Salões e consumidoras correm para revisar kits de gel após novas decisões sanitárias, com mudanças já no curto prazo nacional.
A Anvisa proibiu duas substâncias presentes em alongamentos e esmaltes em gel, com prazo apertado para retirada do mercado. A medida mira ingredientes ligados a risco de câncer e problemas de fertilidade, tema que também levou a União Europeia a agir.
O que muda para você a partir de agora
Quem faz unhas em gel, frequenta salão semanalmente ou vende produtos profissionais precisa ajustar a rotina. A agência barrou a fabricação, a importação e a concessão de novos registros de itens com TPO ou DMPT a partir da publicação da norma. Lojas e salões têm 90 dias para encerrar vendas e uso de estoques, com recolhimento obrigatório ao final do prazo.
Desde a publicação da norma, fica proibida a fabricação, a importação e novos registros de produtos com TPO ou DMPT.
O mercado tem 90 dias para parar de vender e usar estoques; depois, registros serão cancelados e haverá recolhimento.
Quais substâncias foram banidas
A decisão atinge dois ingredientes comuns em sistemas de gel fotopolimerizável e em algumas fórmulas de esmaltes em gel:
- TPO: óxido de fosfina difenílica com 2,4,6-trimetilbenzol (nome usual em rótulos: diphenyl(2,4,6-trimethylbenzoyl)phosphine oxide).
- DMPT: N,N-dimetil-p-toluidina, também citada como dimetiltolilamina (DMTA) em listas técnicas.
Essas moléculas atuam como fotoiniciadores ou aceleradores: elas reagem à luz UV/LED e “endurecem” o gel. Sem elas, o produto não cura corretamente. O problema aparece quando estudos indicam efeitos tóxicos relevantes associados à exposição repetida.
Por que TPO e DMPT preocupam
Estudos em animais indicaram toxicidade reprodutiva para o TPO, com potencial de afetar a fertilidade. Para o DMPT, a avaliação de risco apontou aumento de probabilidade de câncer. A diretoria colegiada citou o dever de adotar medidas preventivas, dado que existem alternativas no mercado e que a União Europeia já avançou na mesma direção.
Os maiores riscos aparecem com exposições repetidas e prolongadas. Contatos ocasionais tendem a apresentar risco muito menor.
Prazos, regras e fiscalização
O calendário anunciado segue o padrão de medidas sanitárias com fase de transição curta:
- Hoje: proibição de fabricar, importar e registrar novos produtos com TPO ou DMPT.
- Em 90 dias: fim do uso e das vendas de estoques por salões, lojas e distribuidores.
- Após 90 dias: cancelamento dos registros e recolhimento do que restar no mercado.
Empresas devem mapear SKUs afetados, ajustar fichas técnicas, reformular fórmulas e protocolar alterações regulatórias. Salões precisam comunicar clientes, separar estoques e substituir itens.
Como identificar no rótulo e no catálogo
Se você tem kits em casa ou atende clientes, vale conferir a lista de ingredientes. Nos rótulos, as menções podem aparecer em inglês (INCI) ou com nomes abreviados. Guarde esta referência:
| Substância | Para que serve | Risco apontado | Como pode aparecer no rótulo |
|---|---|---|---|
| TPO | Fotoiniciador (cura do gel sob LED/UV) | Toxicidade reprodutiva | Diphenyl(2,4,6-trimethylbenzoyl)phosphine oxide; TPO |
| DMPT | Acelerador/fotoiniciador em sistemas acrílicos e em gel | Risco aumentado de câncer | N,N-dimethyl-p-toluidine; dimethyltolylamine; DMTA; DMPT |
O que consumidoras e profissionais podem fazer já
- Converse com a manicure e peça a lista de produtos usados na sua aplicação.
- Cheque rótulos e fichas técnicas; procure TPO, DMPT, DMTA, ou os nomes químicos equivalentes.
- Prefira marcas que já anunciaram reformulações sem esses ingredientes.
- Se tiver sensibilidade cutânea, interrompa o uso de produtos antigos e observe a pele por 48 horas.
- Mantenha registro das marcas e lotes aplicados em cada sessão para facilitar rastreabilidade.
- Gravidez, tentativa de engravidar ou tratamentos de fertilidade pedem cautela redobrada e conversa com dermatologista.
Alternativas possíveis e adaptação do setor
O mercado já usa outros fotoiniciadores e combinações para obter cura eficiente sob LED. Algumas fórmulas empregam camforquinona (CQ) com co-iniciadores amínicos de menor preocupação regulatória, ou moléculas de nova geração com maior peso molecular, que tendem a reduzir permeação cutânea. A troca de fotoiniciador exige ajustes na curva de cura, na intensidade e no tempo sob a lâmpada, além de testes de adesão e brilho.
Para o salão, vale treinar a equipe: camada fina, tempo de cura adequado e evitar excesso de produto na pele reduzem exposição. O uso de barreiras, como películas protetoras nos dedos, também ajuda a limitar contato com a epiderme.
Como a decisão se conecta com o cenário internacional
A União Europeia já baniu TPO e DMPT em cosméticos por avaliações de risco semelhantes. Essa convergência traz previsibilidade para fabricantes globais, que tendem a alinhar fórmulas por região. A harmonização reduz o risco de desabastecimento, já que as marcas costumam escalar versões reformuladas em vários mercados ao mesmo tempo.
Perguntas diretas para levar ao seu salão
- Quais são os fotoiniciadores do seu esmalte em gel e do gel de construção?
- A marca já anunciou a nova fórmula para o Brasil sem TPO e sem DMPT?
- O salão controla lotes e datas de compra para retirar produtos em 90 dias?
- Quanto tempo de cura vocês usam para cada camada e para qual potência de lâmpada?
Sinais de alerta na pele e quando buscar ajuda
Coceira intensa, vermelhidão persistente, fissuras periungueais, ardência e inchaço após a aplicação pedem avaliação dermatológica. Reações podem se confundir com alergias a metacrilatos ou com irritação mecânica por lixamento. Leve fotos, descreva produtos usados e tempos de exposição. Isso acelera o diagnóstico e a decisão de suspender materiais específicos.
Impactos práticos para a indústria e para o varejo
Fabricantes devem revisar dossiês de segurança, reformular e rodar testes de estabilidade e desempenho. Distribuidores precisam mapear estoques por CNPJ e por lote para recolhimento. Varejistas terão que sinalizar a troca para clientes e cancelar pedidos pendentes de itens afetados. O custo de compliance inclui relabeling, logística reversa e comunicação com a cadeia profissional, mas abre espaço para portfólios mais alinhados às expectativas de segurança do consumidor.
Dúvidas frequentes
- Posso usar o que já comprei até acabar? A regra dá 90 dias para venda e uso de estoques, mas a recomendação de risco favorece a substituição imediata.
- O risco vale para uma única aplicação? A avaliação cita maior preocupação com uso repetido e prolongado. A decisão mira reduzir a exposição cumulativa.
- Fazer em casa muda algo? O risco químico não depende do local. Em casa, a ausência de técnica pode aumentar contato com a pele.
Informações complementares úteis
Quem trabalha com gel deve revisar a lâmpada: potência e espectro influenciam a cura e podem deixar monômeros residuais quando a luz é insuficiente. Monômero não curado aumenta irritação. Ajuste tempos conforme a orientação do fabricante reformulado. Registre os novos procedimentos em POPs internos.
Para consumidoras que gostam de alongamentos, uma alternativa é alternar períodos sem gel para reduzir carga química cumulativa e dar tempo de recuperação à pele ao redor das unhas. Técnicas como esmaltação tradicional de longa duração, que usam películas de reforço sem fotocura, podem cumprir a função estética enquanto o mercado conclui as trocas de fórmula.


