na esteira de ações coordenadas com o Ministério da Agricultura e Pecuária contra cafés irregulares. Em maio e junho de 2025, a operação “Café Fake” identificou marcas com impurezas e toxinas, incluindo ocratoxina A, substância indesejável acima de limites. Melissa, Pingo Preto e Oficial foram autuadas, com suspensão e recolhimento de lotes.
Esse histórico elevou a vigilância sobre produtos que prometem vantagens além do aroma e do sabor. O mercado de bebidas funcionais cresce, mas enfrenta regras rígidas para ingredientes novos e para o uso de alegações de saúde.
Como reconhecer um café regularizado
Sinais no rótulo
- Identificação clara do tipo de produto: “café torrado e moído”, “bebida com café”, “composto alimentar” ou equivalente.
- Lista de ingredientes completa e ordem decrescente de quantidade.
- Dados do fabricante: CNPJ, endereço, lote, validade e contato do SAC.
- Ausência de promessas terapêuticas ou de cura; qualquer alegação funcional precisa de autorização formal.
- Informações nutricionais alinhadas às regras vigentes de rotulagem.
Desconfie de mensagens que prometem controle de doenças, perda de peso rápida ou “regularização hormonal”. Produtos de café não substituem tratamento médico nem medicamentos.
O que muda para supermercados e lojas
Estabelecimentos devem retirar imediatamente o produto das prateleiras, do site e de anúncios. Canais de venda precisam orientar equipes e registrar o recolhimento. Falhas nesse processo podem gerar autuações. Bons varejistas costumam informar clientes que compraram o item, quando há cadastro, e facilitar a devolução com ressarcimento.
Impacto para o setor e próximos passos
Fabricantes que exploram tendências como “café funcional” precisam investir em testes de segurança, dossiês científicos e rotulagem transparente. A aprovação de novos ingredientes ou novas formas de uso demanda tempo e evidências reprodutíveis. O atalho do marketing, sem base técnica, cobra caro em recalls, multas e perda de reputação.
Para a Cafellow, o caminho para voltar às gôndolas passa por comprovar a segurança do extrato, corrigir o rótulo, retirar alegações não aprovadas e negociar um plano de regularização com a autoridade sanitária. Enquanto isso, a recomendação permanece: não vender, não divulgar, não consumir.
Informações úteis para o leitor
Quer avaliar se um produto com apelo “funcional” é confiável? Procure, no material do fabricante, a indicação de autorização para alegações de saúde e referências a estudos clínicos com desenho adequado, revisados por pares e condizentes com a porção indicada no rótulo. Desconfie de linguagem vaga, testemunhos de influenciadores e promessas amplas sem dados.
Para quem busca variar o consumo, uma alternativa é apostar em cafés de origem controlada e em métodos de preparo que preservam o sabor sem aditivos. A experimentação pode ficar por conta de cafés especiais, moagens diferentes e torras variadas, sem recorrer a substâncias não avaliadas. O foco volta a ser aroma, corpo e frescor – atributos que não dependem de promessas terapêuticas.


