Bosque da Copel em risco? 5 torres de 8 andares e preços de R$ 8 mi: o que você acha em Curitiba

Bosque da Copel em risco? 5 torres de 8 andares e preços de R$ 8 mi: o que você acha em Curitiba

Imagens de IA reacendem debate urbano em Curitiba. Entre promessas de luxo e medo de perda verde, vizinhos cobram respostas.

Uma simulação visual divulgada pelo portal Grands por Bessa colocou o Bosque da Copel no centro de uma disputa de narrativas. O render mostra torres emergindo ao lado da mata nativa e provoca perguntas diretas aos moradores sobre o futuro daquele trecho valorizado da cidade.

O que a imagem mostra

A projeção criada com Inteligência Artificial foi montada sobre uma foto real do bosque. O objetivo foi traduzir, em linguagem visual, elementos repassados por uma funcionária de alto escalão da incorporadora associada ao terreno. O resultado viralizou porque confronta a versão que circula na vizinhança e em redes sociais.

Segundo a fonte corporativa, o plano considera cinco torres de oito andares, com implantação em área hoje sem vegetação. A solução, dizem, buscaria preservar e integrar a mata existente ao conjunto. Os prédios teriam frente para a Rua Padre Agostinho, zona tradicional da capital. Não há projeto aprovado.

— 5 torres de 8 andares, e não 21.
— Obras previstas em área sem vegetação do bosque.
— Valor de cada unidade acima de R$ 8 milhões.
— Acesso e fachada voltados à Rua Padre Agostinho.
— Etapa atual: sem aprovação formal na prefeitura.

Um detalhe chamou atenção: a simulação exibiu seis blocos, não cinco. O próprio portal reconheceu o acréscimo acidental do modelo gerado pela IA, reforçando que se trata de uma aproximação, não de um projeto executivo.

Quem está por trás do terreno

O que diz a Copel

A área do antigo Centro de Operação da Geração e Transmissão (COGT), desativado em dezembro de 2022, foi alienada. A edificação conhecida como Chapéu Pensador ficou com a prefeitura de Curitiba por doação vinculada a instrumento de parcelamento do solo, com base na Lei Municipal nº 14.771/2015. A Copel afirma que o cumprimento das exigências urbanísticas e ambientais cabe ao atual proprietário da gleba.

O responsável pela captação

O advogado Everson Talgati, ligado à gestora IF e à ABTN Partners, responde pela área alienada e atua na atração de investidores. Procurado, preferiu não comentar.

Vizinhança reage

Desde a revelação das tratativas para transformar parte do bosque em condomínio de alto padrão, moradores organizaram faixas, mobilização em grupos e articulação política. O grupo de WhatsApp “Fica Bosque da Copel” recolhe assinaturas e coordena ações de pressão para que a totalidade da área vire zona de preservação.

Parlamentares de oposição na esfera municipal e estadual passaram a vocalizar críticas. Os argumentos concentram-se em três eixos: proteção da vegetação, efeitos urbanos na região e transparência do processo de análise na prefeitura.

  • Tráfego: impacto potencial sobre fluxos na Padre Agostinho e vias de ligação do bairro.
  • Ambiente: manutenção da permeabilidade do solo e corredores ecológicos da mata nativa.
  • Sombras e vento: mudanças microclimáticas nas quadras vizinhas.
  • Serviços: pressão sobre vagas, segurança, zeladoria e drenagem.
  • Acesso público: uso social do bosque versus áreas privadas de condomínio.

O que já se sabe e o que ainda é suposição

Ponto Informação apurada Boatos Situação
Número de torres 5 edifícios 21 pavimentos em torres altas Sem projeto protocolado
Altura 8 andares por torre Empreendimento verticalizado fora do padrão Definição sujeita a licenciamento
Local da implantação Área sem vegetação do bosque Supressão ampla de árvores Dependerá de laudos e autorização
Preço Unidades acima de R$ 8 milhões Vendas iniciadas Captação de investidores em curso

Regras, licenças e prazos: o caminho institucional

Sem projeto aprovado, o trâmite natural inclui protocolo na prefeitura, análise de uso do solo conforme o Plano Diretor, estudo de impacto de vizinhança, eventuais estudos ambientais e audiências públicas. O licenciamento costuma seguir três etapas clássicas quando há componente ambiental: licença prévia, de instalação e de operação. Cada fase exige condicionantes, medidas mitigadoras e compensações.

Um empreendimento desse porte envolve debate sobre coeficientes de aproveitamento, recuos, taxas de permeabilidade, gabarito de altura, acesso viário e capacidade da infraestrutura. Se a incorporação prometer integrar a mata, terá de comprovar manutenção, passagens, cercamento adequado e plano de manejo, sob pena de travar o processo.

Sem aprovação, a imagem gerada por IA cumpre um papel: ela estimula o escrutínio público e pressiona por transparência.

Dinâmica imobiliária e efeitos no mercado

A etiqueta de preço acima de R$ 8 milhões coloca o produto no topo do segmento de luxo. O perfil de comprador tende a buscar metragens generosas, serviços de alto padrão e privacidade. A vizinhança, por sua vez, sente os efeitos de expectativa: valorização especulativa de terrenos próximos, pressão sobre aluguéis e mudança de perfil comercial.

Em bairros consolidados, projetos premium introduzem padrões de fachada, exigem qualificação do passeio público e, quando bem condicionados, agregam fruição urbana com praças, arte e iluminação. Sem contrapartidas, geram enclaves e conflitos cotidianos de circulação.

IA, percepção e disputa de versões

Renders costumam influenciar emoções. Ao ver torres, moradores constroem imagens mentais sobre sombra, trânsito e perda de verde. A ausência de peças oficiais abre espaço para visualizações paralelas. Isso alimenta movimentos de bairro e pressiona investidores a serem mais claros sobre cronograma e compromissos socioambientais.

Projetos que adotam comunicação aberta reduzem ruídos. Divulgar estudos, maquetes físicas e simulações de tráfego ajuda a qualificar o debate e diminui a sensação de surpresa.

Como o morador pode acompanhar e participar

  • Verifique publicações de licenciamento e convocações de audiências públicas no órgão municipal de urbanismo.
  • Solicite, via canais de transparência, acesso a estudos de impacto quando forem protocolados.
  • Organize contribuições técnicas com associações de bairro, arquitetos e biólogos locais.
  • Registre demandas objetivas: calçadas acessíveis, travessias seguras, iluminação e permeabilidade.
  • Anote compromissos firmados, prazos e condicionantes para monitorar o cumprimento.

Uma simulação hipotética para dimensionar efeitos

Sem projeto oficial, números finais permanecem desconhecidos. Para efeito de cenário, imagine ocupação de luxo com poucas unidades por pavimento, garagens amplas e áreas comuns exclusivas. Esse desenho reduz adensamento demográfico, mas mantém forte impacto viário por automóvel, exigindo gestão de acessos, rebaixamentos e rotas de serviço. Qualquer eventual supressão de vegetação exigiria compensações, reposição de mudas e monitoramento por anos.

Se a implantação realmente se limitar às clareiras existentes, a discussão migra do “se vai ter obra” para “como a obra conviverá com a mata”. Esse é o ponto em que condicionantes urbanísticas e ambientais fazem diferença no cotidiano do bairro.

Pistas para o que vem a seguir

O movimento comunitário tende a sustentar a pressão por tombamento parcial, transformação em área de preservação ou, ao menos, por um parque público robusto associado à incorporação. Investidores, por sua vez, devem calibrar o escopo para reduzir conflito, mostrando soluções paisagísticas, passagens de pedestres e sistemas de drenagem de alto desempenho.

Enquanto o dossiê não chega às mesas de aprovação, a imagem de IA permanece como gatilho do debate. Ela não substitui desenho executivo, mas já obriga todos a discutir o essencial: qual cidade os moradores querem para a Rua Padre Agostinho e para o Bosque da Copel.

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