Dor nas costas derruba o seu dia e rouba seu sono? Novas soluções ganham espaço enquanto hábitos simples seguem valendo.
Clinicamente, a artrose na coluna pode limitar caminhar, trabalhar e dormir. A boa notícia é que tratamentos menos invasivos avançam no Brasil e já permitem retorno rápido às atividades, com menos dor e mais precisão cirúrgica em casos selecionados.
Dor crônica e artrose na coluna no Brasil
A artrose da coluna resulta do desgaste das articulações vertebrais e dos discos. O processo causa inflamação local, rigidez e dor que pode irradiar para pernas e glúteos. O quadro piora com sedentarismo, excesso de peso, tabagismo e jornadas com postura inadequada. Diagnóstico precoce e acompanhamento contínuo reduzem o impacto funcional.
O cuidado começa sempre pela via conservadora. Médicos indicam analgésicos, anti-inflamatórios, relaxantes musculares, fisioterapia, fortalecimento do core, perda de peso e ajustes ergonômicos. Muitos pacientes melhoram apenas com esse pacote. Quando a dor persiste e há compressão de nervos, entram opções minimamente invasivas, como infiltrações guiadas e endoscopia de coluna.
Como funciona a cirurgia endoscópica biportal
A técnica biportal usa duas incisões pequenas, em geral cerca de 1 cm cada. Em uma delas, o cirurgião introduz a câmera endoscópica de alta definição. Na outra, entra com instrumentos finos para remover tecido que comprime o nervo e descomprimir o canal vertebral. O campo fica ampliado e bem iluminado no monitor.
A abordagem biportal permite enxergar com detalhe estruturas delicadas, trabalhar com precisão e poupar musculatura e ligamentos.
Centros de referência na Ásia vêm treinando equipes do mundo todo, e equipes brasileiras já aplicam o método em casos de hérnia de disco, estenose do canal lombar e artrose facetária que provoca dor ciática.
Passo a passo do procedimento
- Planejamento com ressonância e tomografia para mapear o ponto exato da compressão.
- Duas incisões milimétricas sobre a área-alvo, com dilatação cuidadosa dos tecidos.
- Introdução de endoscópio e instrumentos por portais independentes, com irrigação contínua.
- Remoção do fragmento de hérnia e descompressão do forame ou canal.
- Checagem dinâmica da raiz nervosa, hemostasia e sutura simples.
Indicações mais frequentes
Médicos indicam a biportal quando há dor resistente ao tratamento conservador por mais de 6 a 12 semanas, com correlação entre sintomas e exames. As situações mais comuns incluem:
- Hérnia de disco lombar com ciatalgia e déficit sensitivo-motor.
- Estenose do canal lombar com claudicação neurogênica.
- Artropatia facetária com compressão foraminal.
- Recidiva de hérnia após cirurgia prévia, em casos selecionados.
Resultados e recuperação
O objetivo é aliviar a compressão nervosa e reduzir a dor com menor agressão tecidual. Muitos pacientes recebem alta no mesmo dia, caminham nas primeiras horas e retomam tarefas leves em poucos dias. O retorno ao trabalho de escritório ocorre, em média, entre 7 e 14 dias, conforme a evolução clínica.
Em boa parte dos casos elegíveis, a biportal reduz dor, necessidade de opioides e tempo de internação, sem ampliar riscos.
Reabilitação segue protocolo progressivo. O foco recai em mobilidade, estabilização lombar e fortalecimento de glúteos e abdômen. Atividades de impacto voltam apenas após liberação médica.
Quando o paciente volta à rotina
- Dirigir: geralmente após 7 dias, se a dor permitir movimentos seguros.
- Trabalho leve: 1 a 2 semanas, com pausas e higiene postural.
- Esforço moderado: 3 a 6 semanas, conforme resposta individual.
- Esporte de impacto: após 8 a 12 semanas, com treino supervisionado.
Comparativo de técnicas
| Aspecto | Cirurgia aberta | Endoscopia uniportal | Endoscopia biportal |
|---|---|---|---|
| Tamanho das incisões | 3 a 6 cm ou mais | ~1 cm | ~1 cm + ~1 cm |
| Visualização | Direta, com afastadores | Endoscópica em canal único | Endoscópica com instrumentos independentes |
| Sangramento | Maior | Baixo | Baixo |
| Internação | 1 a 3 dias | Ambulatorial ou 1 dia | Ambulatorial na maioria |
| Recuperação funcional | Mais lenta | Rápida | Rápida, com maior liberdade de manobra |
| Indicações | Casos complexos e deformidades | Hérnia e estenose selecionadas | Hérnia, estenose e recidivas selecionadas |
Riscos e limitações
Todo procedimento tem riscos. Entre os eventos possíveis estão infecção, sangramento, dor persistente, lesão de raiz nervosa, trombose e reoperação por recidiva. A técnica não substitui cirurgias de grande porte quando há instabilidade acentuada, deformidades importantes ou estreitamentos múltiplos extensos. A decisão nasce de avaliação individual com exame físico e imagem.
Quem pode se beneficiar
Pessoas com dor ciática que piora ao caminhar ou ao sentar por longos períodos e que já tentaram fisioterapia, medicação e infiltrações podem ser candidatas. Idosos com estenose e claudicação também entram no radar. Pacientes com doenças clínicas bem controladas toleram melhor a anestesia e o pós-operatório.
Prevenção e hábitos que protegem a coluna
- Perder 5% a 10% do peso reduz carga nas facetas lombares.
- Fortalecer core 2 a 3 vezes por semana estabiliza a lombar.
- Evitar tabagismo melhora nutrição dos discos intervertebrais.
- Alternar posições a cada 40 a 50 minutos diminui sobrecarga.
- Priorizar sono de qualidade modula a dor e acelera a recuperação.
Perguntas que você deve levar à consulta
- Meu exame de imagem explica minha dor atual?
- O que ganho com biportal em comparação à minha alternativa?
- Quais são meus riscos específicos e como reduzi-los?
- Como será meu plano de fisioterapia nas primeiras 6 semanas?
- Quando posso voltar a trabalhar e dirigir com segurança?
Informações complementares para ampliar sua visão
Termo para entender: estenose foraminal. É o estreitamento do “túnel” por onde passa a raiz do nervo. Quando o desgaste ósseo cresce para dentro do forame, a raiz fica comprimida e dispara dor. A biportal facilita o desbridamento preciso dessas espículas ósseas, preservando estruturas estáveis.
Exemplo prático de reabilitação nas 4 primeiras semanas: caminhadas curtas diárias, mobilidade de quadril, exercícios isométricos de abdômen, ponte curta sem dor e treino de levantar da cadeira sem impulso. O fisioterapeuta ajusta cargas conforme a irritabilidade do nervo. Se a dor irradiar após o exercício, reduza intensidade e retome de forma gradual.
Risco vs. benefício: quem adia a descompressão em presença de déficit motor progressivo pode acumular lesão nervosa e prolongar a recuperação. Já quem opera sem indicação clara corre o risco de não melhorar a dor. A balança certa surge quando sintomas, exame físico e imagem contam a mesma história.
Atividade complementar útil: treinamento respiratório e controle de estresse. Técnicas de respiração diafragmática e sono regular reduzem hipersensibilização da dor e favorecem um pós-operatório mais confortável.


